Pedras
Nei George Prado
há muito que aprender com as pedras
as rosas falaram demais
e inutilmente
a pedra bruta
a pedra muda
de olhar imbecil
sim. Esta mesma
as rosas não mais atraem
e atrair não dá passagem ida-e-volta com despesas pagas a ninguém
nem atrair nem dizer
mas deixar que o mutismo
de uma rocha
seja por si só – sua postura de pedra
tudo aquilo que as rosas em vão
tentaram murmurar
com abraços e tapinhas no ombro
com olhar alcoviteiro
nem abraços
que as rochas não abraçam
é um calor pedra
que petrifica o abstrato de um anseio
nem masturbar anseios
dizendo que é poesia
a pedra não cobra cachê
nem anseio
a pedra sabe a direção
sua arma – esse mutismo, essa estaticidade
na beira da estrada
espreitando
insuspeita...
os idiotas, esses que trazem uma flor à mão
que girem ao seu redor
procurando o sanitário
onde fica tal seção
tal rua... etc. e tal
a estrada afinal
é livre...
Salvador,
11-09-82