“Eu sei que você não empresta pra ninguém, então vumbora ali
comigo levar um pessoal.”
Era Hugão, no seu jeito de apressado. Avistei de longe as duas meninas com bolsas e
mochilas, com quem ele tratava algum
negócio: uma, a branca sem encanto no traje mas jovem, Chocolate batido ao leite - fui logo astuciando apelido; a outra, por ser escurinha, Diamante Negro, mais caprichada de corpo num short jeans. Em comum, ambas carregavam na pele a
nobreza do chocolate. Nhoc.
Firmáramos num papo ali no bar, mas eu sempre de sobressalto
com Hugão. Ele era um vendedor de
produtos do Paraguai, muito esperto, aceso com as coisas. Meti-me com ele por
causa de uma antena prarabólica
de TV, que ele ficou de consertar e eu acabei perdendo o dinheiro, mas
ganharia um amigo.
E ele, que não sabia dirigir carro, mas apenas, por incrível
que pareça, motocicleta, agia com seu jeito de precipitado, mais
perigoso: “Pare aqui pra elas entrarem. Vumbora. Vumbora” – dizia as às garotas
e virava-se pra mim: “Agora vá direto e pegue a pista, pegue a pista à direita!”
“O que queria mesmo, Hugão?” Seria uma carona para aquelas
meninas, conchavo dele nos seus negócios, namoricos ou coleguismo? Iria
deixá-las num ponto de viagem, com aquelas mochilas? Meu fusca seguia
religiosamente as instruções de Hugão, num ritmo dele, como se guiasse motocicleta.
“Entra aqui! Entra aqui!”
Quando menos esperava era muito de conhecimento aquela estradinha. Oxente, era um motel! Que queria Hugão ali
com as duas garotas? Foi quando caiu a ficha. Mas ele tinha que ter me falado
antes. Hugão numa das suas. Nem sabia
qual dos chocolates era minha preferência.
E eu sem entender nada, mas me preparando, se é que podia, diante das
circunstâncias, falar em preparo.
“Anda logo, porra!”
Tinha que eleger uma no seu ritmo. Ambas chocolates. Como
podia em meio a tanta confusão?
Soltei a branquinha e fiquei de olho nas pernas do Diamante
Negro que Hugão abarcava adiante, no corredor.
“Ei! Vou fIcar com essa daí, Hugão”, gritei no estalo.
Mais que ligeiro, estilo Hugão, ele liberou pra mim a garota:
- Ô porra, veja se
decide logo!
Depois falou no meu ouvido:
- Depois a gente faz a troca.
Peguei meu “crocante” e embocamos no quarto. Como última
imagem, eu via Hugão bater a porta em frente, arrancando blusa, nos seus atos
preliminares, de braços com a barra de chocolate “galac”, que iria saborear lá para
dentro. No seu estilo.