domingo, 23 de agosto de 2015

Pedras


Pedras 

Nei George Prado

há muito que aprender com as pedras
as rosas falaram demais
e inutilmente

a pedra bruta
a pedra muda
de olhar imbecil

sim. Esta mesma
as rosas não mais atraem
e atrair não dá passagem ida-e-volta com despesas pagas a ninguém

nem atrair nem dizer
mas deixar que o mutismo
de uma rocha
seja por si só – sua postura de pedra
tudo aquilo que as rosas em vão
tentaram murmurar
com abraços e tapinhas no ombro
com olhar alcoviteiro

nem abraços
que as rochas não abraçam
é um calor pedra
que petrifica o abstrato de um anseio

nem masturbar anseios
dizendo que é poesia
a pedra não cobra cachê

nem anseio
a pedra sabe a direção
sua arma – esse mutismo, essa estaticidade
na beira da estrada
espreitando
insuspeita...

os idiotas, esses que trazem uma flor à mão
que girem ao seu redor
procurando o sanitário
onde fica tal seção
tal rua... etc.  e tal

a estrada afinal
é livre...



                                                           Salvador, 11-09-82