Você desperta no meio da noite e vê alguém colocando dropes na sua
boca, Para alterar, calcula logo você, o hálito deixado pela cachaça do dia.
Sua aquiescência, num mútuo entendimento de complacência, era então com um
beijo de agradecimento pelo providencial gesto.
Chancelava-se assim o
encontro casual que tivera com aquela moça de trinta e poucos anos. Não cansava
de apreciar aqueles olhos verdes, Tal postura, ainda que não fosse, tornava
convidativos o rosto e o resto.
Foi numa roda de
amigos em mesa de bar que conseguiu engatilhar esse flerte. Em tese, ela seria
de Murilo, ao seu lado. Mas a ordem se alterava para quem estava numa
bebedeira desde cedo. Murilo só dava risadas enquanto a perna dele, Edu,
se comunicava com as coxas de Neuza por debaixo da mesa. Podia puxar o
automático do sábado e deixar correr, escorregar-se em delícia.
O trabalho para
driblar Murilo e estar em aconchego com ela não foi fácil. Houve costura por
dentro e por fora:
- E Murilo?
- Acho que ele não
estava muito a fim.
Era areia demais para
o caminhão dele – pensou em dizer. Ela adivinhava seus pensamentos e buscava
melhor posição para o corpo na cama. Segundo soube da coleguinha ela estava
sofrendo feito o cão numa região de Minas e tinha prazo para voltar, presa a
contrato, como se fosse uma atleta. Só ia resolver a situação de família e
cascar fora, que o clima não era dos bons.
- Problema de
dinheiro, e?
- Também – ela disse,
tristezinha.
Ficou preocupado com
o que prendia a moça em Minas, A coleguinha dera a entender que era uma
dívida que não se pagava. “Como assim? Isso não existe”- pensou Edu.
´- Aprendi que para
enfrentar um problema devo esperar ele entrar no meu raio de ação. Depois vou
comendo pelas beiradas até ficar o oco – explicava agora a Neuza, com o ar
refrescante de menta. - Nada de tristeza, Neuza.
- É, mas meu pai tem
que pagar o banco. Comece por aí.
- E depois?
- Depois tenho quer
acertar com Valdir lá em Minas.
- Assinou alguma
letra em Minas?
- Assinei nada,
- Medo do que então? - Edu fez
cara de deboche,
- Então não vou poder
voltar pra lá,
- Não volte. Resolvido – disse Edu,
apertando o abraço.
- Agora temos o
banco.
- Espera. Um dia vem
uma mudança ou até lá o cavalo aprende a falar.
- Pai nem sabe de mim
em Minas. Preocupação é o banco.
- Em último caso, querida, resta tocar um tango argentino.
Nesse dia, apagaram a
luz e foram dormir. Neuza sentiu firmeza. Bem que a vida podia ser suavizada.