Você é
criança. Uma mão de menina em sua mão. Cantiga de roda ou um carnaval de
crianças. Aquela mão ali na sua mão. Você ainda não sabe dizer se ela é bonita
ou feia. Você sabe dizer que é bom aquele enlace. Para o resto da vida.
Eu estava
tomando uma com os amigos num barzinho de sempre, quando, sem que me desse bem
por isso, a um canto do balcão, me vi com uma senhora que ali fizera
compras e comigo ficou numa prosa em que não cabia mais ninguém. Aos olhos dos
companheiros eu já devia estar meio andado nas cervejas: Nei George com
aquela mulher judiada; coisas dele.
Coisas
minhas:
- Por onde
você andou?
- Moro aqui
há muito tempo.
Falou o
nome do bairro. Mas nosso assunto era outro.
- Você se
lembra?
- Me lembro
sim, e te vejo sempre por aqui, mas nunca pensei que você viesse falar comigo.
Não quis
perguntar muito sobre sua vida, que imaginei em sua aparência de mulher
sofrida, em contraste com que me apresentava, para meio espanto dos que em
volta reparavam em nosso diálogo.
- A imagem
que eu tenho sua ainda é aquela; custou um pouco te descobrir depois de tanto
tempo.
- Pois eu
sempre te vejo aqui com amigos.
- Cadê o
colar?
Ela deu um
sorriso de nostalgia mostrando ausência de alguns dentes, com a mão em socorro
imediato:
- Oh, meu
Deus; eu tinha roubado de minha prima minutos antes de brincar com você.
Eu devia
ter uns nove ou dez anos, e a mãozinha dela encontra até hoje aquecendo a
minha, com aquele colar que ela disse ter “roubado” da prima naquele
Carnaval de 1971.
Por isso,
ninguém entendia Nei George; mas notei que o garçon, que me viu levar sua
freguesa até a porta de saída, com um olhar prolongado nos seus passos com
tentativa de elegância, chorava:
- Ô doutor,
apanha do marido feito o cão...
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