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considerada
simples embrecho pela família, sua namorada avisa de sua chegada no feriadão, e
isto o levaria a um desconforto.
Sempre que convocado, um incômodo se lhe disparava
por inteiro. Ora com roupa, ora com falta de grana, ora com nada, incômodo
simplesmente. Questão Íntima que, desde há muito, como um assombro, já o
perseguia. Tinha que andar com esse desconforto. Afinal, provisório,
calculava-se. E a coisa ia prosseguindo. Até esse impasse como agora. Que
rumo tomar? Ela falou que viria passear no feriadão. Que esperasse. Era doida,
era? Como que iriam encarar esse recente namoro? Ainda mais que a mãe,
nas vezes que o tinha visto com ela, nas férias, no interior, tomou-o como
simples paquera, com uma observação, que era uma sentença:
- Essa é moça pra casar.
Como se fosse para ele desocupar, nem passar
perto. Ela, moça feita, ele nem terminara o ensino médio, moleque.
Um avião de moça, graúda, não ia deixar passar para mãos alheias, se era para
casar, pois então... E abraçava aquela beleza de corpo. Como se fosse
dele. Misto de proibido e sagrado. Diferença de idade, casamenteira,
essas conversinhas, sustentava a torcida contra. Como se fosse.
- Gol bonito! - ela vinha para o abraço, invadindo
a quadra na hora que fazia um gol, nas tardes de “babas”.
- Obrigado, Tesouro.
Iria chegar. Vinha para casa de uma amiga que
também morava na Capital. Ainda bem. Imagine se fosse para ficar na casa deles,
ele, um adolescente, e irmãs, a mais velha de brigas com o marido. Não
dava para encarar. Ela na maior inocência. Como iria ser essa vinda? Não
adiantavam mais subterfúgios. Era o mundo se acabando:
- Os pais não ligam mais pra ela não?! Ou soltaram
a moça assim?!
- E esse povo de hoje obedece a pai? Mas qual,
gente!
Era o que se colhia das conversas em volta na casa
durante as férias no interior. E essa menina queria conhecer a Capital com o
namorado, ôxe. Que maravilha! Que que tinha? Mas ela era moça de curso médio
terminado e juventude explodindo pelos poros. Iria enfrentar vestibular, daí a
negativa dos seus pais, que via ali uma paquera de verão apenas, sem passar
adiante. Imagine, moça pronta, não estavam vendo!
- E bonita, a danada.
Uma pegação do corredor à porta da rua, que
ganhavam, mordendo em revezamento uma maçã.
- A vida é assim – dizia a moça graúda entre beijos
que levava.
- Se não for, faça de conta – respondia Gustavo.
- Esses meninos... –
dizia-se.
E se dizia mais, a valer, quando avistaram uns aluninhos
assustados com um garoto que chegava e, hora de recreio, abraçava a professorinha
deles.
Quando a envolvia nos braços, sentia seu
tipo, energia escapando pelos lados, então mergulhava nessa maciez de perdição.
Exalava à profundeza, uma conexão antiga. Desse relacionamento, miúdo mas
constante, criou-se uma áurea, que só eles enxergavam, e daí um outro
mundo. Deles. Muito distante. Eles sabiam, por isso que
tocavam o barco ao sabor do vento. A qualquer instante a pausa para
esclarecimento, que se fazia silenciosamente e por telepatia.
Como é que receberia essa moça? O que mostraria a
ela? Pegaria um cineminha e tal? Alguém telefonaria para a mãe para dizer? As
tias com a velha prosa de que o pai cortaria o carro que prometera? O mundo
desabando: sua fragilidade escancarada. Como a normalidade iria voltar nos
raios de uma manhã explicativa?
Embaraço? Não queria estar presente, como de fato
não esteve. Premido pelas circunstâncias, a salvação acabou sendo a viagem que
fora forçado a fazer para o interior naquele dia, fugindo do psicopata do
cunhado, que andava às voltas com separação da irmã.
- Você não estava lá, nem suas irmãs, e tinha um
homem doido pela casa.
- Ele fez
alguma coisa com vocês?! – gritou Gustavo.
- Não. Nós caímos fora.
Ufa!
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