Ítalo
Ítalo era um menino de
hábitos urbanos periclitando pela roça, lugar de vegetação vária, caminhos
íngremes, riachos, córregos, grotas e até cachoeiras.
Por isso, na fazenda do
pai, confiava sua segurança ao menino filho do vaqueiro. Assim, terminada a
talhada de melancia, cuidavam de ir pelos campos abertos em frente, com mata
fechada mais ao fim e prosa infantil de perguntas e respostas:
- Ali tem gado brabo?
- É só rodear o curral
e passar beirando a cerca que não tem não.
- Tem pé de umbuzeiro do outro lado?
- Tem. Nós vamos até
lá.
Ítalo imitava a
destreza do menino ao pular cerca, abrir cancela, tirar o pau da porteira, dar
mergulho rápido no córrego e se refrescar. Só faltava carregar também um
estilingue no pescoço. Sim, simpatizava com Neném. Ainda mais que ele acertou
uma pombinha, de longe, numa só estinlingada. Tirava umbu de vez no lugar de
difícil acesso:
- Esse! – apontava com
o indicador Ìtalo.
- Tome! – ofertava
Neném.
Brincaram um bocado. Na
lagoa, pegando corrida no mergulho, chupando frutas, entre os carneiros que
havia pelos prados, até o escurecer ao
cair da tarde, quando, com o berreiro dos bichos e farfalhar das árvores,
chegava aviso de ir embora.
- Vamos, Neném!
E Neném encabeçava,
seguia comando do seu futuro patrão, a quem dera fruta no ponto de morder, umbu
inchado e maduro, e com quem disputara mergulho no córrego.
Mas agora, nessa tarde,
no caminhar de volta, notava que Neném ia ficando meio recanteado.
- Vamos pelo fundo,
Neném, que a gente pega a estrada adiante e acaba conhecendo mais a mata e acha
outros umbuzeiros,
Neném se manteve calado
mas firme como se tivesse passado o posto de comando e ficado de prontidão para
eventual socorro. Pelo menos esse foi o entendimento de Ítalo, que mais ousado
ainda se tornou.
- Vamos por aqui, que
tem uns pés de umbus e árvores bonitas.
Saltaram a cerca e
caíram numa mata sem uma nesga de sol, na qual foram adentrando tangidos por um
enxame de abelhas. Longe, ouvia-se um berro do gado recolhido no curral perto
da casa. Havia nesse berro prenúncio de uma noite iminente e fria. Conseguindo
se desvencilhar das abelhas por entre árvores que faziam ofuscar a capoeira, Ítalo
ergueu-se à procura do companheiro, que, para seu espanto, chorava. Como a um
neném; o estilingue esquecido no pescoço
mostrava que ele era apenas um meninão
com medo de escuro sem nenhuma magia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário