sábado, 26 de abril de 2014

Violão




violão sobre o sofá
mulher nua
estendida
é só saber dedilhar
caminhos de sonho e conforto
aproximação com os deuses
o infinito
fica aqui

domingo, 20 de abril de 2014

O compositor




eu fiz uma canção
gravei em Studio
arranjos
etc e tal
e fiz recomendações
às rádios locais
oh que felicidade a minha
tornou-se a música mais tocada
não nas rádios
mas no som do carro de
meus pais


CANDIBA-BA, 20/04/2014.

Seu Zé




Tinha um boteco com placa de Fiado só amanhã, só que todo mundo ali comprava fiado. Achou bacana, melhorou a decoração depois com outra placa mais trabalhada, Proibido Fumar; só que todo mundo fumava assim mesmo, inclusive os não fumantes. Seu Zé tirava onda de bravo, essa é que era a verdade. Gente boa mas começou a andar meio fraco da memória, no dizer, porque estava tudo dentro da normalidade.

Era estabelecimento misto de comércio e residência. Quando ele tinha alguma coisa lá dentro, dona Mocinha ficava no balcão.

Arlindão habitualmente comparecia para tomar seu bacardi com coca-cola e participar do zumzum que rolasse.

Mas naquele dia parece que seu Zé variou da idéia. Arlindão, enquanto conversava previamente com os presentes de costume, voltou-se para bicar no balcão seu copo de cuba libre e acabou por entrar em estranheza com seu Zé, com cara de respeito mas de protesto:

- Ei, seu Zé, o senhor se esqueceu de botar o bacardi; só tem coca.

- “Botiei”, meu filho; que eu “botiei”, “botiei”. Não “botiei”, Mocinha?

Ora, dona Mocinha teve a formação que a geração da mãe da gente teve, daquelas que morrem com o marido mas morrem atirando, daí a resposta:

- “Botiou”.

- Não falei?

Dois a um contra Arlindão.

- Botou não, seu Zé – e provou a bebida demoradamente no sorver, movimentando os lábios. – Só a doçura do refrigerante sem o rum.

Como dona Mocinha era suspeita, estendeu o copo aos demais para uma perícia rápida e emissão de parecer.

- Não botou não, seu Zé.

Passava para outro:

- Botou não, seu Zé.

O terceiro apenas sacudiu a cabeça negativamente. Seu Zé, gente boa mas dos antigos, que não dava o braço a torcer, não mais esperou outro parecer, pegou o litro de bacardi para completar o copo de coca-cola e dizer:

- Que eu “botiei”, “botiei”; vai ficar forte.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Crônica da morte anunciada de Gabo




Vinha acompanhando pela imprensa. Cheguei a adquirir e ler o primeiro volume do seu livro de memórias. Depois recebemos a notícia que o segundo volume poderia não sair porque ele não estava bem de saúde.  Tinha lido antes, como preliminar, o livro Cheiro de Goiaba, em que a gente já fica sabendo muita coisa, depois de ter saboreado vários contos inesquecíveis que ele nos presenteou, para que conheçamos melhor a América Latina e o mundo.

Cem Anos de Solidão, obra com que ficou mais famoso, é apenas um livro grosso (mundo ficcional) do que já havia escrito no gênero contos. Gabo era antes de tudo um contista de mão cheia. Talvez o maior escritor do nosso continente, merecedor do prêmio Nobel, que alcançou.

Adolescente, com prazer, nos anos 70, obedeci à moda, li Gabriel Garcia Márquez, e depois para o resto da vida. Ninguém escreve ao Coronel, Gabo, e eu escrevo agora para você – Vá com Deus, e obrigado pela obra que você nos deixou.

domingo, 13 de abril de 2014

Água Viva


Para o garoto Marcos Vinícius Ribeiro Alves (Gelas)


o mundo é maior do que você imagina
e por isso não se encontra ao alcance
de sua retina
senão se de olhos para dentro
talvez lá se descubra o que está de fora e você não via

existe um brotar constante
de água cristalina
feito cachoeira
veja à sua beira
e confira

o mundo é maior do que você imagina
não é seu nariz
não é seu umbigo
é corpo inteiro
que rima
crescente
com o que está acima
um segredo
que você deve espalhar
para todo o mundo

que é maior do que você imagina
Crepúsculo no bairro Sto. Antônio, em 17/10/2012

sábado, 5 de abril de 2014

O ator José Wilker morre num sábado que se atrapalhou




Vadinho de Dona Flor e seus dois maridos morreu mas continuou
com Dona Flor
mesmo ela casada com outro
Roque Santeiro morreu e
apareceu
José Wilker, grande ator brasileiro
televisão, teatro e cinema
interpreta agora um outro papel
num sábado que se atrapalhou
e o sábado foi feito para o homem
e não o homem para o sábado
por isso, José Wilker
você continua tal qual Vadinho
na lembrança e nos corações
de quem conheceu sua arte
que tanto nos encantou

05.04.2014