sexta-feira, 31 de julho de 2015

O problema é que amanhã é hoje

2.
o problema é que amanhã é hoje
e você não terminou de escrever o poema
não lançou o livro
não passou da primeira página da obra de Marcel Proust
não cumpriu os combinados
não comeu a menina
não visitou os velhos
não viajou para a Europa

o problema é que amanhã é ontem
e um carro buzina lá fora
você não retocou a maquiagem

21.07.15


Nei George Prado

sábado, 18 de julho de 2015

1,

como se as crianças estivessem de volta da escola
a mãe lá para dentro
cuidando do almoço
como se o almoço mantivesse o feijão com o arroz
como se lá fora
gritasse o bêbado de sempre
para pedir umas moedas
como se as moedas estivessem esperando
por ele
como se fosse um domingo
sem perspectiva de uma segunda-feira
como se aparecesse de repente a visita de um parente
sem delongas
como se o carteiro entregasse correspondência
como se o vizinho tirasse o carro da garagem
como se no bar da esquina se encontrasse a mesma turma
...
16/07/2015.


Nei George Prado

terça-feira, 14 de julho de 2015

vou pelos caminhos

vou pelos caminhos
que eu nem sei se traço
ou troço
você podia dormir comigo
acordar
sem corda
só a do violão
escondida
recurso

amanhã nós fumaremos
às sós
o mundo se tornou uma internete
ete é pequeno
dentro do grande

seu shorte é melhor
vamos amanhã colher uma maçã
no meu quintal
que não tem maçã
mas a gente inventa
                                 
Nei George Prado         


15/07/15

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Letra de música

ONDE TODO MUNDO É LEGA
SEU CIGARRO SE ACENDE
SEM PRECISAR DE PRESSA

ONDE TODO MUNDO É LEGA
SEU CIGARRO É COMPARTILHADO
PORQUE NINGUÉM MAIS RESTA
NESTA DANÇA HIPÓCRITA
DA SOCIEDADE IDIOTA
QUE ESTAMPA SEU RETRATO

COMO O CARA

ONDE TODO MUNDO É LEGA
SEU CIGARRO SE ACENDE
SEM PRECISAR DE PRESSA

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Amor de gatos



O gato cheio de tesão e a gata, dormindo (friozinho de nosso inverno) em minha caixa de papelão repleta de importantes papéis, não quer. Ele veio, desaparecido que estava, e a filha da mãe, feia, tirando onda de difícil. Aquele nhenhém de gatos. Eu já tinha passado por isso, então chamei os dois à ordem e eles pararam para me ouvir e depois retornaram ao negócio; ela negaciando com o rabo:

- Pare com essa presepada – falei ríspido com Ferrugem, seu nome, -  e dê a ele, que andou sumido; você já está gata velha e é tia dele.

Fiquei matutando. Ele andou por lá e não achou nada e vai daí que se lembrou de uma tia feia que não saía de casa e que podia socorrê-lo em sua necessidade.

- Dê a ele, melhor do que aos tranqueiras que você andou arrumando, parindo e negando cuidados aos filhotes.

Acho que ela entendeu mas acabou, no bem bom do gato, saindo num apressado de terror. Dizem, no entanto, que entre eles é assim mesmo. Que seja. Fiquei com pena foi do gato vermelho procurando posição para a pata direita na hora do vupvup.
02.07.15