Nada mais podia
esperar de um jovem universitário de dinheiro contado. Antes de sair para
faculdade fizera separação da verba nos bolsos. Um para as cachaças, bolso
traseiro. Outro, separadinho e dobrado, para uma emergência. Que podia ser uma
garota, se encontrasse de jeito. Como não parecia uma idéia remota mas em
perspectiva, arreou seu cavalo e, livros acomodados ao elastic no banco traseiro da moto, deu partida da faculdade,. Tudo certinho, como mandava o
script de um estudante classe média. Garoto bonito, dever de casa em dia, tinha
um oceano de vida a percorrer de braçadas.
E era
exatamente ali, no espaço local. que o tempo e o personagem se achavam.
Disparava o apito dentro de si, nos seus 20 anos, quando viu completar o quadro
com a normalidade de uma chuva fina. Havia promessa de uma noite aconchegante.
E tudo levava a crer num momento de exclusividade do ego. Olhou para seu cavalo
ao lado. Então pegou no guidão da sua HONDA - CG 125, presente de pai, e a
deixou estacionada debaixo da marquise ao lado de um hotel. Ficou apreciando
seu cavalo, enquanto retirava os livros com cuidado. Tinha atravessado o
Rubicão.
Nesse
instante, vinha caminhando na busca de uma proteção uma trôpega garota.
- Ei, amor,
vamos dormir um pouquinho e esperar a chuva passar? - arriscou a cantada.
Ela aceitou
facilmente como se quisesse dormir e encostou seus cachinhos no peito de
Eduardo. Ele guardou os livros na portaria e recomendou ao porteiro a moto ali
estacionada.
- Ei, vamos curtir a
chuva na cama – disse no entusiasmo.
Contente com a
cabeleira dela encostada no peito, Eduardo aceitou o afago e subiu as escadas
abraçados. O nome dela via-se depois.
Nem o nome e nem como
se processou o encaixe das coisas conseguiu Eduardo naquele momento de ego.
Demorava a magrinha no seu trabalho de esfregação. Tanto que tendo que ir, por
suposição de haver passado a chuva, cuidou de resolver mesmo a seu modo e
finalizou o que parecia esperar por uma eternidade. Ainda chegou a dizer “vou terminar por hoje, amor, que eu
tenho que ir. Você pode ficar dormindo mais um pouco, que eu falo lá embaixo.
Seu dinheiro eu deixo aqui na cômoda. Está bem, Baby?” – disse com um
beijo nos cachos.
Lá fora, o cavalo pronto
para receber seu general em mais uma batalha, a principal. Primeira vez era
assim, de ar renovado, fotografou com o olhar a cidade lavada, ciente de que
era o homem pisando a lua:
- A garota vai dormir mais um pouco – disse ao porteiro, arrumando os livros na traseira e acionando o pedal.
Deu duas sopradas de despertar cemitério e saiu numa rasgada no
silêncio da rua Carlos Gomes.
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