segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Tamanho GG


Deu-se que Beto despertou num barzinho de subúrbio, música ao fundo, mesa bem representada por uma bancada feminina, cerveja gelada, cheiro de churrasquinho, tudo arrumadinho e com a garota Cida, em destaque, como coisa perfeita com texto de grafia com tipo aumentado para além do corpo 12:

- Diga aí, Gato!

- Sente aqui, Cida. Com você, eu abraço o mundo.

Beto gostava de abraçar uma enormidade boazuda, como estava Cida, que, encontrando acomodação nos seus braços, concordava como encaixe para aquele sábado.

- Hoje, o dia é grande! – foi dizendo Beto.

- E sagrado – completou Cida.

Ditado o rito, entendia Beto que o papo se estenderia com a cerveja:

- Mais uma aqui para nós, garçom.

Cada movimento tinha um beijo que roubava de Cida.

- Estou me sentindo como um cãozinho que eu vi outro dia na praça. Será que vou precisar também da ajuda do cachorro grande? – quis saber Beto.

E encontrava jeito de contar a história do pequeno cão que sobrava, toda vez que tentava copular com uma cadela maior.

- E daí? – quis saber Cida.

- Só foi conseguir graças à ajuda de um cachorro graúdo que já tinha se desocupado na fila de parceiros da cadela.

- Tinha fila de cachorros?

- Tinha. Vendo o esforço do cãozinho, para dar moral, o cachorro grande apoiou o peso de sua pata sobre o traseiro da cadela, que arriou seus amortecedores e foi providencial para o pequeno. Solidariedade de macho.

- A solidariedade é tudo – disse Cida.

O sábado ia se revelando com cara de fim-de-semana quando a conversa descambou para outro rumo. Uma explosão de alegria da garota saltou por conta de um cartaz afixado na parede. Anúncio de um concurso para Polícia Militar. Cida deu um salto como se fosse um gol no Maracanã e gritou:

- Vou fazer. Vou fazer. Vou fazer!

Arrefecido o grito de guerra, Beto disse sério:

- Você vai ficar um charme de uniforme – e mostrou o corpão de Cida para a turma, que levantou aplauso.

- Fui batizada então?- reacendeu Cida.

- Considere-se.

Nesse achado alvissareiro, ele tinha sido testemunha: estava com a garota certa, na hora certa e no lugar certo. Iria, mais tarde, para uma comemoração antecipada. Foi até o ouvido da futura policial e contou uma das suas. A do poeta embriagado levado pela PM:

- Como posso afagar-te se me pões algemas nas mãos?

Ela se tornaria essa elegância toda quando tempos depois encontrou a estampa de uma policial fazendo ronda na praça. Meneou a cabeça e, no seu íntimo, desejou sucesso para a garota do tamanho do mundo, que num sábado desses percorrera como um cãozinho feliz.

 

 

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