quinta-feira, 11 de julho de 2024

Débora

 


 

              Ìtalo devia ter uns dez anos quando levou sua primeira cantada. Na semana de festas juninas, passeava pela rua da sorveteria. Exibia sua camisa amarela, costurada com esmero pela tia, quando fora surpreendido por uma garotinha loura:         

              - Ei, você já tem parceira pro forró de S. João? Com que roupa você vai?

              Ora, com aquela mesma, que contava com o detalhe dos botões escondidos, numa bela sacada da tia em suas lições de corte e costura. Não estava vendo? Mas não disse nada. Tocou para frente e brincou aquele S. João. Só depois, no ginasial, foi encontrar a lourinha como estrela dos garotos.

              - Só que Débora paquera esses caras de fora.

              - Ele é goleiro do Cruzeirinho, time da cidade vizinha.

              Mantinha um papo com o colega Rock sobre esses assuntos.

              -  Os pais dela não pegam no pé não? – quis saber Beto.

              - Fazem todo gosto dela. Também dizem que ela é estudiosa, responsável –  Rock completava a ficha da lourinha.

              Rock ainda andava mais às voltas com coisas de menino, como brincadeiras e estilingue, e Beto, que encostara seus caixotes de carrinhos, procurava enturmar-se no meio de movimentos festivos da rapaziada.

              - Eu não consigo entrar no bar de Borba? Você consegue como, Ítalo?

              - Eu consigo.

              - Mas você tem a mesma idade minha. Eu, você, Débora somos tudo do mesmo ano. Mas, no caso, as mulheres desenvolvem mais depressa, viram umas mocetonas

              Beto tinha cartaz com o dono, um princípio de bigode e não andava como Rock, de bermuda e conversinhas com crianças. Nada desses rapagotes, mas quase homem feito, pronto para entrar numa boate. Principalmente quando, na entrada, envergava seu blusão marrom.

              - Você fica é tirando onda, Ítalo. Eles engolem. Também entra abraçado com essas garotas.

              “Rodadas e dançadeiras”,  Beto podia completar no linguajar deles mas ficou calado. Melhor assim, que agüentar lamúrias de um Rock no ciúme dele.  Que era porque Ítalo tinha mais dinheiro que ele, essas coisas.

              - Você não é mais bonito que eu não, cara.

            No meio de semana, Beto achou de jeito de pegar Débora para dançar na boate. Depois, respeitoso, levava a moça de volta para casa. Até aí era arrastado pelo perfume que dela exalava, com direito a um abraço demorado no portãozinho de ferro do jardim em volta e o estalo de um beijo. O dia em que o goleiro não apareceu, Beto teve que ser improvisado. Dançaram de rosto colado. Parecia que o perfume era para o titular, mas esse pensamento não lhe ocorrera de imediato, por enquanto ele só mergulhava.

              Sentaram-se numa mureta de proteção que havia ali e trocaram beijos de língua. “Uau”, arfou Beto. Ela se entregava fácil, vacilante nos passos, meio embriagadazinha, que teve que manter a ordem e não tirar mais proveito. Como um cavalheiro.

              No outro dia, consciência limpa, levantou tarde e foi receber visita de Rock, que os tinha visto abraçados na noite anterior.

              Sem perder a pose, ele falou:

              - Também você só pega a rebarba, não é, cara?

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário