Eliane
Ítalo se sentia bem
aquecido com aquele blusão marrom. Era possível transmitir charme e segurança,
mantendo alguém próximo ao coração, envolto em um abraço. Ao decidir dar um
tapa na irmã de Catão, uma jovem que vivia provocando e tentando se aproximar
do grupo, foi nesse momento que ele percebeu:
- Vai pra lá, moça, que aqui só
entra homem! – haviam dito.
Não adiantava, quando se descuidava,
ela estava enroscada no blusão de Ítalo, perto da mesa de sinuca. Ítalo achava
quentinho, gostosinho, jeitoso, mas, por conveniência, melhor que se atribuísse
tal modo ao frio que se instalava:
- Deixe ela comigo! - afirmou
Ítalo, segurando a garota, e, nessa posição, aparentando normalidade,
permaneceu. Afinal, era a irmãzinha excêntrica de Catão, e ela merecia um
amparo.
Aproveitando a chegada do sol, que se
espalhava pelas ruas como uma novidade de renovação, caminharam pela área como
um casal novo, sem compromisso, em passeio,
- Como é mesmo seu nome, Benzinho?
- Eliane – disse aninhando-se a gosto, cheirosinha, cabelo louro.
- Sua família não reclama dessas atitudes suas não, Eliane?
Nesse momento, Roque sinalizava, como
se quisesse dizer que a família havia largado de mão. Repetente na escola,
estava progredindo bem. E falava com entusiasmo sobre as notas que recebia.
- Estou quase passada de ano –
disse Eliane.
- Pegue pra mim essa pedra aí –
ordenou Ítalo.
Ela viu qual era a intenção dele,
então tomou da mão do rapaz o arame e fez o serviço batendo com uma pedra na
outra. Depois ficou exibindo a ponta:
- Pra jogar finca está pronto.
Vamos tirar a sorte? – perguntou escolhendo um canto de chão mais enxuto para o
risco do sorteio.
Quando Ítalo percebeu, estava
cheio de riscos em volta do largo da igreja e ela batia com uma canhota
certeira.
- Vamos comprar umas balas doces
ali em frente? Faça de conta que perdi pra você no jogo. Segure aí, que é
minha vez.
Como ela não desgrudasse dele, foram os
dois abraçados, desviando dos das poças d’água Antes, porém, ela agachou-se para dobrar a
barra da calça de Ítalo. Após o término
de uma partida, ela teve a ideia de lhe dar um beijo de boca como forma de
comemoração. Assim, ela passava a bala que estava chupando.
- Humm! - disse Ítalo após engolir a bala chupada.
Repetiram essa cena mais
vezes até que, perto de uma casa em ruínas, a garota se encostou de jeito na parede
e puxou Ítalo para um beijo prolongado, sem bala no meio. Dado o andamento das
coisas, ele complementou. Em seguida, precisava manter uma postura de macho e
começou a vasculhar os bolsos como se estivesse à procura de algo, quando
Eliane, adivinhando, lhe ofereceu o maço de cigarros e o fósforo que trazia
escondidos na blusa. Ele estava ciente das travessuras da menina, mas não
esperava um progresso tão ousado.
- Só tem um... – disse
retirando um cigarro e amassando a certeira de Chanceler.
- E você queria fumar mais
de um? Você me dá a segunda.
Como a chuvinha ameaçava voltar,
acomodaram-se no meio das pedras, num resto de cobertura de casa, e ficaram
apreciando o cair da tarde chuvosa fumando a dois.
Anos depois, Italo estava
fazendo supermercado com Selmas. Quando passava pelo caixa, ao questionar a
nota, acabou ouvindo da funcionária que apontava o portão:
- Ela que pegou e disse
que estava com você.
Ergueu-se e ainda pôde ver
a ponta dos cabelos de Eliane, no portão de saída, com um embrulho na mão e descascando
o invólucro de chocolates com os dentes.