Vívian
- Eu vou ficar com essa morenona – cantou
Jonas, antes de acomodar as garotas à mesa, o espaço ao lado de Ítalo para a
outra, de olhos verdes.
A tarde se arrastava ao som das músicas de
sucesso, a ponto de fazer esquecer o caminho de casa e o compromisso, tacitamente
marcado com Selmas, com quem começara um relacionamento do tipo sério. Enquanto
alimentava esse desejo juvenil, os chopes com Jonas e as novas
acompanhantes avançavam nos arroubos. Nos toques das mãos que deslizavam
suavemente pelos cabelos cacheados de Vívian e nas pernas que, em carinhos a
mais, se entrelaçavam sob a mesa.
Deveria ser assim, com essa solidez, um relacionamento mais hodierno
entre eles. Ele, um vestibulando, estaria em sintonia com Jonas, já iniciado na
universidade e coisa e tal. Fazia
desaparecer nele o sentimento de quem roubava
fruta em quintal alheio. Pelo menos.
Esse embrecho ia solto, depois de haver
constatado, em conversa que não levou a lugar algum, na qual ela afirmou ter
interrompido os estudos, desistido do vestibular e agora estar empregada no
serviço público de Goiânia. Passou no concurso para uma vaga na Assembleia
Legislativa e resolveu assumir
- Parabéns então, Vívian!
Quando ele, por sua vez, anunciou que
estava indo para a segunda tentativa, o papo típico entre os jovens chegou ao
fim, dando lugar a uma nova fase, marcada por uma linguagem mais corporal, com
muito espaço a ser explorado.
Beijou os olhos dela e recebeu em troca uma
ponta de língua no ouvido, de fazer arrepiar,
como um choque bom.
Cada qual ao seu modo, a noite veio e Ítalo
descobriu que seria necessário passar pelo teste do banquinho da praça, em
tempo de , no mínimo, esbarrar com a curiosidade de Selmas, que foi o que
aconteceu. Quando, por um momento, conseguiu erguer-se dos braços de Vívian,
perpassou-lhe a imagem de Selmas ali
diante deles, feito uma estaca, então preferiu voltar-se para o sonho e se espremer
nos braços da garota visitante, com a
certeza de que amanhã seria um outro dia.