quinta-feira, 6 de julho de 2023

Dom juan jacaré

         


Não se sabe bem como nem por que, marcara com ela um almoço num restaurante de posto de gasolina, nos arredores da cidade. Ainda assim, um encontro de muita ousadia de sua parte. Um dom juan jacaré, como se verificou, e ela a secretária de uma colega, sempre numas pegações (forenses, de início) quando se cruzavam.

 Tomariam umas cervejas e o resto para escanteio. Mas não, nem chegaram a esquentar um prévio namoro, ela passou a engatar coisas profundas, que implicaria mudança séria e radical, tipo divórcio. Ele iria separar de esposa e filhos? Aí o jogariam na realidade. Pelo que entendera, tinha que tomar a decisão naquela hora, de assumir o compromisso com ela, como um grande amor, que de século em século costuma aparecer. Folhetins?

Então foi o que faltava para o choro de desiludida.  Rios, cascatas e chuva de cântaros, nessa situação. Teve que pedir menos e recuar diante de fachos luz que cercavam a possibilidade de nova vida a dois, ideia desde já abortada. Desmanchariam ali mesmo um plausível embrecho, com pedidos de desculpas pela esfregação e amassos derradeiros. Ela chorou um bocado na hora.  A mesa foi posta, e ela, loirinha dos olhos verdes e marejados, nem quis comer nada, numa intensa sem-graceza: ela e a comida ali se transformando numa montoeira. Mexeram uma peça no xadrez. E num recanto puseram a cena congelada.

Iludira a moça, pensou fora da bolha que criara. E isso ainda existia? Ou então ela o teria alimentado para aplicar golpe, que não pegara? Descongelada a cena, não se recordava de ter apanhado a moça e a levado de volta até a cidade. Mas carregava consigo esse lance, inclusive com o apagão que sofrera.

 

 


domingo, 25 de junho de 2023

Um beijo para Pequenininha ou o roubo de cena de O Titanic

 


 Em meio ao vistoso aglomerado de jovens, destacava-se uma morena, cabelos encaxeados, dentro do padrão de normalidade, tamanho P.  Era também uma das aprovadas no concurso público do magistério. Colega de Edu, que, ao vislumbrar a garotinha, logo se deixou escapar com entusiasmo:

- Pequenininha bonita, cara!

Pronto, era para ficar apenas por aí, não fosse a força e o orgulho que gozava a turma considerada de elite do Estado.  

- Sofri feito o cão, mas passei – desabafou um maduro e manco professor de sotaque nordestino.

- De quem é esse cordel? – Edu perguntou ao ver a folhetagem que então circulava pelo prédio da universidade, que sediava o evento de treinamento de concursados.

- De Chico Leite, da turma de Educação Física – respondeu o claudicante  professor,

Edu conhecia esse esquema desde a época da Ditadura. Aproveitava-se a aglomeração e soltava os versos, como menestrel. Mas ali, já relaxados, os candidatos aprovados se dividiam em turmas. Nesse clima, ele entrava e ia-se infiltrando com facilidade. Podiam vir com montanhas de problemas, que Edu fazia e acontecia com pose de quem, ao tempo, chupava laranja ou mascava chiclete. Assim, não encontrou dificuldade em conseguir figurar como membro da equipe de uma Pequenininha, de gostos concatenados.

- Proteção? – gritou algum observador.

- Recíproca proteção intelectual – disse Edu, encostando sua carteira com um sorriso. – Boto fé nessa rapaziada – arrematou.

Apresentações realizadas, iriam discutir o arcadismo com Edu no papel de Dirceu e Pequenininha no de Marília, numa livre adaptação da peça que parodiava O Titanic, filme que estava em cartaz. Isso tudo na base de improvisação e correria. Terminada de escrever uma peça, a várias mãos, parte do trabalho, montaram-na, sob orientação de uma das integrantes, que posava de diretora teatral, autorizada por ter assistido ao filme umas três vezes.

Edu, que estava encantado com a atriz, mais encantado ficou na hora de declamar para Marília encima da mesa da sala improvisada de navio, quando foi derrubado ao chão por provocação da diretora:

- Você tem que cair, Dirceu!

E aí que a cena se tornou encoberto de magia, com final em aplauso, parecendo extensivo aos versos bem articulados por Edu:

             Eu, Marília, não sou algum vaqueiro

             Que viva de guardar alheio gado...

 Nessa hora estendia os braços nos de Pequenininha e sentia-se  como Tomás Antônio Gonzaga, poeta quarentão, com Marília nos seus 15 anos. Viagem no tempo! – pensou. Mas quando foi sacudido para cair, com o balanço do navio, viu transformar-se em Jack ao lado de Rose, do filme.

À noite, haveria uma confraternização dos concursados no hotel em que Edu estava hospedado. Pequenininha e suas companheiras não compareceriam, por isso tivera que, num gasto de papo com karaokê, reservar-se para o dia seguinte, quando haveria de se despedir não com o costumeiro beijinho mas com os arroubos ditados pelo fogo maduro da idade.

A turminha, como torcida, esperava a despedida do casal, com gran finale. Valeu mesmo, porque o que se verificou foi um beijo de nunca mais “a gente vai se ver”, a la Jack e Rose, para encerrar aquele momento com chave de ouro.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Os almofadões de Tina

 

 

  

Tina tinha uns almofadões de eterno aconchego. Quase morte. Mas foi vida, porque Edu despertou bem deles e saltou para a luta diária. Morte mesmo foi o apagão que envolveu toda a cidade. Ninguém deu notícia digna de registros. A saída para a aventura tinha sido com estilo. Em dois carros fizeram uma limpeza geral na cidade, ao embocar três garotas e sumir pela estrada da liberação. Não se sabia que cachaça fora aquela que puseram os jovens festivos numa operação em busca de um ambiente de conforto.

Apanhadas na esquina as garotas, meio às pressas, saiu-se ao sabor da improvisação, com uma de sobra e altamente cortejada.  Malgrado o esforço, teve que respeitar a informação de que ela, Cyntia,  ficaria no carro ouvindo CD¨s.  Aí Edu teve que assumir Tina, que estava de pombo correio:

- E aí, Cyntia não vai ficar comigo não, Tina?

- Acho que ela está brigada com o namorado e mandou dizer que vai ficar esperando a gente no carro.

Sem perda de tempo, Tina foi-se aprontando para transar, tirando blusa, soutien, calça, calcinha, e se posicionando na cama. Na hora do mergulho foi que Edu sentiu encontrar a tranqüilidade de correr numa estrada de asfalto com uns almofadões de proteção. Tina, quem diria? Não era à toa que já farejava Tina desde antes. Mas a presença da companheira brigadinha com o namorado o tirara de foco. Agora Cyntia que ficasse lá esperando a volta de namorado, que nem sonhava com ela por aquelas paragens, onde se podia até andar de mãos dadas, que ninguém ali tinha interesse. E foi o que resolveram fazer, porque, de cá se avistava o outro casal irmanado, antes do entardecer se fechar completamente.

- Vamos deixar vocês na outra entrada da cidade, ok?

- Nem lembra mais de Cyntia?                        

- Serviu muito, mas como “chama” pra conhecer você.  Te adorei, Tina.

Só se esqueceu de agradecer pelo conforto dos almofadões.

  

 

domingo, 4 de junho de 2023

Carta para Leleco

 


 

 Achou um escrito na mesinha, que após lido resolveu embolsar, como furto: para Leleco: preciso te contar uma coisa. Agora a preocupação era uma só. Leleco era a chave. Garotão, escorregadio na paquera, tirando onda de difícil com a garota do bairro, que estava passando de merecer uns tratos. Edu olhou com profundidade a questão. Foi longe nesse olhar. A garota tinha os olhos verdes. Meio caminho andado. Caiu no seu agrado e pronto. Ai de Leleco. Tinha namorada firme, o sacana. Não podia andar nessas aventuras, mas as meninas viviam atrás dele. Trabalhava de parceria no posto de lava jacto. Dia de sexta e sábado o assédio aumentava.

Leleco era figura procuradíssima ali no posto. Ao tempo que dava os tratos nos carros, dava jeito numa coisa e noutra, conforme solicitado. Ficou chocado o dia que soube que ele havia vendido para outro o terno do próprio casamento. Tinha sido presente dele, patrão:

- Combinado: terminou meu casamento, não vai precisar mais, já passo pra ele

Era um negociante, o maluco. Não tinha consideração. Outros valores decerto. Deu uma olhada no pátio e viu os veículos brilhando ao sol sua imponência, orgulho dele, Leleco. Tudo que ele pegava era para deixar no trato, lustrando, era isso.

                Adãozinho veio perguntar se o carro do médico estava pronto.  Era uma espécie de leva e traz do posto. Sabia de tudo. Podia lhe passar algumas dicas.

         - Sente-se aqui, Adãozinho. Hoje quem presta contas é você.

         Ele riu.

         - Você é quem articula garotas pra Leleco?

         - Também.

         - Mas agora ele vai casar.

         - Mas as meninas hoje não ligam pra isso não.

         - Mas casado de novo que nem ele, elas ligam.

         - Pecado?!

         - Pecado! Não pode não.

         - Vivendo e aprendendo.

         - Pois é, hoje você vai fazer diferente.

         - Diferente como?

         - Você conhece essa menina de olhos verdes?

         - Que manda entregar carta pra Leleco?

         - Leleco é casado de novo, pode-se dizer. Você vai arrumar ela pra mim.

         - Que também é casado.

         - Mas de velho, não de novo como Leleco.

         Adãozinho hesitou por um instante. Precisava de argumento, senão esculhambava.

         - Ei, Adãozinho, já viu falar do mal dos sete?

         - Não.

         - Pois é, meu casamento já passou por isso. Não quebra mais. Encascorou. Compreendeu?

         - Compreendi.

         - Pois você vai marcar pra mim. Eu já vi ela beirando aqui umas três vezes.

         A garota estava escapando mel. Passara mais cedo de bicicleta, de short e num relanceado de lagarto verde.

         Já estava escurecendo, quando Adãozinho se despediu com um sinal de positivo. E não deu outra.

 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Dropes

 

 

 Você desperta no meio da noite e vê alguém colocando dropes na sua boca, Para alterar, calcula logo você, o hálito deixado pela cachaça do dia. Sua aquiescência, num mútuo entendimento de complacência, era então com um beijo de agradecimento pelo providencial gesto.

Chancelava-se assim o encontro casual que tivera com aquela moça de trinta e poucos anos. Não cansava de apreciar aqueles olhos verdes, Tal postura, ainda que não fosse, tornava convidativos o rosto e o resto.

Foi numa roda de amigos em mesa de bar que conseguiu engatilhar esse flerte. Em tese, ela seria de Murilo, ao seu  lado. Mas a ordem se alterava para quem estava numa bebedeira desde cedo. Murilo só dava risadas enquanto a perna dele, Edu,  se comunicava com as coxas de Neuza por debaixo da mesa. Podia puxar o automático do sábado  e deixar correr, escorregar-se em delícia.

O trabalho para driblar Murilo e estar em aconchego com ela não foi fácil. Houve costura por dentro e por fora:

- E Murilo?

- Acho que ele não estava muito a fim.

Era areia demais para o caminhão dele – pensou em dizer. Ela adivinhava seus pensamentos e buscava melhor posição para o corpo na cama. Segundo soube da coleguinha ela estava sofrendo feito o cão numa região de Minas e tinha prazo para voltar, presa a contrato, como se fosse uma atleta. Só ia resolver a situação de família e cascar fora, que o clima não era dos bons.

- Problema de dinheiro, e?

- Também – ela disse, tristezinha.

Ficou preocupado com o que prendia a moça em Minas,  A coleguinha dera a entender que era uma dívida que não se pagava. “Como assim? Isso não existe”- pensou Edu.

´- Aprendi que para enfrentar um problema devo esperar ele entrar no meu raio de ação. Depois vou comendo pelas beiradas até ficar o oco – explicava agora a Neuza, com o ar refrescante de menta. -  Nada de tristeza, Neuza.

- É, mas meu pai tem que pagar o banco. Comece por aí.

- E depois?

- Depois tenho quer acertar com Valdir lá em Minas.

- Assinou alguma letra em Minas?

- Assinei nada,

- Medo do que então? -  Edu fez cara de deboche,

- Então não vou poder voltar pra lá,

- Não volte. Resolvido – disse Edu, apertando o abraço.

- Agora temos o banco.

- Espera. Um dia vem uma mudança ou até lá o cavalo aprende a falar.

- Pai nem sabe de mim em Minas. Preocupação é o banco.

- Em último caso, querida, resta tocar um tango argentino.

Nesse dia, apagaram a luz e foram dormir. Neuza sentiu firmeza. Bem que a vida podia ser suavizada.

 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Um rato no caminho

 

 

No meio do caminho tinha um rato. De como a poesia de Drummond acabou por interromper breve flerte que Eduardo teve com uma colega de faculdade. Enquanto se declamava o poema, um mamífero apareceu de supetão em lugar da pedra e a coisa desandou.

Bem que andou sondando essa garota, ao atender pedido de carona da moto namoradeira. Tal comentário era da turma que costumava rachar cervejada no entorno da escola. Até trabalho escolar se fazia na mesa de bar. Quando Eduardo entrava pedindo uma gelada, mesas já ocupadas, vinha na sua cola uma menina que tomava anotações da sua explanação num caderno: “ Aí que entra o movimento da Semana de Arte Moderna de 1922..” – arrematava Eduardo.

         A garota se sentava ao lado e repetia, anotando:

- Espere aí:” ...  semana de Arte Moderna de 1922.” Só isso?

- Depois você pesquisa, moça. Aí é só pra você se situar – dizia Eduardo, cercado das alunas com a desculpa de que tinham que ralar durante o dia nos seus empregos e não tinham tempo para aprofundamento nos estudos. Ao final, elas se levantavam para ir embora, obedecendo ao processo de rachadura de conta, por força do feminismo em voga:

- Deixamos três pagas. Tchau.

Então virava-se a página do sacrifício. Foi num desses dias que notou o esforço de maquilagem de Marlene numa tentativa de conciliação de ritmo de vida. Via-se, no meio do esplendor, no dizer de outro poeta, o fio puxado da meia-calça aparecendo. Passou a se interessar mais por Marlene. Por admiração ou pena. Por isso não foi de causar nenhuma estranheza Marlene estar sentada de prosa com ele. Não era secretária, como as demais colegas, mas recepcionista de uma empresa e tinha que andar arrumadinha. Mais leve. Se bem que fazia as vezes de uma ao usar do telex e ter que redigir cartas, sempre com pressa e desembaraçada. Marlene eficiente. Só ela no curso superior e no trabalho, para ajudar na despesa, já que os dois irmãos ainda freqüentavam o colégio. A filha mais velha de um sargento da Polícia Militar aposentado tinha que ser exemplo. Marlene encaixava-se nesse perfil.

Ela iria na moto namoradeira naquela noite. Estava acertado. E a moto perto do portão.  Mas não foi fácil se arrancar dali após a última aula. Em meio a estudantada, teve que aguardar com paciência que não tinha. Muito novo para essa ansiedade, diziam colegas dele, mas pouco se lhe dava com isso.

Um poço de tranquilidade era Marlene, quando a avistou arrumada ao seu modo, com argola. pulseiras e sem pressa. Mas de saia, não garantia posição cômoda na garupa. Sentava-se de lado. Iria assim mesmo e, equipado, encostou a motocicleta no portão para sentir o abraço da caronista. Depois,  o frescor da noite ao dar partida e sair com barulho característico de juventude responsável. Andar com uma princesa, tinha que ser nos moldes. Marlene era na fantasia da rapaziada um grau dessa nobreza. Para as garotas, que torciam o nariz, papel de mais uma metida, sem sabor. Eduardo, indiferente a essa guerrinha de dondocas, aceitava vassalagem da mulher batalhadora, que dava conta também da faculdade.

Ficava na periferia, num conjunto habitacional, o apartamento da família. Embaixo, no estacionamento, deixaria Marlene quando surgiu um rato de tamanho exagerado, em desabalada carreira, e passou embaraçando entre a moto e a perna de Eduardo, que quase foi ao chão.

- Não repare não, Edu. Tchau – lamentou a princesa, toda vermelha e sem beijo de despedida.

A moto namoradeira, sem sucesso, foi acionada de volta, querendo distância dali.

sábado, 8 de abril de 2023

Rua Carlos Gomes

 


  Passar pela rua Carlos Gomes, naquela hora da noite, não tinha outro propósito que não o de comer. Alguém, já que por perto havia uns hoteizinhos e umas garotas baleadas que por ali circulavam. Ou uma esfhia com Coca-Cola numa das pastelarias chinesas de esquina. Depois, com um arroto prolongado, dar por encerrado o expediente noturno.

Nada mais podia esperar de um jovem universitário de dinheiro contado. Antes de sair para faculdade fizera separação da verba nos bolsos. Um para as cachaças, bolso traseiro. Outro, separadinho e dobrado, para uma emergência. Que podia ser uma garota, se encontrasse de jeito. Como não parecia uma idéia remota mas em perspectiva, arreou seu cavalo e, livros acomodados ao elastic no banco traseiro da moto, deu partida da faculdade,. Tudo certinho, como mandava o script de um estudante classe média. Garoto bonito, dever de casa em dia, tinha um oceano de vida a percorrer de braçadas.

 E era exatamente ali, no espaço local. que o tempo e o personagem se achavam. Disparava o apito dentro de si, nos seus 20 anos, quando viu completar o quadro com a normalidade de uma chuva fina. Havia promessa de uma noite aconchegante. E tudo levava a crer num momento de exclusividade do ego. Olhou para seu cavalo ao lado. Então pegou no guidão da sua HONDA - CG 125, presente de pai, e a deixou estacionada debaixo da marquise ao lado de um hotel. Ficou apreciando seu cavalo, enquanto retirava os livros com cuidado. Tinha atravessado o Rubicão.

  Nesse instante, vinha caminhando na busca de uma proteção uma trôpega garota.

-  Ei, amor, vamos dormir um pouquinho e esperar a chuva passar? - arriscou  a cantada.

Ela aceitou facilmente como se quisesse dormir e encostou seus cachinhos no peito de Eduardo. Ele guardou os livros na portaria e recomendou ao porteiro a moto ali estacionada.

- Ei, vamos curtir a chuva na cama – disse no entusiasmo.

 Contente com a cabeleira dela encostada no peito, Eduardo aceitou o afago e subiu as escadas abraçados.  O  nome dela via-se depois.

Nem o nome e nem como se processou o encaixe das coisas conseguiu Eduardo naquele momento de ego. Demorava a magrinha no seu trabalho de esfregação. Tanto que tendo que ir, por suposição de haver passado a chuva, cuidou de resolver mesmo a seu modo e finalizou o que parecia esperar por uma eternidade. Ainda chegou a dizer “vou terminar por hoje, amor,  que eu tenho que ir. Você pode ficar dormindo mais um pouco, que eu falo lá embaixo. Seu dinheiro eu deixo aqui na cômoda. Está bem, Baby?” – disse com um beijo nos cachos.

Lá fora, o cavalo pronto para receber seu general em mais uma batalha, a principal. Primeira vez era assim, de ar renovado, fotografou com o olhar a cidade lavada, ciente de que era o homem pisando a lua:

- A garota vai dormir mais um pouco – disse ao porteiro, arrumando os livros na traseira e acionando o pedal. 

Deu duas sopradas de despertar cemitério e saiu numa rasgada no silêncio da rua Carlos Gomes.