segunda-feira, 30 de março de 2015

Bruna Marquezine e eu

Se minha mãe ou minhas tias, qualquer uma delas, sonhar que eu tenho interesse no caso, elas mandam trazer para mim (não é, mãe?). Sei lá. Elas contratam Zé Nico.  Zé Nico tem um carro a gás. Elas dão uns dois botijões que pegam fiado lá em Dedé de Necão e o negócio fica feito: olhe Bruna Marquezine na casa de mãe tomando café reforçado... porque o café da casa de mãe é assim. E ainda tem minha irmã mais velha (ela não gosta que se use esse termo mas vai assim mesmo), a dona da empresa CANDIBOM, Nora Nei Pereira Prado (irmã enganchada comigo,  o “Nei”), que, em sorriso, costuma chegar de Salvador com seu companheiro Francis, tiradinho a surfista. Por certo, aquele pessoal de mãe por perto. Pessoal aí quer dizer comadres e gente da pobreza, ali para uma prosa e comida vária. 

Só quem não gosta da idéia é Ivete. Calma, não é a Sangalo, é a minha, da Silva Prado. Falei com ela, para um teste, que se eu tivesse de ficar numa ilha deserta apenas com direito de ter duas pessoas, com certeza uma seria ela e a outra Marquezine. Vai que a menina ajudasse na arrumação de casa - que minha mulher muito aprecia - e nas coisas de cozinha, porque essa menina Bruna, neguinho só vê um lado e não vê o outro, de prendas domésticas. A Mídia é que fica martelando num ponto e deixando o outro. Porra, menina prendada. Questão de zelo e orientação, onde entraria minha mulher, com sua experiência; o resto é conversa errada, desse povo mal falador, só porque a menina parece eterna namorada da gente, tal qual Lídia Bronde nos anos 70/80 (Lidia, um beijo; guardo até hoje o encarte da revista playboy de 86).

Mãe é foda. Que Bruna Marquezine estaria aqui  é fato incontroverso. Zé Nico garantido, Dedé de Necão receberia depois, o repórter Gilson Medina se contentaria com um almoço e cerveja para não assediar a menina, tudo isso no trato de mãe, no seu jeito; pai, algemado, por causa  da sua  ousadia e tara, para não atrapalhar a minha paixão, ficaria com seu vinho importado, só no desejo.

Bruna Marquezine. Agora fica a maldade em algumas pessoas. Menina prendada (se não o for, a caminho pode se encontrar, com o dedo de alguém experiente, no ramo).

As pessoas não entendem. Só a senhora, não é, mãe? (Dê umas explicaçõezinhas a Ivete)


31.03.15

sábado, 21 de março de 2015

Para Théo

20 de março de 2015
acabo de saber de sua chegada, Théo
Théo Vasco Ladeia Prado
então sou avô
sem nem ao menos terminar minha monografia de infância
sempre  deixada para depois
quando a vida não comporta rascunho
talvez faltasse você, Théo
para um dia em brincadeirinha comigo
com suas primeiras palavrinhas
me dizer
vovô
e eu lhe passar por completo
o menino feliz que fui

Candiba(BA), 21/03/15

Nei George Prado

sábado, 14 de março de 2015

Para Paty



Paty
você mesma
Paty
as flores se acham primavera
e você é guardada
pise, machuque
que a gente deixa
você pode
você é nobre
cabelo de seda
13.03.2015

Nei George Prado

terça-feira, 10 de março de 2015

Candiba ficou menor   
ficamos agora
sem você
que nos enriquecia 
olhamos para sua casa
a casa de Doutor Juraci
mas você não esta lá
e então já ficamos doentes
mas com a certeza
de sua mão
amiga
de sempre


09.03.2015





                     

sábado, 7 de março de 2015

De outro ramo


Comprar e vender revólver – essa a atividade principal de Galego.  Cabelos aloirados e barba russa em abandono, andava com uma espécie de capanga de couro. Arrastava no modo de falar um jeito malandro falso de cigano amansador de burro bravo. Por toda região se estendia o seu comércio.  Tanto dedicava a essa transação que certa vez chegou em Palmas de Monte Alto numa moto que havia fretado em Candiba para oferecer sua mercadoria a um moço que dias antes, numa confusão de festa, havia prometido matar seu desafeto.

- Pode levar esse 32, Jacaré (era assim que ele tratava as pessoas). Pode levar, que essa é de primeira, não falha, e... (etc).

Só não acabou sendo envolvido num crime porque quando lá chegou os nervos dos contedores já haviam sido serenados e tudo estava de lenço branco.

A família vivia pedindo a um e outro político que lhe desse um jeito arrumando um emprego ou uma colocação qualquer. Até que por ocasião da inauguração de mais uma agência bancária em Guanambi, naquela febre do algodão, que era moda inaugurar agências de banco, apareceu-lhe o emprego de guarda.

A partir daí vamos encontrá-lo todo fardado, com arma à cintura, cabelo mais curto, à porta do banco recém inaugurado. Todo falastrão e compenetrado, no seu primeiro emprego, o Galego, contudo, sem qualquer preparação, não media os seus modos e, sem um mínimo de subordinação, era de igual para igual com todo o funcionalismo do banco.

Como chegava mais cedo para a vigilância do banco, postava-se ali diante da porta e via chegar um a um os funcionários. A cada um que passava, ele, desbocado, dava um tapinha nas costas e completava com sua saudação meio cigana, meio moleque:

- Diga aí, Jacaré.

E assim foi por uma semana. Até que um dia, final de expediente bancário, um funcionário veio dizer que o gerente estava lhe chamando para uma conversa:

- Pois não, Jacaré – foi logo se sentando à mesa do gerente e apanhando um cigarro.

- É o seguinte, meu filho: aqui não tem nenhum jacaré. Não estou gostando do seu modo. Eu sou o senhor gerente e assim devo ser tratado. Do contrário, terei que colocar você na rua. Não gosto de intimidades. Ou você trabalha sério, em silêncio, ou RUA, entendeu?

O Galego, então, deixou de dirigir ao senhor gerente aquele tratamento malandro e cheio de intimidade. Só foi mesmo demitido quando se descobriu mais tarde que aquele forte aglomerado de pessoas em dia de feira, principalmente, à frente do banco, nada tinha que ver com movimento bancário mas sim com o comércio que o galego fazia com gente de Iuiu, Palmas de Monte Alto, Candiba, Pindaí, e toda região.

A procura pelo galego era tanta, que o gerente, aliás, senhor gerente, teve que designar um funcionário só para esclarecer às pessoas que ele, o galego, já não mais prestava serviço ali no banco.


Mas  o certo, mesmo,  é que o banco até hoje não conseguiu recobrar aquele movimento.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Tempo das Biroscas



Nos anos 90, publiquei a crônica que segue.

Acabo de levar meu filho para fazer a última prova da unidade. Logo logo entrará de férias. Não sei como ele se sente. Fosse na minha época, já estaria farejando que tipo de brincadeira iria predominar nesse período.

Lembro que numa ocasião, mal entrávamos de férias, já eram vistos meninos pelas ruas jogando bola de gude, e então, além do futebol ali na praça da igreja, sabíamos que o jogo de birosca seria a moda naquele verão.

E não dava outra, atirava-se para o canto a pasta de cadernos e livros como se tivesse livrado de um fardo e, leve, livre e solto, como diz na música, tomávamos de assalto a cidade.

Num ano anterior a brincadeira tinha sido dinheiro de papel de cigarro. Eu havia juntado tanto dinheiro de papel de cigarro que, combinado com Juscelino de dona Maria, meu vizinho, tentamos montar um banco, na garagem lá de casa. Com o dinheiro se comprava gado. Gado de osso. Comia-se a carne e em seguida deixava, no quintal, que as formigas completassem operação de se retirar o restinho da carne. Atribuía-se o valor às notas de acordo com a maior ou menor dificuldade no encontrar o papel de tal marca de cigarro. Arizona, por exemplo, por ser novidade, valia uma nota preta. Hollywood, muito comum, valia pouco. Continental, menos ainda. E a inflação? Sem sabermos, convivíamos também com a inflação.

- Ih lega, Minister agora caiu, tá valendo o mesmo tanto de Wollywod.

- Vamos lá na rua dos crentes, que eles ainda não sabem, e a gente faz a troca.

Mas naquele verão o que se via era a meninada com os bolsos cheios de biroscas. Umas bolinhas de um azul que enchiam de sonho os olhos da gente.

Depois de presenciar por alguns  instantes, bateu-me a vontade, e então fui lá pedir dinheiro a mãe para comprar umas bolinhas e me enturmar.

- Compra lá na venda de Possidônio, que seu pai tem conta lá.

Fui na venda de Possidônio e comprei uma dúzia de biroscas. Dava para começar. Mas oh tristeza. Pode-se dizer que de todas as brincadeiras de criança a de bola de gude foi a única que passou por mim e ficou no mero fascínio. Temos assim uma situação mal resolvida. Quando me aproximava da meninada para entrar na roda do jogo de gude, lá vinham os protestos:

- Ei, você não. Tira suas bolas.

- Imagine! Ninguém aceita essas bolas de Possidônio não. Quiser entrar vem com bola igual a nossa: azul.

Pombas, aquelas bolas azuis só quem vendia delas era Tião de Lia, mas pai não tinha conta lá e assim ia  passando o tempo sem que pudesse participar da brincadeira. As bolas de Possidônio, eu vim descobrir depois, ninguém da turma comprava. Eram umas bolas meio tronchas, com uma manchona branca no meio, que vinham num saco de estopa. Muito comum abrirem-se em duas bandas quando jogadas de perto, com força, uma contra outra. Só quem não se importava de brincar com elas eram criancinhas, que ainda não tinham noção exata do jogo. As de Tião de Lia ficavam dentro de um vidro. Num azul que se estendiam em sonho se a gente olhasse detidamente.

Saía da praça da igreja e ia lá para rua dos crentes. Talvez lá ninguém se importasse com esse detalhe bobo. O triângulo riscado no chão, os meninos enfiavam a mão no bolso e puxava uma azulzinha. Quando eu colocava no triângulo minha bola meio esverdeada com aquela machona branca, lá vinha o berro:

- Ei! Essa daí não; só vale da azul.

Na frente lá de casa tinha um pé de fícus. Creio que, excluído do jogo de gude, terminei aquelas férias ali mesmo, brincando com o meu irmão mais novo - o único parceiro que encontrei, pois suas bolas também eram das mesmas, das de Possidônio. (Vascão, meu Filho, boas férias!)


O tempo... Vascão  agora vai me dar um neto.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quarta-feira de cinzas



já passou o carnaval
você já não tem mais a mão
quente
em sua mão
beijos e abraços

você levou na boca
no corpo
um novo e
escorregadio
astral

esta quarta-feira
serve de esteira
para seu eterno sonho

vamos para o ordinário
seja firme
se afirme
virão outros carnavais

18.02.2015