pe-da-la-das
pe
da
la
das
de
bi-ci-cle-ta
bi ci cle ta
le-ve-za
le ve za
d e
corpo e
alma!
22/07/22
22/07/22
pe-da-la-das
pe
da
la
das
de
bi-ci-cle-ta
bi ci cle ta
le-ve-za
le ve za
d e
corpo e
alma!
22/07/22
22/07/22
1.
O que me faz
apegar à vida
é a possibilidade
da poesia
que eu quase pego.
2.
De outra, eu
apanho
Escorregadia, não vai me faltar
até o seu vazio é uma forma de estar.
3.
Pela fenda
do telhado enegrecido
migalhas
de vida ao romper dos dias
em réstia de sol recolhidas.
14/05/22
De namoro mesmo, tudo
certinho, civilizado, era só Silvino e Lourdinha, sentadinhos os dois lá atrás;
o resto da meninada só na conversa, rosto coberto de cravos e espinhas, e muita punheta:
-
Gustavo e Sandra também – falou Ronaldo.
-
Respeite a colega, cara! – respondi, tirando o corpo fora do rol dos casais de namorados
que estavam fazendo. - Só porque a gente anda juntos, porra – protestei.
No
fundo tinha sentido fazer aquela inclusão, pois a gente, eu, nos meus quatorze
e ela nos seus 16 anos, era só na pegação, pelos corredores do ginásio. Além do
mais, me preenchia muito o ego. Dava uma moral! Numa renovada aparência, de
bigodinho raspado, graças ao barbeador que ganhara de Sandra no amigo secreto.
Mas acontece que Sandra, que já era moça feita, como se dizia, era para namoro
firme e casamento. Se ela soubesse, eu que ia levar bronca e perder a mamata
dos amassos. Por isso sem forçação de barra. Também, que circulasse tal
conversa no meio da turma, pelo menos. Sandra me colocou num canto e falou, sem
alarde, numa boa, para terminar com aquilo, senão iam pensar que estávamos
namorando. Mas enquanto falava, eu ia aceitando uns amassos e uns beijinhos de leve.
-
Tá ouvindo, menino? – dizia espalhando tapas, que eu suportava no desgrude, naquela fresca da tarde.
-
Mas você não vai ficar com ninguém por aí não - falei em retirada.
- Então não seria
melhor para depois da quadrilha de S. João? – ela me reacendia.
Combinado não saia
caro. Ela explicava que eu era ainda
menino e ela tinha que estar pronta para firmar namoro sério. Depois, me deu um
retalhinho de amostra do pano para a confecção de minha camisa.
- Vai ficar uma dupla
bonita, Sandra – falou uma colega nossa, dessas de segurar vela.
Sandra era rabuda e sua
calça acentuava bonito esse detalhe. Era bom quando, armado, ela vinha e encostava com o frescor do banho
tomado e o toque do almíscar no pescoço, só encostava, só... Tinha que correr às
pressas ao banheiro. E ela sabia desse meu segredo, a “desgraçada”.
conto: Um adolescente, tarado por manguita e pela dona do pé de manguita, vizinha de quintal. Um dia Glauce, a vizinha, sabendo que ele estava só, entra na casa procurando por Vanda, irmã dele.
Havia no nosso quintal todo tipo de manga, mas a que a gente
mais desejava, pelo menos eu, era a do vizinho. Uma árvore que se erguia
frondosa, sombreava o quintal e o resto da vida. Parecia botar suas manguitas
de fora em pontinhos amarelos e rosas.
Ainda era de se acrescentar: com o apetecimento que oferecia
a garota da casa, de cabelos cacheados e fartura de coxas nos vestidos curtos
que usava.
- Sobram pernas nesses vestidos que essa garota costuma usar,
colhia, escondido, dos comentários maldosos ouvidos no Café que sua mãe, boleira, tocava na parte lateral da casa, quando
ela passava perto sumindo lá para dentro.
Ficava em divagações
com a mancha rosa na fruta pedindo para ser mordida. Disputadíssima, estava
claro.
- Ela está quase de vez,
dizia na ânsia da permuta, passando a manga rosa para as mãos de Preto, o
vizinho parceiro, e recebendo dele as
duas tão almejadas manguitas maduras, que iam ser abatidas num só golpe de boca
de um adolescente campeão de saúde e viril.
Negócio feito por cima do muro. Só uma vez alguém comentou:
- Você é besta: manga-rosa vale muito mais que duas
manguitas.
Não entendiam. Aliás, ninguém. Mas bem que devia receber naquela troca era Glauce, a irmã, com aquelas duas toras de coxas morenas. Isso sim. Mordia-se a manguita no rosado bico e puxava-se o doce nos fiapos entre os dentes. E não adiantava nada - com pouco aparecia a imagem da menina travessa com seu vestido colado ao corpo. Aí, após chupadelas, entravam os pelos penteados da buceta de Glauce .
A época das manguitas se avizinhava com essas primeiras
frutas, mas as mangas rosas tiravam onda de difícil e demoravam. Os passos de
desconfiada de seriema de Glauce ignoravam esse desencontro de produção
agrícola, entrando em casa, a pretexto de fazer trabalho escolar com minha
irmã.
- Vanda, eu gritava lá para dentro às vezes, Glauce está
chamando! Vamos sentar, Gluauce, dizia apontando o sofá, com o
olho nas bolas e barra do vestido da garota.
Enquanto isso, o rádio de pilha da casa de Glauce,
posicionado no quintal, na sombra do pé de mangueira, retransmitia num alvoroço
matinal o programa “Belmiro é o espetáculo”, da Rádio Inconfidência. Mais tarde
era o papagaio que iria entrar em ação: - Ô Preto. ... Preeeto...
Preto, irmão de Glauce, era meu colega de ginásio, de estudar
e tocar juntos alguns acordes de violão, mais umas duas canções. Só isso. O
resto era o turuntuntuntumtun de iniciantes.
Por influência dos gibis e das fotonovelas que líamos, a
gente em dupla fazia no caderno umas “fotonovelas”, com texto meu e desenhos
caprichados de Pretinho. Dava gosto de ver os desenhos em quadrinhos. Curtia no
meu quarto, entre pausas de manuseios dos assuntos de aula, até me envolver no sono.
Dia seguinte, às cinco, era acordado para a Educação Física.
O sinal combinado era o barulho que fazia no vitrô do meu quarto uma vara de
anzol, lá do outro lado: “Chap-chap”. Se bem que mais elegante, naquele mundo
ainda de sonhos, seria despertar com Glauce tentando enfiar aquelas pernonas
quentes entre as minhas coxas e me dizendo no ouvido:
- Acorde, menino, que não tem Educação Física hoje não.
E acontecia de não
haver mesmo, para ficarmos às sós, numa boa. Seria feriado ou então o professor,
solteiro, acordaria de ressaca.
Guardava a impressão de que o dia não se iniciava sem o
alardeio do radinho de pilha da mãe de Glauce. Não pingava um pessoal de costume na calçada para
o Café da manhã, crianças não passavam para escola. Não encaixava normalidade
nas coisas, mas uma idéia de fim de mundo ainda com final de feira. Tudo
acabado e gente perdida, sem ermo, numa imensidão de mar oceano. Cada pessoa
encontrada você olhava como se fosse última vez, com despedida de adeuses e
lembrança acelerada de pequenos detalhes realizados no tempo de presteza.
Aproveitava esse
entrecho para últimas ações minhas e de Glauce, com aquelas duas alças de
vestido escapando em sistema de revezamento. Caía e levantava. Na verdade, essa
questão do vestido de Glauce não era propriamente Glauce, antes era mais de
formato de corpo. Que era, com olhos de exagero, num estilo sob medida. Muito
queixo caído, muita babação. Mas de uma cruzada de perna de Glauce (um
escândalo) teria como se esquivar?! Quantas vezes não tivera que correr até o
banheiro para amansar o bezerro? Ufa!
Penso em Glauce com tristeza, pela ausência de seu rosto, só
coxas e bumbum. Era uma garota que sobrava corpo sob medida, com as alças de
vestidos caindo em mantida decência no traje. Parecia não, com certeza ela veio
para ser uma espécie de fetiche erótico ou algo assim. Nesse período de
puberdade despertava toda uma geração ou era só eu porque estava ali de perto
vigilante, como quem espera a chegada do envermelhecido da pontinha da manguita?
O certo, porém, é que por demais marcou minha vida de
adolescente um desses dias, como um dia atrás de outro, e aí é que completava esse
bordado: até o radinho de pilha da mãe de Glauce tinha feito sua vez tocando uma
canção de Raul Seixas, em que ele se declarava feliz por ter conseguido comprar
um corcel 73; o papagaio já tinha grasnado o nome de Preto duas vezes, e as
crianças cuidavam de ir para a escola,
tecendo a manhã pelas calçadas em frente; quando deparei com uns passinhos de
seriema com as duas bolas ajustadinhas falando com voz de formiga Vanda! Vanda!, enquanto o chão ia sendo forrado
do açúcar que caía da garota, que se esvaia em tesão e eu ali circunspecto e firme
nos meus doze anos, pensei e nem quis mais pensar.
Abracei por trás a garota, que me escapou frouxamente quando
aos seus gritinhos elevou-se por instinto de socorro a voz de irmão, lá embaixo e do outro
lado:
- Glauce!
6.
Um
cheiro que quase se dá e se entrega,
olor
de florzinha rocha num arbusto
de
quintal.
7.
Em
longínquo campo, uma flor se ergue e se impõe
mas
não se entrega na cor
seu
reino, sua glória
flor
do algodoal.
8.
Seus
lábios não dizem o quê
mas
nossa música, inaudível, se ouve
tocar.
9.
Somos
faísca de vida que se escapa
quando
se a tem
na
palma de mão que mal se vê
esboçar.
10.
E
daí essa fluência
de
poesia
que
não se farta, não se cansa
malgrado
findar-se o dia.
7.02.22
NeiGeorgePrado
De repente
descobrira-se ali, rua larga e esburacada, mãos dadas com uma garota, uma
gordinha, de rosto agradável, como se dizia em família. Caminhava numa leveza
de descuidados encontrões, que lhe fazia percorrer ligeira tesão. Vivia um
mundo onírico. Mas deu para sentir real um abraço de corpo e alma que lhe
brotava como futura lembrança aquela completude - tinha no que pegar. E
pelo menos guardar o olfato do que exalava de refrescante e bom. Assegurado
conforto, foi no ouvido dela e sussurrou:
- Lindo instante de
existência. Daqui a pouco nós nem nos sabemos mais.
- Foda-se!
Agora que não sabia
mesmo. Nem para dizer o nome. A turma se ajeitara. Final de farra, era o que
lhe restara: a gordinha. Que, de quebra, era até... bonita.
“Foda-se!” pensou
igual. Depois, no carro, negócio de levar a garota: “Entra aqui, pare ali”.
- Portão verde!
gritou no seu ouvido.
- Sua casa? perguntou
com seu fio de voz.
- De uma amiga,
respondeu na mesma firmeza a garota.
Era de manhãzinha.
Frio de início do dia e fim de uma madrugada pelos botecos da cidade.
- Vamos tomar café na
padaria? propunha ela apontando uma porta que timidamente se abria ainda com
escuro.
Dava para encarar.
Mas aí ela espionou e viu mesas organizadas. Mudou de preferência:
- Vamos mais é tomar
uma cerveja bem gelada... no capricho, disse e bateu na mesa.
Aí percebeu que ia
começar outra cachaçada, sob o comando dela. Aliás, ela encampava esse jeito de
mandona.
- Vamos até finalizar
com um namoro, ousou falar no esteira desse clima .
- Vamos até finalizar
com um namoro, repetiu ela. sentando-se no seu colo para acentuar esse
entendimento.
Então
Miguel viu que era bom. Abraçou a gordinha e ficaram nesse rala-rala um par de
horas, enquanto enxugava cervejas e jogavam conversa fora.
-
Hora de café já passou, constatou, conformando-se Miguel. - Como
dizia um amigo de pescaria: “escovar os dentes”, e virava o copo de cerveja.
- Vamos escovar os
dentes! ela como que enxugou metade do copo.
Sentiu o volume na
calça aumentar quando ela se levantou e voltou a sentar-se bruscamente. Por
duas vezes. Acabou puxando-a para um beijo de abertura, com plano de nessa
quentura ligar também as idéias.
Não era “a gordinha”
não, a garota arretada tinha nome com certeza, mas de quem se perdera contato depois da pandemia.
O Jornal Nacional, símbolo consagrado de nosso jornalismo, mostrou ontem uma matéria com o Papa. Nada de especial, uma entrevista distraída com o Papa. Falava da Amazônia, do lixo dos plásticos que se acumulam nos rios, que estão morrendo. Com o bom humor do Santo Papa, abençoando uma loja de amigos numa rua de Roma. Como homem comum, que chegou a dispensar o apartamento papal para morar.
Me fez lembrar de meu avô, Osvaldo Dantas, e suas bizarrices. Isso nos remetem a uma reflexão. Depois de apresentação da matéria, em que há referência ao poeta Vinicius de Morais e ao cantor Roberto Carlos, ambos brasileiros, e aí já agitamos o bairrismo que dorme dentro da gente, pouco nos dando com o fato de serem eles, graças a arte, também personalidades do mundo.
Tomo meu café da Barra da
Estiva, no quintal de casa, e, dado por satisfeito por saber de tantas informações
importantes, tiro simbolicamente o chapéu e digo Boa Noite, William Boner. Meu avô Osvaldo Dantas era quem respondia
boa noite ao locutor de então, Cid
Moreira, e quando alguém na sala lhe cortava, “oh vovô, não precisa dizer não”, ele emendava:
“Como não, meu filho, o homem deu notícia do mundo inteiro (para o nosso
conforto), não custa nada responder o “boa noite”.
Assim sou eu agora. Não
custa nada, descobri que a gente responde para gente mesmo, o que, na lição do Papa,
é bom para o espírito:
- Boa noite.
Simples.