sábado, 14 de dezembro de 2013

Bom-dia, Bahia (II)




No estalo, eu tive a idéia:

- Vamos lá ao tal SAC, aqui pertinho, no Iguatemi, registrar a queixa.

O moço da Delegacia endossou a idéia:

- É, pode ser. Aqui, como vocês tão vendo, é Delegacia Especializada, Crianças e Adolescentes.

Claro, eu e meu amigo só tínhamos nos dirigido até ali porque o hotel em que estávamos, na Capital da Bahia, diante de nossa necessidade, havia dito que do outro lado havia uma Delegacia de Polícia, sem esclarecer aquele detalhe, de ser especializada e em que só entramos para não perder a viagem e pedir algum esclarecimento.

E lá fomos nós, cidadãos baianos, resolver o caso no tal SAC - Serviço de Atendimento ao Cidadão, criado para facilitar a nossa vida, em socorro às repartições encarregadas de tais serviços que não funcionam como deve.

Era mesmo coisa de cidadãos. Gente, gente, gente, que fazia lembrar Caetano Veloso na música Sampa, num verso que diz “do povo oprimido nas filas nas vilas favelas”.  Mas no setor procurado pelo meu amigo, o 14, ali visto na placa afixada na parede da sala principal, que cuida de registro de queixa de perda e extravio de documentos, se é que se pode lembrar de alguma música de Caetano, nesse caso, é aquela que ele gravou do compositor Peninha, cujo título é  Sozinho, isto porque o chupa-cabra do atendente estava sozinho.

- Bom-dia – cumprimentou meu amigo.

- Bom-dia – respondeu o atendente, não propriamente sozinho: estava a despachar um cidadão.

- É aqui que se registra queixa sobre extravio e perda de documentos, pelo que vi?

- Aqui mesmo, mas o senhor tem aí um documento pessoal com retrato 3 por  4?

- Mas eu perdi os documentos...

- Mas sem um documento de identificação pessoal, com retrato, a queixa não pode ser prestada, meu irmão.

- ...?!

- É necessário. Sem isso, infelizmente...

- Perdi também um talão de cheques, tudo junto...

- O senhor sabe os números dos cheques?

- Pelo amor de Deus, até isso? Como é que vou me lembrar de número de folha de cheque, se nem o banco deve saber ao certo?

- Ah, meu irmão, aí fica difícil prestar a queixa. Tem que procurar saber os números das folhas de cheque e ter um documento pessoal, com fotografia.

- Então, pra registrar a queixa sobre perda e extravio de documento tem que ter documento?

Não esperamos a resposta. Do SAC, criado para atender os cidadãos, nessas questões de cidadania, documentos e etc. e tal, mas com certeza com funcionários despreparados e indicados por políticos, nesta Bahia de ACM em processo de decadência, saímos com gosto pior do que o “do povo oprimido nas filas vilas favelas”.



FEV/2006

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