segunda-feira, 24 de março de 2014

Delícia


Delícia. Andava assim num jeans em que o bumbum (tão bonitinho!), nem grande nem pequeno, musicava a calça. Fosse vendida depois por causa desse lance, nessa onda de consumismo, valeria cem mil vezes mais o vestuário dela, tipo assim a menina de Ipanema, do poeta Vinicius de Moraes, que era de traje sumário. O poeta tivesse visto faria uma canção até melhor, sem desmerecer a garota praiana. E agora? Ele não sabia fazer canção. E nem sequer ousar fazer cantada. Então fotografaria aquilo mentalmente. Para sempre. Estaria no seu disco rígido e ninguém conseguiria retirar-lhe. Possuidor do material.

Que usufruiria quando desejasse. E o fez. Por diversas vezes. O imaginário se desgastando; já não sabia mais daquele lance. Então procuraria realidade; algo do retido na lembrança.

-  Quero uma menina, dona Lisa. Passo aí por volta das dez horas. Bumbum e de calça jeans.

- Vou lhe dar um presente: começou agora. Ela vai estar fingindo telefonar num orelhão em frente ao hospital lá do centro.


Quando passou e viu, constatou que não era presente; era um sonho. Num jeito juvenil de fingir ao telefone público. Deu uma buzinadinha de nada e abriu a porta do carro. Depois, esqueça-se desse detalhe da calça jeans e fixe-se só na imagem estirada na cama, assim de não poder nem passar a mão para não causar estrago - um bumbum para ser visto e sonhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário