domingo, 15 de janeiro de 2023

 

Iniciações

 

 Fernanda vestiu apressadamente o uniforme. Fresquinha do banho, veio para ele. Beto a tomou num abraço, encostando-a na parede da saleta. Depois ficaram macetando, que era bom assim permanecer, não tivesse que logo seguir para o colégio. Vizinho, sempre passava na casa dos Gonçalves para ir para a escola em companhia dos irmãos dela, Ismael e Paulinho. Mas, claro, toda atenção para a moça, que era noiva compromissada. Era sagrado. Um esfrega-esfrega e depois ia se juntar com os colegas.

Essas casquinhas valiam ouro. Nem sabia como aquilo começou. Se foi mais por ato extintivo dele ou dela, Fernanda. Essas coisas acontecem sem culpa de ninguém. Ela era mais velha, nos seus 17 anos; com namorado que aparecia só nos fins de semana; ele, nos seus 13, durante a semana de aulas, só com imaginação. Imaginação do mundo inteiro. Vai que ela fazia também com o namorado. Pouco mas fazia. Mas com ele, Beto, menino, era mais à vontade, sem, contudo, demonstrar encegueiramento. Por isso que Fernanda permitia e até avisava quando o noivo ia aparecer:

- Essa semana não que Jonas vai vir – e ria, sem entusiasmo algum, como se fosse hora de ele aproveitar  mais nesses amassos,

Interessante o respeito que nutria em relação à menina noiva: não havia beijos, eram só abraços. Mesmo porque ela não era nada bonita nem engraçada. O normal de uma menina branca, criada na simplicidade do trato, rústica, pronta para o matrimônio. Falavam com sussurros. E isso aumentava o tesão de adolescente,

- Você pode ficar mais tempo, que Jonas mandou recado que será na outra semana a vinda dele.

- É, Fernandinha? – sussurrou.

Ela se abriu num sorriso e perguntou porque ele estava falando baixo.  Respondeu que era para ouvir a voz dela no mesmo diapasão, que era gostoso. Aí ficaram cochichando como se fosse  segredo, ousadia.  Pararam com a pegação ao ouvir o irmão  Ismael chamar por Beto lá fora. Prometera  ausentar-se nos dias de Jonas.

Passava mais ao largo e via as duas cadeiras na frente da casa. O casal namorava inamovível e num quase silêncio. Imagem congelada. Umas voltas na pracinha abraçados até a hora de se recolherem. Haveria repetição na semana seguinte. E até lá, Beto era o substituto. Era um gol que aprendia a fazer nessas  iniciações.

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