Maior que
tudo. Mais interessante que um astro de cinema. Desses que vivem na mídia, da
mídia, para a mídia, a mídia, enfim. A quem interessaria esse chamego bobo
entre nós, cujo processo de amadurecimento não se revelava às claras? Exalava-se
em indagações esse nosso proceder. Um Manoel de Barros do modo de ser, da coisa
ameninada, levada à brincadeira, aquilo que empaca o progresso endinheirado,
“perda de tempo”, “prego enferrujado” achado no quintal e outras inutilidades.
Tudo isso
passava longe do segredo da menina escondida. Ufa! aquele frio na barriga, o
“flagra”, o risco de luz na escuridão, do perto com o proibido... depois o
êxtase alcançado e recolhido, como um brinquedo de abrir e fechar num
inesperado clarão.
Menina
escondida e quantos mistérios em volta desse atrativo. Temos que buscar no
fundo essa passagem. Dar uma sacudida. Mas ela é de manuseio tênue e não se
adéqua aos solavancos de um apressado em busca do efeito, do facho de luz, que
põe o dia de sol escancarado no objeto em apreço. De cegar qualquer um. Não,
era sorrateiro. No máximo os últimos estalidos de uma fogueira na frente de
casa. Onde talvez morasse a menina. Morava, e de lá saía vez em quando.
Dava aquelas espiadas de pé ante pé, “têm gente na sala”, e recolhia-se. Você
ficava sem saber direito do rosto e aduzia que era bonita. Segredos e
confidências!
Quem
não tinha uma menina dessas? Eu tive uma menina de vultos. Dessas de fazer arte
que até o capeta duvidava. Ela carregava consigo um vulcão de hora não marcada.
Daí a pouco ou nada. Quem percebeu primeiro? Eu, com meu faro de cachorro
perdigueiro. Não a acuei. Deixei que ambientasse. Que exalasse por todos os
poros seu cheiro de moça. Desde o suéter debaixo da roupa branca até o recatado
da saia. Tal como pitanga madura que, sem mínimo esforço, caia de graça no
estender a mão por debaixo. Nossos contatos entraram em conexão de imã. Nada iria
mais separar aquelas duas correntes imantadas. Dado seu estado de apetecimento,
impossível se desfazer do grude em que se transformavam esses encontros. E
vinha daí essa nossa pegação, esses nossos amassos repentinos, corrida de
doidos pelos cantos de casa. Uma mordeção. Um exercício canibal do verbo comer.
Então a gente, cheias as mãos, era só revelação ao mundo.
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