Com a mão direita
enfiada por entre a blusa de Rosana, Gustavo brincava de subir e descer morros,
enquanto com a outra controlava o volante do carro. Afagava dois pequenos
mundos, imune ao movimento de trânsito do sábado. Num lance rápido de conforto,
cumprimentava o frescor da noite, enquanto passeava pela orla marítima,.
O fim de semana se abria
em novas perspectivas. Conseguira uma paquera com Rosana, moça de responsabilidade,
que não era para qualquer garoto. Dessas de a empresa apanhá-la, todo dia cedo
e trazê-la de volta à noitinha. A pequena e hábil Rosana era arrimo de família.
Não estava na faculdade, como ele, mas na vida. Esses novos atributos de moça, versão
anos 80, muito lhe valeram. Não deixou de ser uma elogiosa ascensão mudar com
mãe e irmãos para bairro novo. Estava no comando uma menina esperta, durona,
mas de sorriso fofo. Nela destacava uma pinta no lábio superior. Curioso o ressoar
de voz cantada:
- Gente, venha ver os
“Queens”! – e elevava o volume da TV, que transmitia o Rock and Roll naquele verão.
Mas
o que marcava, e só ele percebia, era mesmo aquela pintinha na sua boca. Podiam
passar séculos, a eternidade. Era de uma sensualidade imensa, você parando para
observar. De cair o queixo. E ela pronunciando o nome da banda de forma
abrasileirada: ‘é os Quins”.
Para
completar, a canção que rolava era Love
of My Life em seus primeiros acordes, na voz inconfundível de Fred Mercury.
O som se tornava gigante e enchia todo o apartamento.
-
Climão – dizia ela ao trazer cerveja e espiar a paisagem de gente na praia.
-
Tchau, Ró! – despediam-se os tripulantes daquela barca, mãe e irmãos pequenos, com
destino ao mar.
Caía a ficha para
Gustavo: iam ficar à vontade, só eles dois. Sinal aberto, sob forte calor, crescia o fluxo de
banhistas a caminho do calçadão.
Gustavo viu Rosana de
short e, erguendo-se do sofá,
gritou:.
- Venha, pequena!
- Estava doida para deitar
nesse sofá – falou Rosana no ouvido de Gustavo.
- È comigo, bobinha? –
respondeu ele, de leve, com a língua no ouvido dela.
Beijaram-se e então o
som de um pacote tombado ecoou em meio aos “Queens”. Abraçadinhos, peças de
roupas iam sendo atiradas às sacudidelas. Ficou com a camiseta de Rosana na
mão, até lhe saltarem aos olhos as duas peras para sua diversão, Depois, umas
sacudidas de pernas de Rosana para se desembaraçar do short, que se quedou a
esmo. Posicionados, os dois corpos se reconheceram, enquanto Fred Mercury
reiniciava seu amor à vida:
- Esse cara é bom e a
galera acompanha mesmo. Quando a gente pensa que acabou, o violão parece
conversar – comentou Rosana.
- É linda!
Irrompeu aplauso
seguido de silêncio na hora de pegar e botar o passarinho na casinha. Brincavam
numa tamanha paz que não deram conta de que a janela da sala estava servindo de
tela de cinema para alguns moradores do prédio vizinho que se prestavam a voyeurs.
O ônibus de Rosana
apareceria só na segunda-feira, mas até lá ainda era um domingo e a barca não
iria retornar naquele instante.
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