sábado, 8 de abril de 2023

Rua Carlos Gomes

 


  Passar pela rua Carlos Gomes, naquela hora da noite, não tinha outro propósito que não o de comer. Alguém, já que por perto havia uns hoteizinhos e umas garotas baleadas que por ali circulavam. Ou uma esfhia com Coca-Cola numa das pastelarias chinesas de esquina. Depois, com um arroto prolongado, dar por encerrado o expediente noturno.

Nada mais podia esperar de um jovem universitário de dinheiro contado. Antes de sair para faculdade fizera separação da verba nos bolsos. Um para as cachaças, bolso traseiro. Outro, separadinho e dobrado, para uma emergência. Que podia ser uma garota, se encontrasse de jeito. Como não parecia uma idéia remota mas em perspectiva, arreou seu cavalo e, livros acomodados ao elastic no banco traseiro da moto, deu partida da faculdade,. Tudo certinho, como mandava o script de um estudante classe média. Garoto bonito, dever de casa em dia, tinha um oceano de vida a percorrer de braçadas.

 E era exatamente ali, no espaço local. que o tempo e o personagem se achavam. Disparava o apito dentro de si, nos seus 20 anos, quando viu completar o quadro com a normalidade de uma chuva fina. Havia promessa de uma noite aconchegante. E tudo levava a crer num momento de exclusividade do ego. Olhou para seu cavalo ao lado. Então pegou no guidão da sua HONDA - CG 125, presente de pai, e a deixou estacionada debaixo da marquise ao lado de um hotel. Ficou apreciando seu cavalo, enquanto retirava os livros com cuidado. Tinha atravessado o Rubicão.

  Nesse instante, vinha caminhando na busca de uma proteção uma trôpega garota.

-  Ei, amor, vamos dormir um pouquinho e esperar a chuva passar? - arriscou  a cantada.

Ela aceitou facilmente como se quisesse dormir e encostou seus cachinhos no peito de Eduardo. Ele guardou os livros na portaria e recomendou ao porteiro a moto ali estacionada.

- Ei, vamos curtir a chuva na cama – disse no entusiasmo.

 Contente com a cabeleira dela encostada no peito, Eduardo aceitou o afago e subiu as escadas abraçados.  O  nome dela via-se depois.

Nem o nome e nem como se processou o encaixe das coisas conseguiu Eduardo naquele momento de ego. Demorava a magrinha no seu trabalho de esfregação. Tanto que tendo que ir, por suposição de haver passado a chuva, cuidou de resolver mesmo a seu modo e finalizou o que parecia esperar por uma eternidade. Ainda chegou a dizer “vou terminar por hoje, amor,  que eu tenho que ir. Você pode ficar dormindo mais um pouco, que eu falo lá embaixo. Seu dinheiro eu deixo aqui na cômoda. Está bem, Baby?” – disse com um beijo nos cachos.

Lá fora, o cavalo pronto para receber seu general em mais uma batalha, a principal. Primeira vez era assim, de ar renovado, fotografou com o olhar a cidade lavada, ciente de que era o homem pisando a lua:

- A garota vai dormir mais um pouco – disse ao porteiro, arrumando os livros na traseira e acionando o pedal. 

Deu duas sopradas de despertar cemitério e saiu numa rasgada no silêncio da rua Carlos Gomes.

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