Melhor presente que
lhe podiam ter arranjado. O problema era o aperto no calcanhar de aquiles.
Não se podia acolher acusação de culpar apenas pela proximidade de suposto
agressor. Não houvesse ninguém por perto, ela nomearia culpado objeto
inamovível. Sempre assim. Forma fácil de se colar às costas o termo
responsabilidade. Bem sabia a porta que prendia o dedo ou o telefone
com notícia desagradável.
- Você me irrita.
Não tirava a trava
dos olhos para descobrir que o problema que também morava com ela era ela
própria. Nunca dizia, em sua defesa, nada nesse sentido. Achava ter demorado
muito para apontar nela essa falta. Enquanto, por outro lado, corria a adrenalina.
E aqui merecia também uma digressão. Esse suposto agressor já carregava consigo um tipo de complexo de profundo medo. Daí, após
tortuoso percurso, essa tardia descoberta.
Agora como
saber portar-se diante dessa nova realidade? Andara como que pisando em ovos,
se policiando, com receios de recaídas ou verdades ocultas se revelando, quando
nem pretendia enfrentá-las. Para alcançar êxito, iria pelas beiradas. Por
exemplo, não mais deixar ventilar assunto, que morreria ali mesmo. Só nos
gestos, em complacência, manteriam entendimento mútuo desse disfarce,
Ser irritada
implicava, por lógica, que alguém praticara a ação. No caso dela,
se ele discordava dos conceitos que ela guardava das coisas, era ele
que praticava a ação. E ponto final, não importava que ele nem sequer tivesse
deixado de exercer esse direito de ação.
Descobrira também,
como prêmio de maturidade, nesse processo de convivência, a sensação
de haver alcançada a nobre compreensão das coisas.
***
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