Samanta era o seu nome. Se não era, passava a ser dali em diante.
Adolescente de arrancados pedaços. Pelo menos, um nome bonito já levantava o
astral. O resto era o famoso “banho de loja”. Nem tanto banho assim, mas um
traje decente, sem imponência alguma, nem “flor no cabelo”, como cantava o
poeta. Samanta merecia música, tanto que aproveitou o violão e fez uma para
ela. Depois cantarolou. Sem alteração de semblante, ela ouviu a canção.
Empolgação, num improvisado prelúdio de sexta-feira, só a do autor. E ela, sem
entusiasmo algum, ali figurava servindo às mesas.
O que mais esmorecia Beto, no seu terceiro trago, era a timidez de
Samanta. Não tinha o ímpeto de falar com sua chefe: Quero sair mais
cedo e coisa e tal.
- Depois que lavar as louças da pia, ela vai – disse uma senhora com ar
de patroa, que escutara dele o oferecimento de carona, como se fizesse um
imenso favor.
Favor coisa nenhuma! Beto pediu outra cerveja, enquanto a garota tratava
de deixar a pia arrumada. Lembrou-se da canção de Odair José, que homenageava a
empregada doméstica, e sob o efeito da bebida começou a se sentir o tal. Queria
entrar no universo de Samanta. Ser o seu herói. Ideia brega? Mas nessas
brincadeiras, que beiravam o ridículo, tinha sentido. Ou não?
- Eu vou tirar você desse lugar - cantou baixinho
trecho da canção, erguendo o copo de cerveja.
A canção, no entanto, era de uma outra época. Não dizia respeito a vida
levada por Samanta. Mas eis que estava manobrando o carro com uma mocinha
dentro. Notou que Samanta, pobrezinha, assim do lado, era uma invisível. Também
não conversava,
- Era seu horário de saída?
- Um pouco mais cedo – disse
Samanta.
- Eu trouxe umas coisinhas pra você vestir pra mim e ficar menos triste.
Beto não esperou por resposta e
falou entregando-lhe uma sacola:
- Comprei umas coisinhas pra
você. Têm aí umas roupinhas, umas langeries,
blusas e uma calça jeans, no jeito de
vestir, tamanho “M”.
Só Beto falava:
- Vou deixar você em sua casa.
Quero que você ponha a roupa nova pra mim, tá? Vou esperar você se aprontar.
- Me deixe aqui.
Queria se preservar em relação à irmãzinha. Então seguiu sozinha. Tomaria
logo um banho e viria ficar com Beto ali por perto num barzinho. Beto viu a
garota se afastar com a sacola, mas sem nenhuma pose característica. Deixaria seu molejo para quando se aprontasse ou, macambúzia, se
recolheria simplesmente?
Tomava umas cervejas, enquanto espiava a porta do boteco de minuto a minuto, até que resolveu demorar-se nesse assanhamento. E assim permaneceria até que se sentiu, em surpresa, duas mãos femininas lhe tamparem as vistas. Quando recobrou a visão, deparou-se com uma garota cheirosa de nome Samanta. Era a dele.
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