Cantarolava no silêncio
da noite apareceu a Margarida olê olê olá,
mas ninguém aparecia nem mandava recado. Ficou por ali bestando. Até que de uma
brisa veio um cumprimento numa voz desconhecida:
- Boa noite.
Uma enxurrada de
perguntas percorreu-lhe o corpo, deixando na cabeça uma sensação de comportas
esvaziadas. Com sua coreografia de folhas, uma normalidade de vento espalhou-se
à toa. Então descobriu-se de banho tomado e assumiu o frescor em volta:
- Noite de ficar
enfiado nos cobertores – disse dirigindo-se ao carro.
- Falando sozinho,
cara? – era, de novo, a voz .
- Conversas ao vento,
bem que a gente podia ir matar esse friozinho num motel.
Para sua surpresa, saiu
daquele aconchego extra:
- Só se você esperar um
pouco...
Ao virar-se, topou com um
macacão verde, trajando de frentista:
- Menina, você não tem
medo de trabalhar nesse horário num posto de gasolina não?
Ela passou a dar
explicações de modo apressado. Tinha vencido seu horário mas teve que
substituir um colega e coisa e tal.
- Já estou quase pronta
e vamos lá curtir esse frio – disse, toda segura no negócio, e foi resolver-se
no serviço.
- Eu aguardo,... –
gritou distanciando-se para o bar.
- Lu, pode me chamar de
Lu.
Era uma garota bem formida. Ficou imaginando
Lu fora do macacão verde e do cheiro de graxa, que não chegava a encobrir sua
feminilidade. Ao contrário, impunha um toque de mulher trabalhadora e de
respeito. Dava um outro blend. Só
para quem entendia como ele.
- Rindo sozinho?
Disse o que estivera
pensando dela:
- Daqui a pouco. É só
você me esperar.
Então ele voltou para
sua bebida. Enquanto curtia o friozinho,
esperando Lu, tomaria um “rabo de galo”.
Nada melhor para animar e criar um clima. O que lhe traria Lu de novidade? Foi
até lá abastecer um carro e, com pouco, estava Lu de volta.
- Vamos, criatura! Já
passei o comando. Deixe me trocar ali.
Ela foi logo e voltou
sem o uniforme.
- Me leva daqui.
Aboletou a garota no
carro e se arrancou para o motel.
Após refeição leve,
levantou-se mordendo um cigarro e foi para cama. Com tranqüilidade, corpo imerso
nos cobertores, ficou assuntando Lu embalar o resto de comida com o devido
cuidado e apanhar uns chocolates como novidades, como quem colhe da árvore frutas maduras.
Encarou a garota que a dois passos do leito, na pura tentação, caminhava
evolvida na toalha:
- Eu posso lhe pedir
uma coisa, Lu? Dispa esse uniforme.
E Lu estava sem o
macacão, mas entendia. Diziam, e ela confirmava, que era mãe e tinha uma
filharada pequena. Justificava assim aquela sua destemperança. Mesmo com a
conversa de um conhecido:
- Filho dela mesmo, só
um: o resto é um cordão de irmãozinhos que a mãe deixou.
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