Ele se recordava dela frequentemente ao lado de
colegas. Nem muito melancólica nem excessivamente feliz, mas de sorriso fácil.
Na verdade, seu rosto era o que mais o acompanhava nessa recordação. Não
se sobressaia pela beleza, mas por ser uma jovem comum, companheira. Não havia
presunção nela, que prezava pela discrição. Começando pelo vestuário. A
exuberância de Adilce só existia na imaginação de quem a admirava sem saber,
como agora recordava Edu. Não nascera para ser líder, mas para prestar uma
assessoria de primeira qualidade. Descoberta tardia, mas válida, enquanto vida.
Tantos passes desperdiçados! Vez ou
outra vira Adilce erguer o braço e fazer uma observação para tirar dúvida.
Seria ela uma aluna dentro da média, sem sinais de um segredo.
Também
ela seria a garota respeitada do bairro. Espécie de orgulho adormecido.
Falariam dela, não espontaneamente, mas se alguém provocasse, a propósito de
algum assunto. Fora daí não havia o que ecoar. Só Edu podia tardiamente
conhecer seu âmago. E ficar querendo lhe dar explicações, chamando-a a um canto
de sala:
-
Posso lhe dizer o seguinte, Adilce: – dizia Edu ao pé de ouvido, em contato com
seu cabelo curto, que, ao seu arrepio, aproveitava o cangote para cumprimento
com um beijo.
Ela
se limitaria ao sorriso de sempre e a um volver de ombros, como se falasse com
ele o trivial. E esse quadro ficava
assim se repetindo, em lampejos de Adilce em meio aos colegas de sala.
Quantas vezes, Edu não a tivera
ali por perto e nada fizera? Deveria ter convidado Adilce para uma
cerveja, uma boa conversa, quem sabe?
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