Era bonitinha e nada tinha de
ordinária mas era como se tivesse.
No barzinho de costume,
um toco de garota morena se sobressaía, desaparecendo e reaparecendo com seu
pretume de cabelo curto. Pequena estrela durante a mesada de cerveja com
amigas. Edu bateu o olho de paquerador. Ela estava perto de uma veterana
conhecida que se dirigia ao balcão para pedir mais uma e percebeu o entusiasmo
dele
- Não vai me apresentar
à pequena? – indagou Edu.
A veterana deu sinal, a
garota apareceu toda sorriso, short branco e blusa vermelha, limpinha e
cheirosa:
- Olá, faz tempo que
andava a sua espera.
Ofereceu o rosto para
beijinhos. Mas ele preferiu aproveitar o
pé do ouvido dela e segredar:
- Preciso te ver,
Cabelo Preto.
- Também – ela disse.
Notou que ela tinha
receio, porque deixara o garoto, patrocinador da farra deles, quase sozinho à
mesa. Edu não deu preço as dores do moleque e procurou cercar de atenção a
garota. Foi logo aconselhado pelos mais velhos a evitar uma crise climática no
local. O enfurnado se achava dono. Edu, ao contrário, mantinha-se inarredável,
firme no seu propósito festivo, ignorando as dores alheias. Aproximava-se de
uma típica briga de bar. Mas Edu não levava jeito de mocinho. Deixava que o
rival destilasse irritação. O velho que tentava conter Edu dizia tratar de um
marceneiro, endinheirado de momento. Num vacilo dos contendores, Edu tratou
de encontrar depois com a garota .
Foi o que ocorreu quando, outro dia, passando
pela mesma rua, topou com um capacete que escondia asas de graúna, mas que dele
se livrou, para receber recados e voltar para seu esconderijo:
- No posto de gasolina, daqui a meia hora – disse Edu, passando com o carro rente.
E lá se foi num rasgado a lambreta com garota cheirando a lavanda pós banho
vespertino.
Ali, a Graúna encontrou abrigo para sua lambreta e adentrou o carro de Edu sem pressa. Desde então, passou a ser sua dama de honra temporária. Quando Edu estava em um barzinho, sua lambreta chegava. Assim, ia ele colhendo figurinhas de montar o quebra-cabeça dela, que era órfã.
- Recebi minha casa,
com um barzinho, de herança.
Tomou conhecimento de
que ela enfrentara problema de menoridade com o Ministério Público..
- Você foi abusada, mas
não gosta de falar, é isso?
- Apareça por lá, Edu:
comidinha boa, cervejinha gelada e eu – disse para mudar de assunto.
- Quem vai lá?
- A turma da gente e
pessoas comuns.
Uma espelunca, soube
depois, com infiltrações quando chove. E o negócio era só fiado, que resultava
em prejuízo, não mensurado mas de efeito corrosivo.
- Por que você não
aluga pra alguém do ramo o barzinho?
- Já aluguei uma vez.
Tive que retomar.
Ela precisava de um
companheiro forte. Graúna não tinha comando. Inspirava cuidados especiais, no
final era uma pródiga. Ela era bonita e tinha tudo para ser comum, mas era uma
moça de caráter nobre. E Edu começou a acolher sua visita como uma demonstração
de afeto. Por exemplo, enquanto estava em outra cidade bebendo com amigos, ela
viajou de moto sozinha para se juntar a ele no final.
- Foram doze cervejas; três foram pagas
pela namorada de Edu – contava, confundida, a dona do barzinho.
Outro ato de
demonstração de afeto de Graúna se deu quando ela apresentou a ele uma amiga,
que se sentou à mesa com eles. O dia parecia morrer nas serras ao longe. A
garota, desentendida com os pais, aguardava resultado de exames. Viera de outra
cidade e ia se hospedar onde senão na espelunca de Graúna. Edu completou a cerveja dos copos e deu um
bico no seu.
- Combinamos, eu e sua amiguinha – disse.
- Ela está grávida,
você contou pra ele? – dirigiu-se à amiga.
Edu não esperou reposta
e falou:
- Eu acho mais bonita
assim.
- Então vamos os três.
Tudo
somado, serviu pata selar uma amizade.
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