domingo, 17 de fevereiro de 2013

Poema em dois tempos


A cidade

a cidade é um monstro
criado por nós
nossos temores
frustrados amores
quando nossa rua já não é nossa
nossa casa tem portões de ferro
há latidos de cães em nossos quintais
suspeitos nossos vizinhos
sem cumprimentos pelos caminhos

a cidade é um monstro
de concreto e cimento armado
músicas faiscantes
passantes
e os homens se encontram nos bares
lares

Minha cidade

não quero a manhã tarde
que põe mortos os passos
que deixamos pelas ruas

eu quero a tarde caindo em manhãs
dormir na noite que em silêncio de chuva
se derrama

nas portas e janelas do casario entristecido
nas folhas esparsas das árvores
eu quero o frescor renovado

como que para o beijo matinal
se unissem outra vez os lábios
e assim despertasse a cidade


Minha casa

minha casa não tem muralhas-da-china nem muros carandiru
não estampa guarda de patrimônio de grande monta
é de muros baixos
vizinhos que se acodem na porção do pó de café ou açúcar
num dedo de prosa pela manhã
roupas estendidas no varal
frutos de árvores em comum
de patrimônio tal
que a ladrão nenhum
interessa ali roubar

minha casa não tem muralhas-da-china nem muros carandiru
- vai aí um cafezinho?

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