Um homem e seu cachorro
A imagem que temos de um dos nossos maiores
filósofos, Arthur Schopenhuer, é ele ao lado do seu inseparável cão. O nosso
amigo, no presente episódio, não é nenhum filósofo, mas deu de adotar um
cachorro. Não se sabe, porém, se por recomendação do seu terapeuta ou se por
receita própria, dado que é pessoa de boas leituras.
Em seu trabalho, ele via ali um colega com
problemas conjugais ao telefone, outro tendo que sair às pressas, se
desculpando, porque tinha que ir apanhar os meninos na escola, e outros e mais
outros nessa mesma esteira de labuta. E ele sem uma mulher que lhe aporrinhasse
por telefone, sem menino na escola, sem sequer cobrador à suas costas. Enfim,
isto dia a dia, tornando-se uma normalidade de novos tempos, de que ele não
fazia parte. A ponto de se lhe desencadear uma crise por falta de crise.
E ficava tentando agarrar-se a uma ponta qualquer
de problemas do cotidiano. Solteiro, sem um pinto em casa com que pudesse
preocupar-se para dar água, o caso parecia preocupante, até que teve a idéia do
cachorro. Primeiro comprou toda a literatura existente sobre cães e como
criá-los, tudo disfarçado sob o argumento da falta de segurança na cidade, o
que chegava a convencer a todos, notadamente pelo que se divulga nos programas
das rádios locais.
E quando, em seu trabalho, se iniciava a sessão de ocorrências caseiras, ele agora fazia parte do show. Um se queixava da mulher,
outros dos filhos, outros da escolinha dos filhos etc., e lá vinha ele com o
seu recheio canino:
- ... arrasou os meus canteiros e sujou de terra
toda a área da varanda, mas a gente tem que ser tolerante. Fazer o quê, né?
Dei-lhe um belo de um banho com shampoo e apliquei-lhe um antipulga – dizia com
ar de preocupado feliz, para um certo espanto dos colegas presentes.
E assim foi que se tornou trivial a resposta da
funcionária quando se perguntava por ele: “Ele teve que ir ao veterinário” ,ou,
por vezes, “ Foi dar ração a Apolo, volta logo”.
Preocupados com essa situação e acostumados a
tirarem de letra suas pedras do caminho, os seus colegas voltaram-se para esse
caso. Tanto assim que em conversa com o veterinário acabaram descobrindo que o
amigo havia passado todo o seu problema para o cachorro. Andava dizendo que o
seu cão estava estressado, no que o veterinário diagnosticou o seguinte:
excesso de zelo, pois eram muitos os cuidados que ele tinha com o cachorro.
Por isso é que, no final, os colegas não lhe foram
solidários, quando apareceu pichado no muro de sua casa:
Troque
seu cachorro por uma criança pobre
Nenhum comentário:
Postar um comentário