domingo, 19 de maio de 2013

Um homem e seu cachorro


Um homem e seu cachorro


A imagem que temos de um dos nossos maiores filósofos, Arthur Schopenhuer, é ele ao lado do seu inseparável cão. O nosso amigo, no presente episódio, não é nenhum filósofo, mas deu de adotar um cachorro. Não se sabe, porém, se por recomendação do seu terapeuta ou se por receita própria, dado que é pessoa de boas leituras.

Em seu trabalho, ele via ali um colega com problemas conjugais ao telefone, outro tendo que sair às pressas, se desculpando, porque tinha que ir apanhar os meninos na escola, e outros e mais outros nessa mesma esteira de labuta. E ele sem uma mulher que lhe aporrinhasse por telefone, sem menino na escola, sem sequer cobrador à suas costas. Enfim, isto dia a dia, tornando-se uma normalidade de novos tempos, de que ele não fazia parte. A ponto de se lhe desencadear uma crise por falta de crise.

E ficava tentando agarrar-se a uma ponta qualquer de problemas do cotidiano. Solteiro, sem um pinto em casa com que pudesse preocupar-se para dar água, o caso parecia preocupante, até que teve a idéia do cachorro. Primeiro comprou toda a literatura existente sobre cães e como criá-los, tudo disfarçado sob o argumento da falta de segurança na cidade, o que chegava a convencer a todos, notadamente pelo que se divulga nos programas das rádios locais.

E quando, em seu trabalho, se iniciava a sessão de ocorrências caseiras, ele agora fazia parte do show. Um se queixava da mulher, outros dos filhos, outros da escolinha dos filhos etc., e lá vinha ele com o seu recheio canino:
- ... arrasou os meus canteiros e sujou de terra toda a área da varanda, mas a gente tem que ser tolerante. Fazer o quê, né? Dei-lhe um belo de um banho com shampoo e apliquei-lhe um antipulga – dizia com ar de preocupado feliz, para um certo espanto dos colegas presentes.

E assim foi que se tornou trivial a resposta da funcionária quando se perguntava por ele: “Ele teve que ir ao veterinário” ,ou, por vezes, “ Foi dar ração a Apolo, volta logo”.

Preocupados com essa situação e acostumados a tirarem de letra suas pedras do caminho, os seus colegas voltaram-se para esse caso. Tanto assim que em conversa com o veterinário acabaram descobrindo que o amigo havia passado todo o seu problema para o cachorro. Andava dizendo que o seu cão estava estressado, no que o veterinário diagnosticou o seguinte: excesso de zelo, pois eram muitos os cuidados que ele tinha com o cachorro.

Por isso é que, no final, os colegas não lhe foram solidários, quando apareceu pichado no muro de sua casa:
Troque seu cachorro por uma criança pobre

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