Seu Albertino,
vizinho, pegou um; Seu Pedro Rocha pegou outro; vovozinha, que morava ao lado,
ficou com uma mocinha, e mãe resolveu apanhar
um dos mais novos, Mariano. Os pais deles viviam só na irrealidade das coisas,
tomando suas cachaças e cantando, com essa filharada.
Todos, grosso
modo, foram bem conduzidos na vida. Mas eu quero falar de Mariano.
Mãe tinha um
loja de tecidos e pedalava na máquina de costura fazendo roupas. A gente estava
brincando e lá vinha mãe gritando por Mariano, para que experimentasse um
calção que ela tinha feito. Mariano, um pouco mais velho que eu, não sabia ler
mas escrevia, na verdade desenhava, pois que não sabia o sentido das palavras.
E o principal que descobri nele foi a voz.
A cidade tinha
um serviço de alto-falante, e Mariano, que tinha o hábito de ficar a morder a
fralda da camisa que mãe fazia para ele, entre uma mordida e outra, cantava
imitando Tim Maia, que era o som que rolava então.
Ele descobriu que
eu gostava disso e aí começou a tirar onda de difícil. Eu gosto tanto de música
que passei a pagar doce na venda ao lado de casa para Mariano. O verdadeiro Tim
Maia perdia para ele, Mariano.