sábado, 31 de maio de 2014

MARIANO



Seu Albertino, vizinho, pegou um; Seu Pedro Rocha pegou outro; vovozinha, que morava ao lado, ficou com uma mocinha,  e mãe resolveu apanhar um dos mais novos, Mariano. Os pais deles viviam só na irrealidade das coisas, tomando suas cachaças e cantando, com essa filharada.

Todos, grosso modo, foram bem conduzidos na vida. Mas eu quero falar de Mariano.

Mãe tinha um loja de tecidos e pedalava na máquina de costura fazendo roupas. A gente estava brincando e lá vinha mãe gritando por Mariano, para que experimentasse um calção que ela tinha feito. Mariano, um pouco mais velho que eu, não sabia ler mas escrevia, na verdade desenhava, pois que não sabia o sentido das palavras. E o principal que descobri nele foi a voz.

A cidade tinha um serviço de alto-falante, e Mariano, que tinha o hábito de ficar a morder a fralda da camisa que mãe fazia para ele, entre uma mordida e outra, cantava imitando Tim Maia, que era o som que rolava então.

Ele descobriu que eu gostava disso e aí começou a tirar onda de difícil. Eu gosto tanto de música que passei a pagar doce na venda ao lado de casa para Mariano. O verdadeiro Tim Maia perdia para ele, Mariano.


domingo, 18 de maio de 2014

Meu avô Osvaldo Pereira Dantas



Meu avô Osvaldo Pereira Dantas. Depois que foi embora bate na gente os lances de convivência. Simplicidade, bondade, honestidade – isso fica gravado em nós para sempre. Mas existem também os lances de humor, que envolvem o choque de gerações e de conhecimento da modernidade que se processa hoje em ritmo acelerado.

Vou aqui iniciar uma série de pequenos episódios ocorridos durante nossa convivência com vovozão (ele era graúdo), sub-titulando, conforme o caso.

O caso da TV

Para começar, vale esclarecer que quando Cid Moreira terminava o Jornal Nacional e dizia boa noite ele respondia boa noite. Um dia ali estava e fiz uma correção:

- Vovô, o senhor não precisa dizer boa noite, que isso é televisão: Cid Moreira não está vendo a gente.

- Mas meu filho, depois do homem dar notícia de tudo, do Brasil e do mundo, terminar o serviço, como é que a gente deixa de responder o boa noite?

Acontece que um dia ele estava na casa de meus pais e acabou maravilhado ao ver que a nossa TV era colorida. Procurou saber, vendeu umas duas vacas e encomendou ao genro de tio Zé Pereira – que transitava para S. Paulo - um aparelho de TV a cores.

Dedê Dantas, meu tio, tomava cerveja comigo, eu de férias, vindo da capital:

- Vamos assistir ao jogo da seleção do Brasil lá em casa – pai tá entusiasmado com a televisão colorida.

Pedi uma saideira  e outra.

- Vamos, que já tem dez minutos de jogo.

Fomos. O Brasil jogava contra a Suécia, com o uniforme número dois

Entramos, o jogo já em andamento etc.

- E aí, vô, como está o jogo?

- Ei, meu filho,esse timinho de azul tá pra matar nós.

O timinho de azul era o Brasil; a Suécia era camisa amarela.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Ao cantor e compositor Dedé Badaró




Dedé Badaró,
sua melhor canção
não é de sua composição
mas a que você canta, interpreta
toca
Teca

Candiba(BA), 20.03.2014.

Nei George Prado (Colinha)

domingo, 11 de maio de 2014

O menino passarinho I


Para Daniel da Silva Prado

Não era nem menino nem passarinho. Nada a ver.

Molhava as plantas de sua casa num certo dia e aí aconteceu.

Borboletinhas em volta no jardim do quintal, e aí aconteceu: elas, as borboletinhas, volteavam por entre as plantas, com festividade, num fim de dia.

Então surgiu um passarinho diferente, que pousou no pé de romã.

Como ele não se arredava, mesmo com esguicho de água da mangueira com que regava as plantas, aproximou-se, brincando:

- Ei, como é seu nome?

- Ramon – o pássaro respondeu de forma cantada, que ele entendeu.

Surpreso com a “fala” do pássaro, que não era fala e ele entendia, indagou:

- Por quê estou entendendo você?

- Porque você é um poeta. Olavo Bilac não conversava com estrelas?

- É, mais isso só na poesia...


O passarinho estranho deu uma girada de pescoço e respondeu: - Vem gente; depois eu volto – e saiu do pé de romã.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Jair Rodrigues, o artista




eu coloquei este título porque aqui na região
existe muito Jair
e inclusive dos Rodrigues
e é claro que eu quero prestar uma homenagem a ele
que tanto nos alegrou
como cantor
com suas interpretações
primeira qualidade
só que o principal de Jair Rodrigues
além da voz
era o astral
alegria
daí este registro
o sorriso dele, egoisticamente, eu guardo escondido para mim
mas acabo espalhando para vocês
como forma cristã
de dividir o pão

08.05.2014

sábado, 3 de maio de 2014

Paulo Sérgio e a radiola




Lá em casa, anos 70, havia uma radiola – esses meninos não sabem o que é isso e eu explico: era feito uma mesinha que tinha um rádio AM com várias faixas e um espaço separado para botar os discões tipo LP para tocar, que pai volta e meia trazia das suas viagens. A empregada vinha e passava na madeira óleo de peroba, que fazia lustrar tanto o tampo da radiola como a voz do cantor novo. Diferente. Chocante. Um novo Roberto Calos. Minha irmã mais velha logo apaixonou-se por ele, em traição a Roberto Carlos, cujo anelzinho de casamento a gente tinha comprado na loja da Dona Nida, em 1968, no maior entusiasmo.

Aí não era só lá em casa não. No alto-falante da cidade, no alto-falante do cineminha de fim-de-semana, no circo, só rolava ùltima Canção e outras músicas de Paulo Sérgio.

Eu passei a gostar meio escondido de Paulo Sérgio, mas quando  pegava na capa do disco do rei RC, ainda mais naquela época de ditadura militar, eu ficava com medo desse gostar – rei é rei, mas eu também o traí curtindo Paulo Sérgio e chorei o dia em que ele se foi.


E a radiola?

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Gal, menina bronze





Modismo. Aquela época (1977) devia ser a do bronze – revisitada - para lembrar aqui o poeta Fernando Pessoa.  (Gal por onde agora você se bronzeia, pequena e bravinha?). Gal, se você passasse o dedo no corpo dela parecia que tirava tinta mas não saía qualquer tinta: ela era mesmo bronze.  Adorava aquela cor. Os cabelos - Luluzinha da revistinha. Argolinhas discretas nas orelhas meio jeito phippe; próprio. 

Tomei um dia um suco de caju no apartamento dos pais de Gal (sem a presença deles), a propósito de um trabalho escolar, em companhia de Paulo. Paulo, brancão, de Uberaba, na Bahia (o pai tinha uma empresa de transporte filial em Salvador), não ligava assim não para esse tipo de menina; gostava era de mulher brancona igual a ele mesmo. Otário. Ele tinha uma mania de trancelim de S. Judas Tadeu - peito cabeludo -, que serrilhava de vez em quando entre os dentes, o que só isso achava meio legal, mais nada. E era bom no basquete, no vôlei e aluno bonzinho, ao gosto das freiras irmãs do Instituto Nossa Senhora da Salete, nos Barris, em Salvador, na Bahia, como figura exemplar. Até achava aquilo chique mas meio minhominhom. Ah! Tocava um violãozinho, duas ou três músicas, o que já era suficiente para causar algum efeito. Eu, no entanto, tímido, tocava até mais, mas sem aquela pose elegante de Paulo (cadê você, bicho?).

Estou escrevendo para rememorar essa fase colegial dos anos 70, com foco na figura de Gal e Paulo fica me atrapalhando. Vá pra lá, Paulo, com suas brancuras e seu trancelin de S. Judas Tadeu (gente boa, até ao gosto das irmãs do colégio). Gal. Quero me lembrar dela. Cadê você, Maria das Graças Aquino (viu como me lembrei do seu sobrenome?).


Estávamos na fase dos quinze anos. Eu ficava encantado com a responsabilidade de Gal, como irmã mais velha, no colégio, cuidando de seus dois irmãozinhos menores, menina bronze e Luluzinha da revistinha (soube depois que seus pais eram separados).