quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Perder a graça







eu estava sonhando
quando diminuíram meu quintal
com a largueza do mundo
na crueldade do sol

e não precisava nos contar tudo
assim
tintim por tintim 

              

21.12.16

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Transfiguração





Apenas vagamente alguns registros. Não deu para gravar, ou, numa linguagem mais atualizada, “salvar”. Com a mesma rapidez com que passei a entender, passei, depois, ao estado em que me encontrava antes do contato. Com essa coincidência, de que agora sei.

    Sei o quê? Era uma sensação de desligamento –  meu corpo ia ficando sobre a cama, enquanto me via guiado por outros. Mas aí se instalou um medo e então voltei. O que senti, ainda um pouco preso a minha realidade, foi mais que suficiente para deixar saudade. De quê? se não posso dizer? Saudade também não é propriamente a palavra adequada. Poderia descrever aquele instante como de leveza e conforto nessa transfiguração, até que de lá de cima, em companhia de amigos desconhecidos, como que sobrevoando, vi meu corpo acomodado na cama e quis retornar a ele, o que ocorreu de forma automática. 

Porque ultimamente acontecia de encerrar minha leitura da noite com livros espíritas, cuidei haver sofrido influência do texto durante o sono. Foi isso.

Acho que não estava preparado para essa viagem, e fico, por vezes, a buscar esses registros, dando azo à imaginação.

Medo enorme de encarar a morte, percebi o quanto foi reforçada a importância de nossa passagem pela vida, sem pressa, até que se alcance essa leveza, de quem quer voar, sem qualquer obstáculo, e voa...

12.12.2016


sábado, 5 de novembro de 2016

Valores



Os valores se inverteram, companheiro
não adianta
em nossos trilhos desponta
incipiente matagal
da cibernética ultrapassada

a própria palavra companheiro
tornou-se estigmatizada
você é comparsa
sem o ser

é preciso rever seu estoque de palavras
ter cuidado
assassinaram aquelas, balearam outras
que você sabia tanto manejar
e entravam como música

até a música
é outra a canção
que lhe dão
que você deve seguir
como um pão do dia a dia

(é esse o pão
que se divide)

a mentira se tornou fácil e institucionalizada
não precisa de nenhum ardil
não se dão a esse trabalho
os ladrões
a ponta da gravata do objeto do crime aparece
mas só você viu

05.11.2016

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Êxtase




ir dentro e fundo num escuro que se vai descortinando
em cores
claro como a manhã
que fica
feito fruta madura
descoberta a um galho
de árvore
inacessível
à mão inquieta em sua adivinhação
de novidade


01/11/2016