Três estudantes universitários, à procura de um encontro interessante na
metrópole, se depararam com uma jovem que parecia estar se perdendo.
Confortavelmente, aceitando a carona oferecida pelos seus caçadores. Para um
local inesperado. No começo dos anos oitenta, era um lance burguês ter um carro
na mão. Ao tomar conhecimento da novidade, Toninho discou o número do colega
Ítalo:
- Hoje, vamos os três. O pai de Róbson cedeu o carro.
Os três cavalheiros, assim chamados na universidade, se comprometeriam
com o programa de fim de semana. Beberiam na lanchonete habitual,
conversariam e, em seguida, partiriam para a noite.
O Corcel II, todo lustroso, com um som bacana. Dentro dele, os rapazes se
comportando como caçadores empolgados. Ítalo sorria com a comparação boba que
fazia. Com o objetivo de abordar garotas, pelas ruas desnudas, seguiam com o
carro num ritmo de carrocinha de pegar cachorro,.
Vez por outra, Robson,
agoniado, exasperava:
- Nenhuma.
- Quando menos se espera é que
aparece, cara - disse Ítalo.
Enquanto se imaginavam maravilhas, a
carrocinha rolava no asfalto. Batia uma brisa fresca. Ítalo pôs o rosto para
fora do veículo e puxou para si o espírito daquela década de 80.
- A gente tem que estar preparado.
Cada um colaborando com o outro, sem usura, sem essa tara toda, para não
assustar a garota.
- Nem pintou direito a menina, cara.
- É, mas quem conhece...
Pelo jeito, tinha que ser o
responsável ali - conjecturou Ítalo. Não
confiava muito na maturidade de Róbson, com seus arroubos de rebeldia, tampouco
de Toninho, dado a paixões hilárias. Todos
na casa dos vinte, teria que ser ele o cabeça da turma.
- Olhe aquele broto... sozinha... Não!
não pode deixar não, cara. Pare o carro, Róbson.
Devagarzinho, a carrocinha acompanhava
um Chapeuzinho Vermelho pela floresta
dos homens, com um papo levado aos trambolhões, num bombardeio de perguntas,
sem respostas. E, ela apanhada assim com aquela alegria juvenil, apenas esboçou
um sorriso, como se, de longe, aguardasse por tais manifestos e que a vida poderia
seguir de qualquer maneira sem eles.
- Deixe que eu vou falar com ela e
ajeitar, para nós, um programa mais democrático - disse Ítalo, mais adulto no caso.
Passados poucos segundos, voltaram abraçados
como um casal acostumado. Sem embaraço nenhum, ela entrou no carro.
- Te apresento o cavalheiro Robson,
motorista, e, no banco traseiro, nosso outro cavalheiro Toninho. Vamos fazer um
passeio democrático, ok? – disse se acomodando no banco traseiro.
Foi o bastante para uma arrancada de
Robson, invadindo ruas e rasgos da madrugada. Teve que tanger os braços de
Toninho:
- Contenha-se, garoto! Hora de agir
com diplomacia, não selvageria.
Primeiro, vamos ver com quem ela quer ficar primeiro. Não é, Baby? –
disse Ítalo passando a mão pelos cabelos da morena sorridente. Certo que,
tirando o lado efusivo do grupo, ela era tranqüila, nada parecia temer.
- Puxa prum motel, Robson – disse
Ítalo, perscrutador.
O carro saiu embalado cortando em becos
e retomando avenidas como chuva numa enxurrada, até avistar letreiros luminosos
em placas erguidas num alto de encostas:
- É o seguinte: Toninho vai ficar
agachado pra enganar o esquema; lá dentro a gente se ajeita.
A
garota nada dizia, nem sinais de
protesto senão fachos de tímida alegria, sempre com gestos afáveis com um e com outro dos cavalheiros.
- Abaixe-se aí e fique quieto,
Toninho, que vamos passar agora – ordenou Robson encarregado.
Para os cavalheiros havia o sonho de
estar num quarto de motel com uma mulher. Uma novidade boa. Ítalo notou que
essa novidade também valia para a parceira, que pediu uma breve pausa.
- Decerto que é para uma espécie
de “reconhecimento” do gramado, como
fazem os clubes no futebol – imaginou Ítalo.
A musa se acomodou na cama,
esticou-se, rolou, se levantou e se virou de costas, chamando com a mão. Os
três, com sede no pote, repletos de mãos de carinho, concordaram, de forma
implícita, com o costume de ir uma pessoa por vez. Ítalo se divertiu com jogos
de abraços e beijos, bolinando nas áreas nobres, prevendo que esse seria o
procedimento habitual, que os outros cavalheiros também seguiriam, prontos para
agir, num cercado improvisado no quarto.
Na hora de se despedir da garota, Ítalo lembrou que estava em cartaz o
filme de Bruno Barreto, Dona Flor e seus dois maridos,
baseado na obra de Jorge Amado, deu beijinhos no rosto dela e voltou para o
carro contente.
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