Deu-se que Beto
despertou num barzinho de subúrbio, música ao fundo, mesa bem representada por
uma bancada feminina, cerveja gelada, cheiro de churrasquinho, tudo arrumadinho
e com a garota Cida, em destaque, como coisa perfeita com texto de grafia com
tipo aumentado para além do corpo 12:
- Diga aí, Gato!
- Sente aqui, Cida. Com
você, eu abraço o mundo.
Beto gostava de abraçar
uma enormidade boazuda, como estava Cida, que, encontrando acomodação nos seus
braços, concordava como encaixe para aquele sábado.
- Hoje, o dia é grande!
– foi dizendo Beto.
- E sagrado – completou
Cida.
Ditado o rito, entendia
Beto que o papo se estenderia com a cerveja:
- Mais uma aqui para
nós, garçom.
Cada movimento tinha um
beijo que roubava de Cida.
- Estou me sentindo
como um cãozinho que eu vi outro dia na praça. Será que vou precisar também da
ajuda do cachorro grande? – quis saber Beto.
E encontrava jeito de
contar a história do pequeno cão que sobrava, toda vez que tentava copular com
uma cadela maior.
- E daí? – quis saber
Cida.
- Só foi conseguir
graças à ajuda de um cachorro graúdo que já tinha se desocupado na fila de
parceiros da cadela.
- Tinha fila de
cachorros?
- Tinha. Vendo o
esforço do cãozinho, para dar moral, o cachorro grande apoiou o peso de sua
pata sobre o traseiro da cadela, que arriou seus amortecedores e foi
providencial para o pequeno. Solidariedade de macho.
- A solidariedade é
tudo – disse Cida.
O sábado ia se
revelando com cara de fim-de-semana quando a conversa descambou para outro
rumo. Uma explosão de alegria da garota saltou por conta de um cartaz afixado
na parede. Anúncio de um concurso para Polícia Militar. Cida deu um salto como
se fosse um gol no Maracanã e gritou:
- Vou fazer. Vou fazer.
Vou fazer!
Arrefecido o grito de
guerra, Beto disse sério:
- Você vai ficar um
charme de uniforme – e mostrou o corpão de Cida para a turma, que levantou
aplauso.
- Fui batizada então?-
reacendeu Cida.
- Considere-se.
Nesse achado
alvissareiro, ele tinha sido testemunha: estava com a garota certa, na hora
certa e no lugar certo. Iria, mais tarde, para uma comemoração antecipada. Foi até o ouvido da futura policial e contou uma das suas. A do poeta embriagado
levado pela PM:
- Como posso afagar-te se me pões algemas nas mãos?
Ela se tornaria essa
elegância toda quando tempos depois encontrou a estampa de uma policial fazendo
ronda na praça. Meneou a cabeça e, no seu íntimo, desejou sucesso para a
garota do tamanho do mundo, que num sábado desses percorrera como um cãozinho feliz.