sexta-feira, 24 de maio de 2024

Negócios

 


 

Logline:Acordar com ima mulher ao lado e não se lembrar de h     haver negociado nada.

 

O Sexo, na sua essência, era uma questão que envolvia tanta a intimidade, que integrava uma oculta e universal unanimidade, como um código inerente a todo vivente. Uma relação se dava na troca desse segredo. No dia 20 de abril de 2008, por volta das 6 horas da tarde.  Edu despertava num quarto de hotel com uma mulher estranha e não se sabia de de haver negociação entre eles.

- Como vim parar aqui?

Ele ainda conseguiu engolir o “pelo amor de Deus”. Podia ser um momento de se estar falando, latejo de pecado, o nome Dele em vão..

- O senhor me tirou pro quarto.

- E depois?

- Fomos pra cama.

- E depois?

- O senhor tombou de lado e foi dormir – explicou a parceira, na dela.

- Ninguém entrou?

- Ninguém.

- E você?

- Eu? Fiquei aqui e também acabei pegando no sono.

- Você deixou de sair com outros, né?

Ela esboçou um sorriso frouxo:

- Ah, eu estava acompanhada, né?

Vinha na mente que era um domingo. Devia estar com a família mas estava ali. A cachaçada teria sido homérica. Trouxe uma vaga lembrança de um colega de copo. Que estaria esperando por ele ou simplesmente se escafedera. Tinha que acertar e ver-se livre de tudo aquilo.

Era erguer-se e partir para a normalidade. Enfiou a mão na carteira, intacta. Admirou-se por esse feito. Então retirou uma nota graúda para ela, como agradecimento talvez. Decerto que por estar vivo, não ter sofrido admoestação.

- Está bom, filha? – perguntou Edu, com uma nota.

Ela apanhou o dinheiro e deu de ombros. Como se não tivesse nada que cobrar. Ele examinou-a e a achou de boa cepa. Mas estava inclinado a escapulir. Nessa inquietação, descobriu-se sem arrancada, numa ressaca tremenda. Depois, como que pisando em ovos, vestiu-se e caminhou para a porta. Contava com a garantia de barra limpa? Foi rompendo, pegou na maçaneta e, em assombrosos flashes, vieram-lhe as figuras de um porteiro e sua assistente, que faziam o jogo,

- Ficou mais tempo? Como assim o valor do quarto não estava incluso? Quando tentava entender, tinha que se esquivar de outra flechada:

- Conta do vigia do estacionamento?

Já caindo pelas tabelas, mais outra flechada:

-  Conta de bar, do companheiro que ficou lá com outras garotas? Quem pediu comida?

Repassaram tais flashes. Mas girando agora a maçaneta, Edu não entraria num inferno, conforme indicava a pressão psicológica, ele ganharia a rua. Foi assim que aprontou o passo e saiu vibrando como se tivesse feito gol no Maracanâ. Ainda alcançou um clareado de dia quando enxergou certeza no carro presente no estacionamento, quase vazio, naquele morrer das horas de um domingo, sem troca de segredos. 

 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Geisa

 

Logline:  Ainda um menino, já deixado para trás o candeeiro aceso ao lado da cama, ele teve seu correio de sonhos suspenso por descuido moleque. Haveria tempo para uma virada?

  

 


Ítalo reviveu a experiência de correspondência com garota ideal, por ocasião de sua adolescência. Época de complementação ginasial, de cercado de prédios, de barulho de cidade grande, de telhados escuros de casario antigo e de tédio de um menino assombrado com o mundo. Que nas horas de folga - quando resolvia um problema de matemática - apanhava o violão e batia um rock Ninguém para aplaudir, voltava para a escrivaninha. Lá fora carros para lá e para cá, sem destino. Pessoas também. Vez em quando abria a porta do quarto para dar esporro nos meninos, na sala, cada um na sua;

- Vou fechar a porta, pra fora os dois.

De volta para encontrar o valor de “x”. Era um ato solitário, para quem se sujeitava ao sacerdócio, Preferia então os livros da coleção Trópico - Enciclopédia Ilustrada, da Editora E.P.- MALTESE, achava um mundo de conhecimento ali, mas estava superada, a professora tinha dito reservadamente.  Esse pessoal tinha mania de falar em livro superado. Concordava em parte. Não podia jogar fora José Mauro de Vasconcelos, autor de Doidão e Meu Pé de Laranja Lima, só porque a professora falou aquilo. Além dó mais, era coleção completa, que a mãe tinha comprado fazia pouco tempo.

Muito apegado a essas coisas, ia se desfazendo delas aos poucos. Uma coleção monstro de gibis o espreitava da estante, cada vez mais ocupada por livros didáticos. Do guarda-roupas não se podia dizer que guardava roupas mas uns molambos entremeados de umas poucas  domingueiras, de novidades vencidas. Também nem inventava de sair. Era o sacerdócio e a mesmice. Um pouco de fita cassete de Roberto Carlos. A janela na sua exploração lato sensu. Era até uma possibilidade de comunicação, além da nesga de sol, torre da TELEBAHIA e do acinzentado visual urbano.. No exercício de liberdade íntima, a pessoa tinha que ter a confiança de alcova. Ali seu santuário, adiante a biblioteca, mais adiante sua quadra de práticas esportivas, seu palco e sua passarela.

Esse tempo todo e nem um sinal dela. No momento havia em disputa umas três garotas: a empacotadora de pão, uma branca, de uniforme verde, gente boa, mais duas colegas, Marilene, que tocava instrumentos de cordas, dançava balé, jogava bem no vôlei e basquete e aluna de 8 a 10,  e Nívea, pequena, bonitinha, de olhos verdes, cabelo de presilha, aluna nível médio..  Em silêncio, como competia a um adolescente.

Não se sabia ao certo como caíra-lhe à mão um binóculo infantil, desses de Zorro, bom para bisbilhotar janelas ao longe e focar um rosto de mulher. Devia ser do irmão mercenário, que iria cobrar aluguel do artefato. Mas foi de utilidade revolucionária. Aí. Ítalo passou a agendar a vez do aparelhozinho. De manhã e final da tarde eram reservados para tal caça. Até que, em meio a paredes em labirinto, saiu-se livre numa frincha por onde andava o sol de mãos dadas com a brisa, e se encaixou em cheio numa garota tomando os primeiros raios de sol. Para completar, com um aparelho de som por perto e agarrada à leitura de um livro. Cena de filme.

Criou-se então costume novo com alteração no plano de estudo. Dia de sábado, por exemplo, esperava a saída de umas duas amigas para então começar a paquera. Aprendera rápido a usar bem os gestos. Num dia em que terminara uma apostila de matemática e tomara um vinho em comemoração, acabou por declamar, usando seu palco, um trecho do poema de Castro Alves para ela:


Oh! eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito

Qual branca vela n’amplidão dos mares

        Ítalo achou a namorada que faltava. E usou uma tábua de compensado para ser erguida no alto com seu nome e endereço numa cartolina nela afixada. Erguia um tampo de madeira diante do janelão. Assim, em resposta, recebeu de Geisa uma carta com letra de música de Vinícius e uns coraçõezinhos articulados em vermelho.

Tinha que corrigir os meninos na sala. Mas, como quem mexe com menino acaba molhado, recebeu logo a cobrança:

- Ei! Meu aluguel de binóculo venceu e você fica só curtindo ele.

- Depois acerto tudo, Tom. E você, me ajude a erguer essa tábua aqui na janela, depois eu explico – pediu ao primo, sem mais camaradagem.

Era a tábua uma estrovenga, ruim de movimento, mas ele segurou-a no alto enquanto Ítalo cuidava do binóculo.

Queria explicação. A explicação foi um pé na bunda do primo.

- Pra fora, todos os dois.

Não podia dar vacilo, que os meninos, no quarto, iriam revirar guardados seus  Em decorrências desse detalhe, trazia o quarto, seu reduto, trancado à chave. Tanto que se apegara àquele espaço físico onde acrescera à sua imagem uma barba bem desenhada, rescendendo a lavanda. Pós.

Valorizava muito a carta (lida e relida) enviada por Geisa. Que era fofa, de short, no telhado. Eram namorados e pronto: tinha uma garota. Passou então a trocar correspondências e  cuidar do visual. Diferente.

Chegou até a compor uma canção para Geisa. Ítalo tinha necessidade de mostrar pra ela mas não encontrava jeito. Pensou em mandar uma fita com a gravação, mas não ia ser legal e desistiu da ideia maluca. Depois se viu pagando com agrado os meninos.

- Sentem aí e ouçam, se não é linda.

Mas Ítalo acabou por dormir de toca, como se dizia, ao permitir negligentemente que a porta ficasse só no trinco e o primo entrasse e fizesse a presepada pelas suas costas, num dia em que se maravilhava olhando de binóculos. Geisa se irritou e em protesto deu ao namorado cartão vermelho para nunca mais.

domingo, 19 de maio de 2024

Vamos de verde

 


Publicado há mais de 30 anos atrás na Folha do Algodão

         Vêm tomando copo, já há algum tempo, movimentos organizados em defesa da Natureza. Em países desenvolvidos, como os da Europa, o espaço para a agenda de prioridades é cada vez maior para a ecologia. No Brasil, este gigante em território, manifestação nesse sentido não tem encontrado o impulso necessário, o que, até certo ponto, pode ser explicado pela situação da maioria da população, mais voltada na vida diária para questões imediatas como desemprego, fome, violência urbana, falta de moradia, , ensino, saúde, etc., já superadas por aqueles países. Uma pena. Assistimos diariamente, de maneira passiva, e até mesmo conveniente, aos crimes praticados contra a Natureza.

         Outro dia, estando de passagem pela fazenda de um amigo, pude imaginar uma situação triste e absurda. Já imaginou os pássaros, em vez de aves, répteis? Répteis sim. Eu acabava de presenciar um cardeal andando pelo chão em que não havia sequer uma árvore num raio de mil metros. Não foi sem razão que uma certa escritora americana chegou a escrever que, caso vivêssemos como simples inquilinos, há muito já teríamos sido despejados por danos causados no imóvel.

         Lembro-me, não faz muito tempo, de tantos passarinhos (sofrês, cardeal, pombinhas), no quintal de casa. Hoje, passando pela estrada Candiba-Guanambi, para ficarmos num exemplo, o que se vê é área devastada, propriedades sem reservas naturais, algumas aves pousando em fios de cerca, codornas cruzando a estrada sem moitas por onde embrenhar-se.

         Ainda  que mergulhados em forte crise, não devemos aceitar a idéia de que esses movimentos são próprios de países ricos, livres de problemas sócio-econômicos. Precisamos, urgentemente, sem abandonar outras lutas,  empunhar com mais firmeza a bandeira do respeito à Natureza, a exemplo dos demais povos, pois ninguém sabe o que há do outro lado e aqui talvez seja o céu que tanto almejamos. Por ora, vamos de verde!

 

(Folha do Algodão - Junho/julho/1993)

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Lia

 


 

Logline: Uma encomenda de campanha publicitária às vezes pode ter outras utilidades.

  

Com qualquer agitação local, começaria a incrementar a campanha. Nesse embalo,  Beto fez manobras  na frente do comitê que levantou poeira e efervesceu a garotada. Saiu cantando pneu num rasgado, em busca do novo lance. Era o jingle. Tinha que ir até o Studio de Tom, na cidade vizinha, apanhar a mídia para ver tocar fogo na coisa e dar o ponta pé inicial. Partiu sob gritos do nome do candidato.

- Beto foi buscar. Daqui a pouco chega – era uma companheira de partido sossegando a expectativa dos demais.

Tinha que ir num pé e voltar no outro, como se dizia então.  Beto sentiu o peso da responsabilidade partidária, Podia delegar esse poder para um dos contratados, mas até nisso não cabia vacilo.  Deixaria com ele, traria a encomenda conforme o trato. Ao passar na entrada, viu Lia no ponto, uma garota com quem tinha um acerto de contas, enfiou a cabeça na janelinha do carro e disse aos berros:

- Lia, só vou ali no Stúdio de Tom e volto pra gente ir embora. Me espere, ok?

Tanto assunto de política na cabeça que já ia se esquecendo da figura de Lia, Ela, ainda mocinha, com cachos de cabelos escuros a contrastar com sua pele branca. O chique ficava por conta da blusa fina que punha em destaque projetos de seios perfeitos. Ela andava carente de um comando paterno. E assim mesmo vivia beirando movimentos de adolescentes. Um dia, quando surgia um clima para práticas de rapinagens, Beto, vendo solitária figura de ninfeta no portão, entendeu de agir como um tio:

- Pra casa, Lia, isso não são horas de mocinha estar fora de casa não. Se a moda pega...

Sabia-se lá o psicológico de Lia, como se consolou em casa. O certo que o tempo fez das suas perversidades. Achou de ver a estampa de Lia, de novo, com ligeiras adaptações para o modelo  completo de moça, numa estação de primavera. E Beto sem as chances de se estender num papo com a garota, às voltas com sua independência e sofrendo marcação de namorados.

Numa pausa que teve, segredou-lhe um elogio respeitoso, que depois acharia simplesmente “careta”. Bem feito, corno, quem mandou ralhar com tom mais para ríspido com uma adolescente? Era passado. O importante era a Lia de agora, Lia mulher, com projetos de seios realizados, olhos negros de jabuticabas. Lia, mãe solo, esperando carona de Beto, para ajuste de antigas contas, seguindo o mesmo estilo de apressado. Apanhou a mídia no Stúdio de Tom e, de volta, viu Lia, apetitosa, no ponto, dispensando caronas com a mão,  à espera dele.

Encostou o carro na sarjeta e abriu a porta, como que combinado, ela entrou e encontrou um cumprimento nos braços ansiosos de Beto. Ligou o som do carro e deixou que o jingle do partido encobrisse o silêncio que se estabelecera entre eles. Estava animado com a musiquinha, que, encerrado mais um item de trabalho,  ia cair no agrado da turma do comitê e estava dado o ponta pé inicial.

Meio caminho andado, foi costeando o carro dando seta e pegou um atalho à direita, quando Lia pareceu se assustar:

- Ué!...

Em silêncio permaneceu Beto ao entrar num lugar de luzes e, num tempo exíguo, fazer os reparos necessários num ajuste de contas do passado.

 

 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Solange

                                                                              

Logline: Fim de uma etapa, início de outra. algumas coisas ficam, outras marcam e à frente há uma entrada se descortinando.

 

 

Um motivado anseio despertava Edu para aquela viagem de volta. Era só aguardar a colação de grau e a despedida do estágio, para arrumar as malas e se mandar para o interior. Fim de uma etapa em sua vida e começo de outra. Onde estava o cinegrafista para fazer uma fita desse episódio? ao menos uma foto ou apenas um print da lembrança pura daqueles momentos derradeiros do curso, de despedida da Capital, da impossibilidade de reviver esses instantes, prendê-los numa narrativa, com os arranhões de incautos amadores?

Edu desceu da moto, que logo seria vendida para despesa que o esperava com enxoval do seu primeiro filho, de precipitada programação. Correu a mão ao longo da motocicleta como se agradecesse a um companheirismo de cavalo, que lhe fora de muita serventia. Refletia a prova da imensidão desse riacho, que, de jogo começado, ninguém sabia até onde ia, antes de se espargir no mar.

 Solange pedira carona na saída do último dia de estágio. Essa baixinha era uma loura retada e boa de copo. Garantia de um colega:

- Tomou umas caipirinhas, tomou todas, que deixou a gente chumbada .

 Saíram do fórum, ele a deixaria na Barra. Pelas avenidas e ruas, o calor de Salvador envolvia o jovem casal, que se via aliviado com a brisa.  

- Vamos tomar uma de despedida. Você fez o relatório? – quis saber Edu,. 

Edu se considerava livre: fez o relatório e recomendou os processos em andamento. Relapsa, o dela seria entregue no dia seguinte. E nem era bonita o bastante para ser retada, essas coisas de enquadramento. A baixinha, a procura de sombra, acomodou-se numa das mesas do agrado e, enquanto Edu estacionava a motocicleta, foi desabotoando a jaqueta e pedindo uma gelada.

- Mas o meu está quase pronto, consegui que o monitor autorizasse receber amanhã – disse num sorriso molhado de cerveja.

Conversaram bastante. Fizeram um apanhado desse tempo final de estudo e estágio.

- E você, Edu?

Como se olhasse em tom de despedida, Edu acrescentou:

-  Vou ter que entregar minha moto. De muita utilidade – disse batendo com a mão no banco do carona.

Edu mediu-a com olhos de gavião. Ela consertou os botões da jaqueta e, fogosa, murmurou:

- Esses homens...

- Você já saiu com quantos aqui, Solange?

         Não interessava a ninguém, isso que queria dizer.

- Falta de ética informar, Edu – disse sacudindo os cachos loiros.

- Desculpe por esse pensamento machista, Lourinha.

Desculpas aceitas, passaram a outros pontos. Se bem que estava tratando com uma loirinha escolada, sem frescuras. Ela andava com a turma de Leila e Sandra, comedidas, mas não podia disfarçar a namoradeira dentro de si, a começar do macaquito vermelho que trajava.

- Você tem potencial, Solange.

- Para?....

- Vida.

- Claro.

Não ignorava que estavam no fim de uma ditadura, mas ela voltaria para sua cidade já encaixada num dos órgãos públicos, graças ao pai prefeito. O resto ficava para a mente fresca dos estudantes idealistas. Caso dele, que voltava preso a esses ideais democráticos. Acreditava numa travessia de eras. Caminhava-se para o novo mas alguns ainda com os pés fincados no lamaçal do período de repressão.

- Abaixo a ditadura – disse imitando os protestos estudantis, que ficavam pulsando.

- É – disse ela sem demonstrar interesse.

Falaram dos engajados na luta e dos considerados doentes:

- Não sou doente, mas solidário na dor.

Ganhou dela um discreto afago nos cabelos.

- Você, Edu, é meu neném – disse Solange num abraço.

Sentia-se, sem disfarce, na mira de Solange,. Nunca dera trela a possível pretensão sua. Achava-a loura sem encanto, mas atirada. Também nunca lhe batera a porta a esses impulsos femininos, De forma que uma janela de encontro informal, sem grudes, estava aberta agora, nesse último dia, aos caprichos de uma menina que voltava para a casa doa pais com os estudos.

- Encorajada!

- Sou mesmo. E nós vamos comemorar tomando uma cerveja rápida no meu apartamento. Topa? - disse e virou o copo de vez,

Já estavam nos abraços e beijos afoitos. Tinha mais que içar as velas. Num movimento brusco, ergueram-se e nem precisou rachar a conta:

- Depois você me paga – gritou uma lourinha vermelha que, pondo o troco na bolsa a tira colo, se atracou no banco traseiro da moto,.

De novo a aventurazinha clichê de filmes, com os abraços acochados  nas curvas, a brisa, a maresia, os coqueirais do Farol da Barra,  até avistarem uma avenida, num prediozinho baixo, decente, ela apontando com o dedo num barulhinho de pulseiras:

- Pronto: é ali. Vamos subindo para o apto 201.

Da sacada via-se a moto estacionada na sarjeta larga, embaixo da marquise. Foi onde teve que, no outro dia, às 5 da manhã, aparar o capacete que esquecera, na pressa de saída, por conta dos pais dela que chegariam do interior para a colação de grau da filha.