domingo, 19 de maio de 2024

Vamos de verde

 


Publicado há mais de 30 anos atrás na Folha do Algodão

         Vêm tomando copo, já há algum tempo, movimentos organizados em defesa da Natureza. Em países desenvolvidos, como os da Europa, o espaço para a agenda de prioridades é cada vez maior para a ecologia. No Brasil, este gigante em território, manifestação nesse sentido não tem encontrado o impulso necessário, o que, até certo ponto, pode ser explicado pela situação da maioria da população, mais voltada na vida diária para questões imediatas como desemprego, fome, violência urbana, falta de moradia, , ensino, saúde, etc., já superadas por aqueles países. Uma pena. Assistimos diariamente, de maneira passiva, e até mesmo conveniente, aos crimes praticados contra a Natureza.

         Outro dia, estando de passagem pela fazenda de um amigo, pude imaginar uma situação triste e absurda. Já imaginou os pássaros, em vez de aves, répteis? Répteis sim. Eu acabava de presenciar um cardeal andando pelo chão em que não havia sequer uma árvore num raio de mil metros. Não foi sem razão que uma certa escritora americana chegou a escrever que, caso vivêssemos como simples inquilinos, há muito já teríamos sido despejados por danos causados no imóvel.

         Lembro-me, não faz muito tempo, de tantos passarinhos (sofrês, cardeal, pombinhas), no quintal de casa. Hoje, passando pela estrada Candiba-Guanambi, para ficarmos num exemplo, o que se vê é área devastada, propriedades sem reservas naturais, algumas aves pousando em fios de cerca, codornas cruzando a estrada sem moitas por onde embrenhar-se.

         Ainda  que mergulhados em forte crise, não devemos aceitar a idéia de que esses movimentos são próprios de países ricos, livres de problemas sócio-econômicos. Precisamos, urgentemente, sem abandonar outras lutas,  empunhar com mais firmeza a bandeira do respeito à Natureza, a exemplo dos demais povos, pois ninguém sabe o que há do outro lado e aqui talvez seja o céu que tanto almejamos. Por ora, vamos de verde!

 

(Folha do Algodão - Junho/julho/1993)

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