Magda, aluna de
faculdade de tempos pretéritos, agora dona de estabelecimento de ensino médio,
pediu carona ao seu antigo professor, com selinho de despedida nos
agradecimentos. O selinho caracterizava-se pela sua rapidez, quando a pessoa se
erguia, com a pontinha da língua, voltando da boca, como autor do gol. Tinha
que recordar o decorrido nesse ínterim.
Muita adrenalina para chegar até ali.
Carregava alguns detalhes sobre Magda Marcelina que poderiam definir a
incógnita Magda Marcelina. Ou pelo menos arranjar pinceladas importantes para
imagem. Mas tudo nela era de prestígio ou de influência zero. Meio oito ou
oitenta. Via-se que era uma mulher graúda, dessas que abraçavam seu direito e
não arredavam o pé.
Parecia ter sido menina precoce, de ver satisfeitos
seus desejos ao vislumbre de berros reivindicatórios. Lembrou-se dela
adolescente abrindo uma mochila de livros quando fora colega de sua prima
vestibulanda. Tinha uma caligrafia graúda, de bom visual, que punha de
sobressalto o então leitor desavisado. Recolheria de plano tímido desejo.
Tempos depois, ela
também se sentaria, atenciosa, na frente na sua sala de aula na faculdade, e
estaria irredutível nas lides trabalhistas de empregados não fosse acenada para
uma composição amigável. Olhara bem para Magda nesse período, num ela sorria
leve ao perscrutar uma tolerância do professor na questão de avaliação, noutro
notara seu jeito ardiloso de manipular provas dos autos.
Era uma mulher
resolvendo os abacaxis sem marido a tiracolo. Por ocasião dos processos, o
jovem preposto da empresa impunha a Magda uma performance de comando. Ou talvez
carregasse o detalhe nas duas argolas em destaque, que acenavam independência de divorciada.
Na estrada o silêncio
de ambos falava mais alto. Tratamento respeitoso, lado a lado, desencontros de
vidas, conhecimento e reconhecimentos profissionais. Sem esforço, até que, adiante, no ponto de
parada, teve que se inclinar para abrir a porta para a empresária Magda Marcelina
caronista escapar e, livre, voar, quem o saberia para onde.
Acabou cedendo um beijo
ou a um beijo. Quando menos se esperava, aquele boca a boca com Magda. Ninguém para impedir, apartar, pisar os
freios inibitórios. Nenhuma testemunha. Funcionamento ligth dos elementos internos. E ela saiu como se se esperasse pela
realização do ato ou não tivera tempo de posar de estranheza, que não era de seu
feitio. Um amor devido para aquele momento. Dívida que fora se acumulando
daqueles pequenos encontros circunstanciais, agora com elegância em erupção.
Com o selinho, deram-se por entendidos. Em tamanho e charme.