A vez que
Zeduardo quase “tirou Sofia de Casa”
Cidade pequena, notícia como essa era mais rápida
que a Internet. Tal como novela, Zeduardo não perdia um capítulo. Era dizer a
filha de fulano foi tirada de casa para que todos se interessassem pelos
mínimos detalhes. Época do chamado “casamento na polícia”. Nos seus doze anos, Zeduardo já tinha como
primeiro sonho tirar uma moça de casa. Aqui é que começa a história.
Estava um dia pegando corrida de bicicleta com uns
amigos, quando surgiu a conversa de que Sofia de dona Arminda estava dando.
- Dá mesmo? – quis ter certeza.
- Dá, cara: ela é a única menina que brinca com os
meninos naquele casarão velho da Rua Nova. A gente fica ali brincando de
esconde-esconde e depois... você sabe...
Zeduardo era de outra rua, mas procurou se enturmar
com pessoal da Rua Nova.
Foi chegar com aquela sua bicicletinha monareta
para que fosse recebido logo por quem?
Por Sofia, ela mesma, doidona no seu jeitão de moça graúda, porém
bonita, e o que é mais importante: dava.
Por serem todos meninos não se podia dizer que ela já havia sido tirada
de casa. Quem ia tirar era ele, Zeduardo, que, ao contrário daqueles moleques
bobocas da Rua Nova, sabia mais das coisas.
Sofia perguntou se podia dar umas voltinhas na
bicicleta.
- Claro, mas numa condição.
Sofia já foi se ajeitando logo na bicicleta, sem,
contudo, procurar saber qual a condição, como se concordasse. E ia sair,
tentando se equilibrar, quando Zeduardo
a conteve pelo braço, olhando nos seus olhos.
- Hein, Sofia, você garante encontrar comigo?
Sofia era toda sorriso naquela monareta, como se
consentisse. Mas era importante ouvir da sua boca.
- Hein, Sofia? ... lá perto da ponte da saída,
amanhã à tardinha, você encontra comigo? Dá mesmo?
Zeduardo só soltou o braço de Sofia sorriso,
cabelos de ouro, quando ouviu de seus lábios aquilo que ele mais queria na
vida:
- Dou.
Imagine você cantar uma garota e ela responder
“dou”. Não precisa dizer que Sofia correu todas as ruas da cidade. Tinha mais
que direito. Quando Zeduardo recebeu de volta a monareta era adiantado das
horas e ele já estava pensando no trato para dia seguinte.
Ajeitou-se e foi para o encontro com Sofia, que não
era a Loren, mas era bonita e o que é mais importante: ...
Nem
compareceu às brincadeiras, concentrou-se e ficou ali nas proximidades da ponte
riscando o chão frio com um graveto e antevendo as cenas de amor. Não sabe até
hoje por quanto tempo ficou a espera de Sofia. O certo é que a sombra da noite foi
descendo e nada da garota. Quando deu por si o que reinava era o cricri de
grilos. Zeduardo não teve dúvidas e se arrancou do local, pois já lhe
perpassava alguma assombração. E não foi dessa vez que Sofia foi “tirada de
casa”.