é tão imprescindível
o inacessível
acessível
que as bocas
se adivinham
em beijo
Não houve. Ficou assim. As bocas se
adivinharam, tanto o desejo. Tanta a energia. O impossível possível ali na sua
cara. Ela e ele prementes. Disfarce, e um beijo comum, de cumprimentos. Apenas,
e os dois sabiam da intenção. Da carga que os levaram àquele gesto, que deveria
ser outro. O olhar dela era profundo; o dele de mais profundeza ainda. Mas
contido. Lembrou-se de um professor de Direito Penal: “freios inibitórios”. Ela
parecia sem os freios. Lembrou-se agora da música nordestina de Marinês cantada
por Sônia Braga: eu sou o estopim da
bomba/é você que me faz ser assim. Mas agradeceria intimamente seus freios.
Ou melhor teria sido o avanço? Porra de professor de Direito Penal.
Tancredo Neves morreu. Que isso tem a ver?
Tem. Assim como a Segunda Guerra Mundial. As bocas se encontrariam e ficaram
nesse antegozo.
Seria melhor que um orgasmo. Indelével. Sem
penetração e mais que isso. Assim
perto, batendo em sua cara:
- Vai, cara.
E você não vai, mas vai no limite (quem
falou em limite, freios inibitórios?).
Néctar; o cabelo de seda que você podia
tocar (tocar não, idiota, grudar e... arrancá-lo até).
A seda. A seda...
... e lá vem a Terceira Guerra Mundial, e
você e ela chorando pela morte de Tancredo Neves em dia de Tiradentes, em pleno
século vinte e um, quando os personagens de Zola, em Germinal, morreram no século dezenove dando “uma”.