Ninguém
ali entrava. A não ser para limpeza periódica, quando botavam coisas para fora
no processo de varredura e lavagem do quarto. Peças que ainda nem tiveram uso, quanto
mais! Dizem que era para a tia, que havia casado recentemente, quando aparecia
em dia de missa. Pelo menos uma vez, numa manhã, o casal foi visto se
despedindo por lá.
-
Saem, meninos! Vão brincar lá adiante. Aqui dentro não. Retirem-se daí, era uma
das encarregadas, na labuta, com balde de água e vassouras no esfregão, no
preparo para encerar o piso numa segunda demão.
Deixavam
no capricho. Tanto que, segundo se dizia, daria para comer no chão, e depois
lacrava, como de costume.
- É
o quarto de visita, dizia-se.
Que havia
de tão interessante que não podia ser do nosso bico? Visita nenhuma aparecia
por ali. E quando aparecia, a pessoa ficava era no quarto dos meninos ou no da
empregada, conforme a conveniência. O quarto de visitas entregue às moscas,
aguardando, aguardando, quem nunca chegava. Aquilo ia me encucando de tal
maneira que uma vez em comentário com minha irmã, deixei escapar:
- Um
desperdício!
- É,
meu filho, e se num belo dia aparecer? Vai ser feio pra família, rebateu minha
irmã mais velha, preocupada.
Lembrou
que nossa família prezava muito o nome, os valores de um bom anfitrião. Tudo
tinha reservas de prevenção para o inusitado, o extraordinário. O jogo de
louças na cozinha, o de toalhas e outro de cama no quarto..
-
... Do elefante branco, pensei mais ou menos alto.
- Isso é pra quando chegar uma visita.
Lá
uma dia minha irmã me chamou num canto e perguntou se conhecia o quarto de
visita da casa de dona Nida, a vizinha.
Que ela viu aberto, uns móveis novinhos ainda envolvidos em plásticos, papelões
e faxinas, essas coisas do novo, só que velho de não uso.
- Não,
respondi.
Mas
o que ninguém me explicava era aquele zelo pelo quarto. Um quarto que, no final,
dele não se fazia uso – uma espécie de
recanto sagrado. Até o dia em que a gente brincava de esconde-esconde e
Adelaide, também nos seus onze anos, me empurrou para dentro, apressada e
ofegante:
-
Aqui ninguém vai nos achar, bobo!
Como
de fato. Só que disse assim e, numa fala de ousadia, fechou a pesada porta e
pelejou comigo.
Ela vestia um shortinho curto de cor beje, que
não deu trabalho nenhum para tirar.