1 - Fazer negócio
Dei uma derradeira
olhada nas lameirinhas dela, que era um colosso... de madeira, carroceria
pintada de verde, todo transadinho, o caminhãozinho de brinquedo, que me
encantava.
- Você não quer
trocar numa casinha não... bacana, que fiz no quintal perto do pé de
coqueiro?
- E cadê? perguntava
o menino filho do carpinteiro.
- Lá em
casa, mas você pode ir lá visitar a qualquer hora.
A casinha em questão
era o que tinha de maior valor... inestimável. Sem mais detalhes.
- Aí, fica ruim.
- Então é
quanto a mercedinha?
- Cr$ 500,00.
Dinheiro para gente
grande! Tinha que entregar no quente Cr$ 250,00, que pai pegaria na gaveta da
loja de tecidos, ali na praça do Mercado, ao modo de negócio:
- Quinhentos é muito
alto. Tome, dê a ele esse dinheiro, que é uma boa entrada de negócio.
Assuntando nas lameirinhas da mercedinha,
saí empurrando a novidade pela praça. E isso entre 1968 e 1969.
2 – Apreciando a beleza de BH-MG e contando vantagem:
- Eu tenho uma moto lá na Bahia.
- Verdade? Você roda com ela assim no asfalto? perguntou um menino de minha
idade.
Tinha acabado de tirar as rodinhas que ficavam de lado.
3 – Cozinhadinha
Acompanhava as cozinhadinhas que minha Irmã mais velha fazia. É que ela em
vez de fazer
de conta ela fazia de verdade o feijão, o arroz, cortadinhos, em
panelas pequenas, com cheiro de fumaça. E na hora do presente, a gente dava uma
boneca velha (dela mesma) embrulhada com papel bonito (aprendi com Ereca).
4 – Roupas de sair
Ao brincar de artista na casa de um colega, ele fantasiava com roupas de
verdade (de sair);
5 – Segredo
Falou em lhe dar e que podia escolher o local escrevendo com o dedo
indicador sobre a farinha de trigo polvilhada na maceira da Cozinha.
Escreveu: - No “corredorzinho” (que havia lá entre a casa dela e o
muro vizinho).
- Na cama, seu bobo, acrescentou ela embaixo com sua letra bonita.
6 – Faltou força, Mocó
Em mudança para cidade aprende logo só o que não presta. Mocó botava
tanta força no taco ao Jogar sinuca, que a bola caía de tonta. Um dia ele
precisava matar a bola sete. Deu com força, que a bola, após correr várias
tabelas, veio pra o meio e parou perto da caçapa, rodopiando.
- Diacho, faltou força!
7 – Tamanho GG
José, menino mais velho, Zé de Fausto, veterano na guerra (de meninos),
tirou do bolso um nota amarelinha de mil cruzeiros e falou:
- Vai lá na venda e compre tudo de bala de leite. Tome aqui
esse chapéu e traga cheiinho.
Podia comprar só uns duzentos, que já eram uma quantia grande
e trazer o resto de troco.
- Não. Comprar todinho.
No seu estilo: GG.
8 – Letra de formiga
Letra de formiga. Parecia que em vez de usar pena, usava uma casca de
arroz para escrever. Claudinha, até bonitinha, cabelo liso, de seda. Parecia
economizar papel. A gente olhava com gosto as anotações no seu
caderno do assunto dado em sala de aula. Era o contrário de um
coleguinha de infância, hoje doutor Zander, que para escrever era um letra de
elefante.
9 - Um terreno rural
Deu a notícia ao sogro com entusiasmo, que comprara um fazendinha. A
conversa que pairava era de um terreno de uns dois mil hectares. Eram dois
hectares apenas, que produziu dois sacos de feijão.
10 – Passar no vestibular
Vestibular concorrendo para o curso de Letras (considerado sem muita
concorrência), a gente ia olhar o resultado na parede e começava de baixo para
cima, até que correu o dedo por maior e não achou. Ia embora, desencantado da
vida, até que...
- Fez para que curso, Nei?
- Letras Vernáculas.
- Corra aqui. Meus Parabéns, Nei. 2º lugar. Português 100%; Redação: 97%.
11 – Duas meninas e um careta
Era ligadona em mim. Escrevia meu nome na altura da coxa. Que menino não ia
querer? Eu. Era areia demais pro meu caminhão. A gente passava na frente da
casa dela para ir jogar bola, quando algum menino mais abelhudo olhava e
gritava meu nome:
- Corra aqui, cara, venha ver seu nome.
Ficava envergonhado e caia fora. Pegava depois as “reportagens” dos
colegas: Estava escrito na coxa, fora a fora, Nei George.
Era bonita e tiradinha. No ensaio de quadrilha ficava
amuada, enquanto não me colocavam como seu parceiro.
Fazíamos roupas do mesmo pano. Trocávamos presentes. Mas era areia
demais para o meu caminhãozinho. Achava. Quando foi um dia o irmão veio me
trazer recado de namoro com ela e eu disse que preferia a mais nova, que era
menos interessante e ninguém cobiçava.