quarta-feira, 16 de junho de 2021

Para lá, para cá


Naquela casa, daquela rua, de manhãs claras e resto do dia a caminho curto da noite, moravam umas garotas. Ponto, e sobre esse ponto os suspiros mais profundos de tesão, encanto juvenil, acerto e ajustes de almas gêmeas. Quem saberia? Não existiam em crua realidade, mas eram quase palpáveis e bonitas até dizer “chega!”. E a gente carregava para onde bem quisesse trocando segredos de menino e caçando ousadia com elas.

“A do meio não está de namoro com Tadeu?”

 “A que tem uma covinha no rosto quando ri?” Qual, Tadeu não tem essa força toda não; acho que é um cara de fora."

Mas com a nova professora, que se sentava com descuidada elegância e fumava carlton, sorridente, pernas cruzadas,  com estilo, foi diferente o papo.  Adão até inventou uns lances interessantes dela. A notícia que circulava era a de que ela andava nua dentro de casa.

“Pelada?”

“Nua como assim, Adão? Só de calcinha?

 "Dizem que Basílio trabalhando de pedreiro pro vizinho dos fundos  é que tivera  a sorte de ver”- disse Adão.

Iluminação ou magia? Basílio deve ter tido uma iluminação. Ficamos todos com inveja de Basílio. Quando ele passava para o trabalho a gente olhava com admiração. Como que pronto para pedir autógrafo. Basílio, afinal, tinha visto a professora, pernas e peitos, mais os cabelos louros de entrada.

Um dia ela esvaziou uma carteira de carlton e a arremeçou no chão, corremos eu e Rock para pegar, quando saiu dos lábios dela uma rispidez de autoridade:

“Ei, é de Gustavinho!”

E Rock, mais atirado, porém respeitoso com aquela estampa de professora,  nem ousou e deixou para mim, que guardaria como um espécie de...  fetiche.

Depois, ficava imaginando a professora sem o vestido curto de suaves bolinhas se movimentando dentro de casa.  Para lá, para cá. Para lá, para cá.

Sem Basílio por perto, claro.

  


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