Enquanto toda
cidade se juntava em festa na praça, Beto encontrava jeito numa solidão a dois,
num recanto de arvores, macetando a garota Cibele. Solidão a dois não, a três.
Num momento de pausa, notou que alguém de costas fazia xixi tranquilamente e
girava o pescoço de lado para uma espiadela. Mera curiosidade, calculou
Beto. Senão seria caso de bomba com
efeitos mais duradouros que a que soltaram em Hiroshima:
- Beto foi visto num escurinho com uma garota, uma que trabalha..
Quem descobriria essa ninfeta se abrindo assim, como uma pequena deusa
em pelo afro de veludo, de recônditas essências se exalando a cada amasso ágil
dos braços de Beto? Ele sorria ao frescor do vento noturno, tentando levar
de volta para casa a garota. E caminhavam para o carro acochados num abraço. Tiveram
que passar por seu Neco e passaram mais enroscados ainda, com saudação de
cabeça, quase implorando, que seu Neco
não iria comentar. Não seria doido. O mundo viria abaixo: adeus Beto, adeus
Cibele. Expulsos do paraíso.
Resolveram então entrar
ali na rua, num dos barzinhos sem jeito
de gente. Nem sonhando, batia na madeira. Veio o pensamento. O paraíso, para
Beto, era aquela início de vida burguesa. Começo de profissão, trabalhando com
o pai no comércio. E Cibele, marcada pela sociedade, tendo que se retirar para
longe para ainda se iniciar e impor-se como mulher. Não tinha um papo
propriamente. Parecia se entender por entrosamento dos instintos. mas era hora
de se falar, de até gritar por socorro, pedir desculpas, não de forma
silenciosa mas sonorizada até, que importasse... o ridículo? Não podia o bom
senso recomendar bom senso. Uma vez na vida... a loucura...
- Você parece envergonhado e isso é normal.
Você, na sua posição... – calou.
Lábios grossos, ela se aproximou mais de Beto como que ordenando que a beijasse. Cumpriu a ordem. Ela retribuiu a vibrante aquiescência com um afago prolongado. Cibele despertou com um bocejo e, esfregando as vistas, falou com cara de sono:
- Pede mais uma, Beto,
e vamos ficar aqui até final do evento na praça.
- Olhe que você tem que
olhar menino na casa de Dalila – lembrou Beto, cauteloso.
Disse que era seu dia
de folga. Dando de ombros, Beto pediu a cerveja:
- A saideira.
Mas
logo teve que encarar seu Nelson entrando no bar.
Em
solidariedade, também numa possível situação de complacência futura, contava que ele, maduro, guardasse aquele segredo... de macho.