terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

 

Adélia

 

                   Estava nos momentos de tentar parar de fumar, extremamente sensível, mas ela apoiava seu rosto no dele.

                   - Minister – falou dentro do ouvido. – Você está fumando essa marca.

                   - Como você sabe? – ela perguntou num sorriso, porém mais interessada em romper o bloqueio da paquera entre eles.

                   Ela estava se entregando a um relacionamento, que parecia destinado ao fracasso, previsão de obstáculos que ele apontava. Numa primeira vista, ele já possuía uma namorada. E, tirando suas lascas com uns beijinhos e abraços, se alongava em explicações:

                   - Depois tem essa questão de primo com primo..

                   Para demonstrar sua revolta, Adélia puxou forte o cigarro, como se no final uma séria decisão fosse tomada:

                   - Bobagem! Desculpa! Careta você, hein?

                   Era encantador observar a jovem se erguer em um firme protesto. Para irritá-la ainda mais, falava com a calma de quem esbanjava experiência, saboreando a fumaça do Minister:

                   - Além disso, você está de paquera, que eu soube, com o filho de tio Guilhermino, lá da fazenda onde você ficou hospedada, semana passada.

                  - Já vieram lhe contar isso?

                 - E mais, já que seu objetivo é voltar pra São Paulo e dizer que veio a Bahia e que namorou um primo gato, pode se dar por resolvido o caso.

                   Desarmada por completo, ela chorou, que não era nada disso, mas que não custava nada contar na sua versão, e daí?

                   - Daí que o primo da fazenda, primo carnal, era melhor que ele, Ítalo, que era primo segundo.

                   E ela possuía umas coxas que ficavam presas entre as suas pernas na hora do difícil desgrude:

           - Ponha aqui e deixe eu dar só um trago deixe, Adélia! – pedia com humildade

                        Aí , ela procurou torturá-lo:

                   - Não! Você está sob vigília antifumo – gritava no embalo de raiva e desviava dele o cigarro.

                   - Deixe, Adélia – insistia no pedido cheirando no ar rastro de fumaça.

                   Adélia viu que não bastava o jogo de pernas, passou então a se sentir de férias na Bahia como a dominadora, enquanto Ítalo, em situação tabagística in extremis, tornava-se pedinte brincalhão:

                   - Quando estiver na letra “s”, ponha aqui pra mim, ponha, Adélia.