Abaixo, ficção de minha sobrinha Bibi
O ônibus parou e eu entrei. Entrei, paguei, sentei.
Uma criança de olhos opacos se sentou ao meu lado. Me assustei. Olhos opacos em
crianças... Esta aí, a coisa que faltava para completar a minha
insignificância.
A criança me olhava, com um
rosto suspeito, olhar questionador. Parecia que encarava um espelho. A pequena
criatura segurou minha mão, olhou nos meus olhos, me chamou de tio; me fez
sorrir; me disse que tudo ficaria bem e que eu voltaria a ser feliz.
Minha mão? Ela não largou e
seu olhar ao meu se apegou. Sentia a sua ansiedade, era minha vez de falar e o
seu brilho, era agora, minha responsabilidade. Não sou bom com gente, todos me
deixaram, vivo solitário até que a última coisa que tenho seja de mim
arrancado.
Mas aquela coisinha, tão
pequena e suja, com seu olhar me pedia ajuda. Abri a boca. Tentei falar. Seus
olhos brilharam. Minha boca fechou. Seus olhos apagaram. Os meu lacrimejaram.
Pobre criança. Logo a mim
sua alma pedia socorro. Como eu ajudaria se a minha se afogava no fundo de um
poço?
Seu olhar parecia entender
e sem nenhuma palavra, em seus curtos braços tentava me envolver. Meu corpo
queimou, com um calor diferente. Aquela criança era de Deus meu presente.
Meus braços a envolveram em
um ato involuntário. Pela primeira vez não me sentia mais tão solitário.
Abraçados ficamos até nossa fome de amor saciar. A criança me olhou, seus olhos
voltaram a brilhar.
O ônibus parou. A criança
levantou. Saiu pulando. Eu poderia jurar que abraçara um anjo.
Beatriz Gavazzi L. Prado