terça-feira, 31 de dezembro de 2013

BRASIL 2014 LEGAL



2014 vai ser legal. Tem uns porras da grande mídia azarando só porque quem está no comando da Nação é Dilma.  Li hoje a coluna de Jabor (Jornal O Globo). Escreve bem o cara. Lembra um pouco Carlos Lacerda. A gente saboreia porque escreve bem mas vai ser direitona assim no ... Porra, legal até certo ponto, mas daí em diante é agouro puro. Dilma tem razão em sua fala sobre o psicológico na Economia. Existe uma torcida enorme para que seu governo não dê certo. Ela não é o ideal não. O ideal não existe. Agora, quem, no páreo político, se encontra mais preparado para ser “o cara”? Ninguém. Melhor que se dê um novo mandato a ela. Na linguagem nossa, de baiano, mulher retada. Merece.

Estamos numa democracia. Mulher presidente, apoiada por um operário, que também foi presidente, e a elite – grande mídia e capital estrangeiro – se sacudindo para, anacronicamente, tentar fazer valer o que já se sabe -  “o mesmo filme”.


Anote aí: DIREITONA. Eles são ardilosos. Larcerda – que escrevia e falava bem -  fodeu com o Brasil ao azarar Jango, democrata, e agora vem você, Jabor... 2014 vai ser legal sim – Brasil, no cenário, é o “bicho”, e temos a frente gente não entreguista como foi FHC.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Depois que o pano cair





depois que o pano cair
último ato
no camarim do teatro
retiraremos a maquiagem
e eu direi que te amo
apesar
dos papéis que desempenhamos



29.12.2013

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sem medo




meus medos
a essa altura
já não os tenho

sem faca na cintura
já não os tenho
não matei nenhum cabra no norte
eu não mato ninguém

meus medos
já não os tenho

pito charuto de fumo bom
bituca de cigarro amanhã
mas meus medos
já não os tenho

a vida é grande
os chineses também foram à lua
a lua
qual é o problema?
meus medos
já não os tenho

meu time Vasco da Gama foi pra segunda divisão
meus medos
já não os tenho
27/12/.2013


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O que leva um casal de jovens a pichar estátua de poeta?




Jovens. Na filmagem feita pelo serviço de guarda da prefeitura, de início, parecem bonitos e merecedores de observações carinhosas, como já os fizera o poeta, tanto que existe uma obra sua intitulada O Poder Ultrajovem. Iriam se sentar ao lado e tirar fotos. Afinal, é o poeta, orgulho nacional. Ao contrário, olham para um lado e outro e, em sistema de revezamento, tassssssssssssss. Resultado: Drummond, sem armas, como um dia ele escreveu num dos seus belíssimos poemas, todo borrado. Isso foi um tiro na cara de todos nós.

Poder-se-ia dizer “Oh, pai, eles não sabem o que fazem”. E assim perdoá-los. Concordo. Mas se eles não sabem o que fazem existe um culpado. E o culpado somos nós, que não oferecemos uma Educação como deve ser e permitimos, dentro desse sistema perverso do capitalismo selvagem e com uma mídia a serviço de estimular o consumismo e alienação geral, que a vida prossiga dessa forma, até nem se sabe quando.

Não vemos que existe algo errado na engrenagem contemporânea em conduzir a sociedade, daí porque nem sociólogos conseguiram de imediato explicar a onda de manifestações de junho e, aliás, nem os próprios manifestantes; a mídia sempre a serviço dos interesses do capitalismo selvagem, tergiversando como pode, e as coisas batendo em nossa cara todos os dias, para lembrar um poema de Drummond de Andrade, na época que Doca, por machismo, assassinou a companheira Ângela Diniz em Búzios, quando o poeta escreveu em sua coluna no Jornal do Brasil: Ângela Diniz é assassinada todos os dias no Rio de Janeiro.

Sacrilégio. O poeta é pessoa sagrada. À guisa de ilustração, por oportuno, tiro aqui da algibeira esses versos de minha lavra, em meio a tantos outros de outros bardos que sei existirem:
O poeta

O poeta viaja por terras
Próprias e alheias
Alheio até de si mesmo
Passagem ida e volta
Pra te trazer a pepita
Do garimpo dos deuses



Drummond, poeta da cidade do ferro, mas que nos presenteou com tantas pepitas, vai aqui um beijo de agradecimento pela  esperança que você nos passa ao dizer em seus versos no livro A Rosa do Povo que uma flor nasceu na rua, furou o asfalto... 

sábado, 21 de dezembro de 2013

... e ela perdeu a Festa da Camiseta



Eu devia começar este relato mandando  todo mundo ir pra porra. Mas vai que alguns não queiram ir, no caso, e me dariam um certo trabalho. Tiro certeiro; chega de blábláblá comportado. Não tenho tempo. Aquela coisa de Sísifo, que eu acho bacana e só isso.

Quando Deus, aquele bitelão lá de cima, fez o mundo, viu que não era certo a gente ficar sem um negocinho bom, só com frutas ao alcance fácil, essas coisas e etc., e aí tirou da gente um pedaço e fez a clonagem, nos dando um presente.

Acho que desde dessa época, sabendo que era dona do pedaço, a mulher, no caso, Eva, já botava marra no homem, e tinha que colocar mesmo, ainda que sem concorrente na parada. Imagine a cena, o baitola do Adão chegava em casa tarde e ela:

- Isso é hora de chegar em casa? Você andou com quem?

E ele, mais abaitolado, ainda dava explicações:

- Ué, amor, andar com quem se só temos nós aqui no paraíso!

Mas do jeito que é mulher, pra tirar onda principalmente, punha a situação de Deus em dúvida, como se Ele estivesse dando certa proteção ao homem:

- Eu, hein, sei por onde você andava e com quem você estava.

Vai daí que surgiu toda aquela história de Adão se deixar levar pela prosa da mulher e acabar se queimando com Deus. Um dia ele ouviu o vozeirão lá de cima:

- Adão, por que tu te escondes por detrás dos matos?

- Porque estou nu, Senhor.

- Oxente (Deus é até hoje baiano), por acaso comeste a fruta proibida?

- A mulher que vós me destes de companheira me deu um pedaço e eu comi.

- Pois agora, seu porra (Deus falou bem assim, na linguagem de baiano, mas os entendidos da Igreja não quiseram registrar), pois você agora vai ter que tirar do suor do seu rosto pra pagar o cartão de crédito dela (atualização da bíblia) e o cacete.

É fraco sim. Até hoje quem manda é ela. De uma forma ou de outra. Por exemplo, em casa é aquela coisa de mãe falar “menino, pra dentro” e o menino tinha que ir para dentro. Quando não era a mãe, era a babá, a irmã mais velha, a tia, alguma mulher da família (aqui vale anotar até a vizinha, o certo que elas estavam sempre presentes).

Tá lá. O outro, me esqueci do nome, trabalhou durante sete anos de graça e mais sete trabalharia se preciso fosse, no dizer de Camões, pra se casar com... me esqueci do nome (faz tempo que li as escritas). O José é que foi desviado dessa história nossa, que vai ser adiante objeto de estudo cientifico, mas para salvar não só o Egito mas também o seu povo, porque não custava nada ele “ficar” um tiquinho com a mulher do Putifar. É, vai que também... Agora, pô, sou fascinado pela figura de Sansão. Era o cara. Se fodeu, tal como Adão, mas que não abriu mão de um encanto não abriu.



Elas são assim. Quem se fodeu diferente, isto a gente dando um salto na História, foi o porra do Herodes, que depois de assistir à dança de Salomé, filha de sua amante, mas de olho na menina (ninguém sabe o dia de amanhã, investimentos, essas coisas) prometeu a ela uma viagem a cidade de Guanambi, na Bahia, Brasil, para a Festa da Camiseta, realizada todos os anos pelo popular promotor de eventos Fafá (eles não registram), mas a garota, influenciada pela mãe (dizem que até hoje ela joga na cara da mãe a besteira que fez de não pedir a tal camiseta), preferiu pedir na bandeja a cabeça de João Batista, que vivia falando mal de sua mãe. E olhe que falar mal da mãe dela não era novidade nenhuma, mas mãe é mãe e ponto final. (Depois a gente continua)

sábado, 14 de dezembro de 2013

Bom-dia, Bahia (II)




No estalo, eu tive a idéia:

- Vamos lá ao tal SAC, aqui pertinho, no Iguatemi, registrar a queixa.

O moço da Delegacia endossou a idéia:

- É, pode ser. Aqui, como vocês tão vendo, é Delegacia Especializada, Crianças e Adolescentes.

Claro, eu e meu amigo só tínhamos nos dirigido até ali porque o hotel em que estávamos, na Capital da Bahia, diante de nossa necessidade, havia dito que do outro lado havia uma Delegacia de Polícia, sem esclarecer aquele detalhe, de ser especializada e em que só entramos para não perder a viagem e pedir algum esclarecimento.

E lá fomos nós, cidadãos baianos, resolver o caso no tal SAC - Serviço de Atendimento ao Cidadão, criado para facilitar a nossa vida, em socorro às repartições encarregadas de tais serviços que não funcionam como deve.

Era mesmo coisa de cidadãos. Gente, gente, gente, que fazia lembrar Caetano Veloso na música Sampa, num verso que diz “do povo oprimido nas filas nas vilas favelas”.  Mas no setor procurado pelo meu amigo, o 14, ali visto na placa afixada na parede da sala principal, que cuida de registro de queixa de perda e extravio de documentos, se é que se pode lembrar de alguma música de Caetano, nesse caso, é aquela que ele gravou do compositor Peninha, cujo título é  Sozinho, isto porque o chupa-cabra do atendente estava sozinho.

- Bom-dia – cumprimentou meu amigo.

- Bom-dia – respondeu o atendente, não propriamente sozinho: estava a despachar um cidadão.

- É aqui que se registra queixa sobre extravio e perda de documentos, pelo que vi?

- Aqui mesmo, mas o senhor tem aí um documento pessoal com retrato 3 por  4?

- Mas eu perdi os documentos...

- Mas sem um documento de identificação pessoal, com retrato, a queixa não pode ser prestada, meu irmão.

- ...?!

- É necessário. Sem isso, infelizmente...

- Perdi também um talão de cheques, tudo junto...

- O senhor sabe os números dos cheques?

- Pelo amor de Deus, até isso? Como é que vou me lembrar de número de folha de cheque, se nem o banco deve saber ao certo?

- Ah, meu irmão, aí fica difícil prestar a queixa. Tem que procurar saber os números das folhas de cheque e ter um documento pessoal, com fotografia.

- Então, pra registrar a queixa sobre perda e extravio de documento tem que ter documento?

Não esperamos a resposta. Do SAC, criado para atender os cidadãos, nessas questões de cidadania, documentos e etc. e tal, mas com certeza com funcionários despreparados e indicados por políticos, nesta Bahia de ACM em processo de decadência, saímos com gosto pior do que o “do povo oprimido nas filas vilas favelas”.



FEV/2006

sábado, 7 de dezembro de 2013

O viado peru




Verdadeiro vexame. Noite de estranha revelação. Não muito estranha assim para quem já o conhecia de outros carnavais. Melhor, de outros natais. Hoje toda cidade nem mais comenta, diante da normalidade. Acontece. Não se pode dizer agora que tudo não passara de uma reação alérgica provocada pelo uso prolongado daquele uísque comprado em mãos contrabandistas. O que ocorreu foi um assombro de todo tamanho.

Familiares e amigos naquela noite de Natal, e ele, que já tinha chegado mais ou menos pronto, inseparável do copo de uísque, com aquela idéia maluca. Todo mundo entrou na estória do peru, foi achando graça em tudo, mas depois a coisa descambou para viadagem mesmo.   Ele firmava os óculos, todo alegre, bicava o uísque, ensaiava uma corridinha pela sala e depois parava bruscamente empinando o bumbum. Tinha cismado com a idéia de que era o peru da Sadia.

- Tô quase no ponto: veja ai o termometrozinho do peru da Sadia, gente.

- Pare com essa bobagem, Zeca!

Quem assim ralhava era a esposa dele, toda num canto, morrendo de vergonha, com neném no colo. E Zeca parecia deslizar pela sala em patins, a cara toda vermelha de birita, os óculos ameaçando cair.

O pessoal, a essa altura, começou a sair daquela fase de risada barata, como se tudo fosse uma piadinha, para a risada de maldade. Jairo, parceirão velho, dos tempos de curso de admissão (pois daí Jairo não passou), foi quem chegou a tomar alguma atitude mais pertinente ao caso, quando sugeriu, com jeito, levar Zeca mais cedo para casa. A emenda, no entanto, saiu pior que o soneto. Mal pressentiu que estava sendo arrastado por Jairo, Zeca deu mais um rebolado e gritou no meio da sala:

- Calma! Veja só, gente, Jairo que levar o peru para casa só para ele.

Alguns dos presentes disfarçaram com um sorriso frouxo o ridículo da situação. Nisto um carro fazia manobra lá fora: era a mulher de Zeca se despedindo.

Bem que se tentou mudar de assunto, dirigir as atenções para outra pessoa, mas nada disso adiantava, porque Zeca era o centro das atenções, agora sendo seguido pela criançada. As crianças iam assobiando e Zeca, à frente, ia fazendo “glugluglu”, “glugluglu” até o fim da sala, para depois retornar à mesma a cena.

Final da festa, hora de passar os ferrolhos nas portas e janelas, Marilda – a anfitriã – comentou com o marido:

- Esse amigo seu, hein? Não sabia que ele era assim não?

- Viado peru?

- Como é viado peru?


- É durão. Depois que enche o rabo de cachaça fica molinho e no ponto.

sábado, 30 de novembro de 2013

A “frase”



Quando chegou ao escritório e encontrou cobradores na antessala – o que ultimamente vinha se tornando rotina -, cartas de cobrança sobre a escrivaninha, várias delas exigindo esclarecimento sobre o não pagamento na data de vencimento de boletos bancários, isto no prazo tal, sob pena de protesto de títulos, teve que se sacudir como que em busca de uma saída emergencial. Primeiro os da sala de espera. Foi lá e tascou:

- E aí, pessoal?

Cobradores a postos, empunhando notas, meio em tumulto. Teve que bancar uma de político, coisa assim, e foi aqui e acolá, abraçando um e outro e dizendo qualquer palavra do tipo “amanhã  pela tarde”, “você aí, já conversei lá, vai ficar mesmo pra outra segunda-feira”, “e você, rapaz, disse que vinha ontem não veio, esperei, esperei, até que acabei pagando outras coisas de mais urgências, mas é assim mesmo, não é? amanhã pode”,  você aí, coisa pequena”, “o seu não, vai ficar mesmo pra semana, já até liguei ontem avisando”, “hoje em dia, sabe como é que é”, e assim, de roldão, foi despachando todo mundo, até que a sala ficou praticamente vazia: ele, a secretária e o silêncio.

O silêncio vírgula, porque em sua mesa as palavras grafadas naquelas correspondências ali amontoadas eram cantigas a invadir desde a manhã até o fim da tarde.

Nem precisava de enfiar a espátula para abri-las e conhecer o conteúdo delas. Pensando bem, certas palavras grafadas queimam mais que ferro em brasa, pior que a linguagem oral daqueles cobradores. E tudo cheio daquelas ameaças de praxe, do tipo “protesto”, “nome na SERASA”, “nome no SPC”, “nome no CADIN”, essas modernidades.

Mas disso até que pôde se safar quando se lembrou do que dissera um amigo:
- Moço, meu nome pode ir para a SERASA, SPC, CADIN, pode ir para a casa dos infernos, até aí tudo bem. Eu só não quero mesmo que meu nome caia na boca de um Roberto de Monte Alto ou de um Capixaba na praça dos táxis, porque aí eu tou mesmo lascado.

Bem, mas ali estava diante dele uma dessas correspondências. Ele a abriu, leu o que já sabia de cor – que não consta ter sido pago o boleto bancário na data de vencimento.

Foi quando, num estalo, teve que buscar nos recônditos da memória a figura de Dedé de Gô, dono do Café Botafoguense em Candiba. De um Botafogo bom time, com jogadores como Jairzinho, Paulo César Caju, Gérson e companhia limitada, e que depois passou a apanhar mais que rapariga de soldado.

- Pôxa, Dedé, o que está acontecendo com o seu Botafogo?

E Dedé, professoral em termos de Botafogo, sem perder a classe, tamborilava com os dedos no balcão do Café Botafoguense, à vista de muitos interessados, e respondia:

- É a “frase” do time, né, meu filho? É a “frase”. Fazer o quê?

Pronto. É a ‘frase”.  Estava ali o  que procurava. Era uma luz. E a resposta para toda essa situação, o velho Dedé, que nunca estudou Sociologia, Filosofia, Psicologia nem muito menos gramática, lhe dava para responder aquelas correspondências.

Assim é que, em resposta a uma delas, chamou a secretária e mandou que, adaptando aqui e acolá, fosse respondendo as cartas nos seguintes termos:

Prezado Senhor:
Em resposta a correspondência tal, em que V. Senhoria solicita esclarecimento pelo não pagamento na data de vencimento do débito tal, venho dizer o seguinte: é  “a  frase”.

Aos meus amigos, leitores e credores: “no começo era o verbo; agora é a “frase”.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Chegada de ACM ao Inferno





1.
Deu-se  na televisão
Rádio, internet e jornal
Notícia já esperada
Da morte de um imortal
No ramo da política
Do cenário  nacional

2.
De prenome Antônio Carlos
Magalhães de sobrenome
Conhecido por ACM
Aqui falo desse homem
E se falo é com cuidado
Pois que as palavras somem

3.
Baiano de nascimento
Nasceu ele em Salvador
Terra de todos os santos
Em que foi governador
Deputado Estadual
Foi por onde começou


4.
Médico por formação
Foi redator de jornal
Por duas oportunidades
Chegou à Câmara Federal
E eis que nos anos setenta
Foi Prefeito da Capital


5.
Esse homem, minha gente
Foi herói, foi repressor
Conviveu com JK
Democrata e construtor
De Brasília, a Capital
Até que a coisa mudou

6.
Mas não  mudou o retrato
Do presidente mineiro
Que ficou no gabinete
No seu  mandato inteiro
Quando veio a Ditadura
Militar como o certeiro

7.
Daí pra governador
Da Bahia foi um pulo
Seu Estado governou
E com jeito muito duro
Nos tempos da ditadura
Em que se pichava muro

8.
Diz ter sido um progressista
Usou cuia, usou chicote
Pôs a polícia nas ruas
Estudante dançou xote
Se progresso foi dum lado
Do outro se deu calote

  
9.
Cachorro naquela época
Tinha trabalho dobrado
Pra pegar de estudante
A professor revoltado
Se hoje conto esta história
É que sou cabra retado

10.
Tempos de repressão
Se viviam nessa época
ACM mão de ferro
Não descansava a munheca
Batia sem dó nem pena
Sufocava “quebra-quebra”

11.
Mas também por outro lado
No encontro da União
Nacional dos Estudantes
Sem muita confusão
Consentiu realizasse
No Centro de Convenção

12.
Esse homem brigou tanto
E até com brigadeiro
No final da Ditadura
Pra saltar noutro terreiro
Enterrando um regime
Em busca do alvissareiro

  
13.
E no que perdeu na Bahia
Pra Waldir e Nilo Coelho
Ganhou foi um Ministério
Pra não dobrar o joelho
E na eleição seguinte
Retomar seu aparelho

  
14.
Pra prefeito em Guanambi
Nilo Coelho foi e venceu
Nas palavras de ACM
Pra prefeito ele nasceu
Numa crítica suave
Pra limitar quem não é seu

15.
E não é que ele acertou
Nessa parte de prefeito?
Só errou em outra parte
Pois que nada é perfeito
O homem foi governador
Quando vice foi eleito

16.
De volta ao Governo
Do Estado da Bahia
ACM incrementou
O que antes já se sabia
Um esquema concentrado
De ser ele sempre o guia

17.
E assim por muito tempo
Foi que mandou e desmandou
Colocava chupa-cabra
Para ser governador
E de cima comandava
No cargo de senador

18.
Ele tinha por projeto
Ter um filho presidente
Da Câmara de Deputado
E conseguiu, contente
Mas também da República
Que era dali para frente



19.
Era um nome de aceitação
Do filho Luiz Eduardo
Da direita e do centro
De quem não o via errado
Mas o destino o levou
Que frustrou o planejado

20.
ACM depois disso
Se tornou de certa forma
Um homem mais amargo
Não gostando de reforma
E com vícios de outrora
Veio por ferir mais norma

21.
Pois não é que Presidente
Do Congresso Nacional
Permitiu que se quebrasse
De maneira negocial
O sigilo eletrônico
Do painel e coisa e tal

22.
E pra não perder mandato
Teve peito e renunciou
Um suplente chupa-cabra
Era o seu senador
De forma que tudo então
Como antes continuou



FIM DA 1ª. PARTE

domingo, 24 de novembro de 2013

Pelo Retrovisor


 
Gustavo tinha uma calça Lee, camisa branca por fora, um par de tênis, num jeito seu, e toda a vida pela frente. Vinha como o frescor da manhã, sol tênue, outono se avizinhando. Seus cabelos inda úmidos do banho, mas soltos, no mesmo ritmo dos passos, descompromissados com o tempo. Não havia o tempo. O momento fluía como a água que passa ininterruptamente sobre o mesmo ponto. Sob a maciez dos seus pés, o mundo inteiro era uma conquista que se faria passo a passo. Vislumbrava um universo que se lhe abria feito a mulher dos sonhos, pernas e seios, no ato do amor. Só restava aguardar a realização desse desejo.

Vendo-o em arrumação para sair, a mãe indagava:

- Para onde vai, Gustavo?

A resposta, sempre num largo sorriso, era a mesma:

- Vou existir.

Assim dizia por dizer. Brincadeira. Existência era realização. Algo distante, portanto. E não era chegado o momento.

O ar era puro cheiro de fruta e de café forte invadindo a manhã. Sentia a prenhez das coisas ao simples contato. E a canção se eternizava na vibração dos seus dezessete anos.

- Eu te amo – murmurou entre suspiros a primeira namorada de carinhos mais ousados. – Vamos nos casar, meu bem?

-  Gu!

- Vamos?

- E nossos pais?!

- Vamos fugir? – a mão em chamas sobre os seios.

O amor. Ah, o amor... O futebol, o estudo, a poesia, toda uma existência, uma estrada onde pôr os pés e deixar as marcas das realizações.

Por isso, prenhe de vida, como a bola prestes a estufar a rede em grito de gol, Gustavo não pôde ainda compreender como tudo agora pareceu ter se conduzido num processo letárgico. Estivera no ar, com transmissão ao vivo, via satélite, para todo o universo. Não fizera os gols. Etapa complementar, não percebera que a vida terrena não comporta rascunho, que tudo é redação definitiva.

Com estalo dessa descoberta, Gustavo – paletó e gravata – deu partida no automóvel. Era uma manhã de junho, árvores se agitando. Pelo retrovisor viu de relance a sua imagem na do filho, calça jeans, camisa branca, par de tênis, num jeito seu, que deixara diante do portão da escola.