quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O que leva um casal de jovens a pichar estátua de poeta?




Jovens. Na filmagem feita pelo serviço de guarda da prefeitura, de início, parecem bonitos e merecedores de observações carinhosas, como já os fizera o poeta, tanto que existe uma obra sua intitulada O Poder Ultrajovem. Iriam se sentar ao lado e tirar fotos. Afinal, é o poeta, orgulho nacional. Ao contrário, olham para um lado e outro e, em sistema de revezamento, tassssssssssssss. Resultado: Drummond, sem armas, como um dia ele escreveu num dos seus belíssimos poemas, todo borrado. Isso foi um tiro na cara de todos nós.

Poder-se-ia dizer “Oh, pai, eles não sabem o que fazem”. E assim perdoá-los. Concordo. Mas se eles não sabem o que fazem existe um culpado. E o culpado somos nós, que não oferecemos uma Educação como deve ser e permitimos, dentro desse sistema perverso do capitalismo selvagem e com uma mídia a serviço de estimular o consumismo e alienação geral, que a vida prossiga dessa forma, até nem se sabe quando.

Não vemos que existe algo errado na engrenagem contemporânea em conduzir a sociedade, daí porque nem sociólogos conseguiram de imediato explicar a onda de manifestações de junho e, aliás, nem os próprios manifestantes; a mídia sempre a serviço dos interesses do capitalismo selvagem, tergiversando como pode, e as coisas batendo em nossa cara todos os dias, para lembrar um poema de Drummond de Andrade, na época que Doca, por machismo, assassinou a companheira Ângela Diniz em Búzios, quando o poeta escreveu em sua coluna no Jornal do Brasil: Ângela Diniz é assassinada todos os dias no Rio de Janeiro.

Sacrilégio. O poeta é pessoa sagrada. À guisa de ilustração, por oportuno, tiro aqui da algibeira esses versos de minha lavra, em meio a tantos outros de outros bardos que sei existirem:
O poeta

O poeta viaja por terras
Próprias e alheias
Alheio até de si mesmo
Passagem ida e volta
Pra te trazer a pepita
Do garimpo dos deuses



Drummond, poeta da cidade do ferro, mas que nos presenteou com tantas pepitas, vai aqui um beijo de agradecimento pela  esperança que você nos passa ao dizer em seus versos no livro A Rosa do Povo que uma flor nasceu na rua, furou o asfalto... 

2 comentários: