domingo, 27 de janeiro de 2013

Avião em rodoviária


Avião em rodoviária



O taxista já estava por aqui. Mas, primeiro, ele tinha que faturar o dele. Segundo, tratava-se do doutor Emiliano, velho freguês. Nessa ocasião Roberto Carlos ainda não tinha feito a canção em homenagem à classe, por isso, sem qualquer sopro de reconhecimento, tinha mais era que enfrentar a vida. No duro. Dr. Emiliano pagava bem. Para dizer a verdade, no final, valiam a pena os esporros que levava do ilustre médico.

- Desliga essa porcaria!

Pombas. Adorava as músicas de Leandro & Leonardo. Mas ali quem mandava no momento era o dr. Emiliano, médico bem conceituado na região. Estavam indo para MOC. Montes Claros. Ele tinha que pegar o avião para Brasília. Urgência... urgência – era só o que sabia dizer e quieto ficava durante a viagem. O doutor com as suas conjecturas, e ele, coitado, que não tinha conjectura alguma, mal podia ouvir o som do carro. O doutor gostava era de música clássica, Pavaroti, essas coisas. Daí a proibição:

- Isso não é música; é idiotice; é atraso; coisa de brasileiro.

Urgência! Urgência! Agora era procurar chegar logo em Montes Claros, deixar o homem no aeroporto e retornar com sua recompensa no bolso. Voltaria feliz, Leandro & Leonardo, Amado Batista e Cia a todo o volume. Para descontar o atraso poderia até se dar ao luxo de conversar o que bem lhe desse na telha. Sozinho. E daí? Estaria tudo certo. Ele de cá, recompensado; o doutor de lá, em Brasília, com sua conversa reservada para outros doutores.
Boa parte da viagem era esse o clima. Ele de cá e o doutor de lá, nariz empinado, ruminando argumentos para se apresentar em Brasília. Até que, não mais agüentando aquela “urgência”, dor nas costas, teve que despertar a fera:

- O doutor dá licença, mas pelo menos uma paradinha para o cafezinho, sacumequié.

Estavam nos arredores de Porteirinha.

- Vê lá se não demora. Tenho que pegar o avião – disse e abriu uma revista que trazia no colo.

O avião! O avião! O avião mesmo ele encontrou foi ali naquele barzinho de beira de estrada. Aliás, dois aviões. Enquanto tomava o café apressadamente, pôde observar que duas morenas no capricho, com sacos e sacolas, estavam com olhos compridos atrás de carona. Daquelas que se ele fosse dizer que estava indo para o inferno elas topavam na hora: “É pra lá que estamos indo também”.  Não deu outra. Ele tinha era muito tempo de chão, estrada e raparigagem. Não ia errar dessa vez. Quando as moças se aproximaram para fazer o pedido, a vontade que ele teve foi a de dizer que sim e mandar o doutor pegar um outro táxi, mas ele tinha família para manter, uma filha formando no Luiz Viana, não podia perder a cabeça:

- As meninas que me perdoem, mas eu só posso dar carona com o consentimento do doutor ali. Tenho que deixar ele em Montes Claros.

O doutor Emiliano se agitava no banco do carro. Só fez bater aquele olho de descaramento nas moças e dizer como se fosse uma bronca:

- Claro que dá. Deixe de ser gente ruim. Não vê que o carro é grande e oferece espaço?!

Daí a Montes Claros o homem quase teve um torcicolo. As duas moças no banco traseiro e ele levando um papo meio a seu modo.

A certa altura de intimidade e tara, meteu o dedo no toca-fitas e cutucou o taxista meio à parte:

- Ponha aí aquela sua porcaria de fita.

Antes de chegar a Montes Claros, Leandro & Leonardo, coitados, não fosse gravação, já tinham ficados roucos. Ele até que tentou colocar o Amado Batista, mas lá vinha um tapa aplicado pelo doutor:

- Mexe não, essa música é boa – e se virava numa prosa interminável com as meninas.

O carro corria macio pelas ruas da cidade. Tinha até certo receio de perguntar alguma coisa, pois, motorista zeloso, não podia se dar conta do que se passava entre os passageiros. Apenas por suposição, ante os gritinhos femininos, julgava que o doutor se saia simpático e bom de prosa.

Tendo alcançado trecho decisivo da área urbana, teve que intervir:

- Vamos tomar o aeroporto, doutor. As meninas ficam onde mesmo?

- Que aeroporto, rapaz? Então vamos deixar essas moças aqui desamparadas? Puxa para o melhor hotel da cidade, onde cabem dois cabem quatro.

Registra-se aí a cena mais cômica. Naquela pressa toda, estavam num hotel, dois apartamentos, um para cada casal, o doutor Emiliano ajudando a sua eleita a subir as escadas, carregando pacotes, recolhendo tabletes de doce que iam caindo, o que dava a idéia de serem elas vendedoras ambulantes, tal era a quantidade do produto embalado para a revenda.

Noite dos prazeres, paraíso completo, o doutor, que tanta pressa tinha, só viajou mesmo no dia seguinte, após ter tirado o atraso de duzentos anos de namoro.

Mas tudo que é bom não deixa de passar uma ressaca. Tempos depois, estando em Guanambi, na praça do táxi, conversando com o colega Dedé, o orelhão tocou:

- Alô! Aqui é da praça do táxi.

- É com você mesmo, seu porra. Vá até a rodoviária, pega aquelas duas raparigas e some com elas daqui. Imagine que chegaram de Minas e tiveram a ousadia de ligar pro meu consultório. Imagine só: eu ir lá apanhar aquelas duas quengas?! Se minha mulher sonhar uma coisa dessa?...

- Mas não foi o senhor que deu o telefone e todas as garantias, doutor? Eu lembro que sim.

- Deixe de saber. Se minha mulher descobre eu te mato. Se vire... se vire... - e bateu o telefone.

Agora era só o que faltava: ele tinha que proibir avião de aterrissar em rodoviária.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Advogado de filho é a mãe


Advogado de filho é a mãe

        

Deu-se que o menino foi preso. O menino vírgula, que pela lei menino não pode ser preso. Não pode mas acaba indo, como se sabe. Mas muitas vezes menino é modo de dizer, que para os pais e esse povo mais velho os filhos continuam meninos para o resto da vida. Tais quais Pedrinho e Narizinho do Sítio do Pica-pau Amarelo.  O nosso amigo Marão, por exemplo, que tem idade para ser avô, é até hoje chamado de “Nenén” por suas irmãs mais velhas. Imagine só. Dr. Valdemar, irmão mais velho coisa de um ano ou dois, é que é chamado de “O Menino”.  “O Menino” e “Neném”. Mas vamos ao caso.

Dona Rosilda tinha tomado um banho, meio apressada, posto um vestido decente. Desses de ir tirar filho da cadeia, se é que, ao que parece, isso existe - vestido de tirar filho da cadeia, e, ajeitando-se com uma bolsa debaixo do braço, que deve fazer parte, ia em marcha firme, indiferente ao que em volta havia, para cumprir sua missão.  O que havia em volta? Vizinhos, amigos, curiosos. O filho de dona Rosilda estava preso.  Cidade pequena e pacata,  sabe-se como é que é.

- Dizem que só advogado, que por aqui não se resolve não – era o cometário.

Um carro ali chegava, providenciado para ir até a Comarca de Guanambi em busca de um advogado.

- Um não; dois, que meu filho não vai ficar mais que um dia na cadeia! - quem assim dizia, nervoso, era Carlitão, o pai.

Dona Rosilda nada dizia. Ia, por sua conta, resolver a questão. E era ali mesmo em Candiba. Nada de advogado de Guanambi. E nada de procurar prefeito para dar jeitinho. Filho dela não ficava na cadeia de maneira alguma. Onde já se viu? Pois qual.

Uma parte da molecada apostou mais em dona Rosilda e a seguiu até a Delegacia de Polícia. Cá, Carlitão e os demais homens ficaram meio indecisos, se viajavam ou não para Guanambi ou se esperavam mais uns minutos.

- Calma, Carlitão. O caso é sério. Mas vamos aguardar dona Rosilda de volta, coitada. Afinal, é mãe, mulher não entende. Depois a gente ruma pra Guanambi.

- Eu já disse: filho meu não fica na cadeia não. Não sou cachorro.

Chamaram o médico. Carlitão relutou bastante, mas resolveu tomar um tranqüilizante. Daí a pouco, quando já se recomeçava com manobras, volteios, arrumações e despedidas, para ir até Guanambi, olhe lá quem desponta, molecada à frente em comemoração: dona Rosilda com cara de mulher retada trazendo à mão o menino, deixando-o entregue a parentes e vizinhos, admirados, como quem apenas tinha ido ali e voltado já, pois que  tinha ido buscar maracujá, como se diz na cantiga de palhaço, e foi para dentro trocar de roupa e  voltar a varrer o quintal, como de costume, que já se passava das horas.

Agora esse renhenhén que dura até hoje. De se saber qual foi o argumento jurídico utilizado por dona Rosilda para tirar o filho da cadeia, pois que o caso era de se resolver só através de advogado.  Mas não sabem todos que mãe é advogada de filho? Se deixar, não perde uma questão, e advogado mesmo que vá procurar um outro meio de vida. Passado tanto tempo, me contou o então delegado que dona Rosilda, cabeça erguida, pronta para qualquer parada, sacudindo a sua bolsa, tinha chegado até a Delegacia de Polícia toda despachada:

- Cadê o menino?

- Que menino, minha senhora?

- Meu filho: Carlito de Souza Santos Filho. E o senhor não vai soltar ele não?

 - Não posso, minha senhora, isso é lá coisa pra Justiça, com advogado e tudo. Quem sou eu?...

- Pois manda todo mundo sair, por favor, que eu quero falar com o senhor em particular.

Saíram escrivão e policiais, ficando dona Rosilda à sós com o delegado “calça curta”. Mesmo assim, ela preferiu falar ao ouvido:

- Tá me ouvindo bem, Chico Delegado?

- Estou, minha senhora.

 - Pare com esse negócio de “minha senhora” e deixe de ser descarado, ou você solta o menino agorinha ou eu vou contar pra Carlitão, meu marido, quando lá em casa chegar, que você vive me pegando direto, entendeu?

Só se ouviram os gritos de Chico Delegado:

- Carcereiro! Carcereiro!

Terminando o causo, eu lhes pergunto: vocês conhecem a ignorância dos braços de Carlitão?

domingo, 13 de janeiro de 2013

Solon - o galã


Solon - o galã


No início foi aquela confusão. Andaram acusando um e outro da turma. Na realidade, ninguém senão a própria vítima teve culpa.

- Olhe aqui, meu amigo, mulher só não vai com cobra porque não sabe distinguir o macho da fêmea - falou o pai de um dos rapazes, dando por encerrado o caso. O pai da moça que fosse lá tomar suas providências.

Certo que Solon era um tipão: alto, forte, olhos esverdeados e pele morena. Mas só mesmo uma assanhadinha como aquela moça para se meter com um cara que toda cidade sabia ser doente mental. O trabalho que dava a família era enorme. Muito comum na vizinhança se ouvirem os gritos de aflição da pobre mãe. Era um tal de “Solon! Pare, Solon!” que enchia toda uma manhã e tarde inteira.

- Solon! Oh, meu filho, deixe disso! Pare de enfiar esse dedo na tomada que você leva choque.

- Choque é bom, mãe?

- Não, meu filho. Choque pode até causar a morte - explicava a mãe com paciência.

- De onde vem o choque, hein, mãe?

- Solon, meu amorzinho, pare. Venha para o alpendre, venha.
Logo em seguida, via-se assomar à porta aquela figura boa pinta, em bons trajes, mas num jeitão engraçado do abobalhado que sempre fora.

Quando tudo parecia calmo, a mãe pedalando a máquina de costura, Solon saia de suas reflexões idiotas para, de maneira brusca, indagar:

- Mãe, oh mãe, onde mora Deus?

- Deus mora no céu, meu filho.

- Mãe, oh mãe, urubu vê Deus?

Fulminada pela idiotice do filho, já rapaz, dona Rita quase que se deixou espetar pela agulha da máquina de costura.

- Solon!!...

Até que surgiu aquela história do jipe. Visitas na sala, quando de lá veio Solon:

- Mãe, já pensou se pai fosse um jipe e a senhora uma jipa?  

- Solon!!..

- Eu seria um jipinho, né, mãe?

- Solon!!...

Depois do grito, vinha novamente a brandura de mãe:
- Meu filho, você já está crescidinho. Pare de fazer perguntas tolas - pedia, chorosa mas afagando com ternura o filho que Deus lhe dera.

Com o tempo, os pais de Solon entenderam que, apesar de tudo, ele era um rapaz e devia como tal sair da barra da saia da mãe. Procurar enturmar-se um pouco com as pessoas de sua geração. Quem sabe o desenvolvimento mental não melhorasse? Foi a partir daí que Solon passou a andar com a turma. Todos o tratavam com o devido cuidado, seguindo as recomendações da família preocupada.

Quem, no entanto, iria adivinhar aquele sucesso? Sempre que a turma freqüentava alguma festinha, lá vinham os suspiros femininos:

- Uau, que gato!

Sem a companhia dele não havia suspiro algum. De forma que a coisa foi-se ajeitando. Solon entrava com a beleza e o resto da turma com o papo. No final, cada um a um canto mordendo uma garota, e Solon, coitado, já entregue à família, são e salvo.

Bem que naquele dia houve um certo descuido. Contudo, não se pode falar em culpa de A ou B. Solon sentadinho com a garota (seria de outra cidade?), de conversas e beijinhos, só podia ser ficção científica. Parecia um artista de novela. Tinham-se esquecido de levá-lo mais cedo para casa, envolvidos que estavam no baile, e quando deram por isso já foi tarde.

A garota tinha achado o máximo. Toda conversa de Solon ela entendia como brincadeira das mais humoradas. Tudo chocante. E ficava de gritinhos ante o vozerio de Solon.

- De quem é esse dedinho?
- É seu, meu gato.

- Então vou pegar ele pra mim - disse Solon, prendendo o dedo mindinho da moça com sua mão direita.

- Pode pegar, meu gato.

- Então vou quebrar...

-  Quebra não, meu gato: ele é seu.

- Eu quebro...

Quando se viu foi o estalo. A moça deu um urro. Num rápido movimento, Solon - o galã, havia-lhe arrancado o dedo.






domingo, 6 de janeiro de 2013

CANTIGA DA REDESCOBERTA (III)


CANTIGA DA REDESCOBERTA  ( III )

  

nem as pétalas pedras palavras
arrancadas todas do aurélio
nem as que ainda hei de criar
e mais aquelas
assim soltas vagas de prenhez pelo ar
as que a gente pesca em dádiva
num achar
de mãos tocando o céu
num raro caro precipitar
de ouro mel

nem assim em combinação vária
vão ser suficientes
entes
gentes
para, sem armas, te dizer o que é indizível
que se mostra por si só
(latência nas coisas em volta)
quando a manhã,
sempre cúmplice,
se impõe
e nossos passaportes renova



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Bem como assim?


Bem como assim?

Uma das coisas boas da Bahia é que todo o mundo tem pelo menos um parente que mora em S. Paulo. Bom também para a terra dos Bandeirantes ter lá os seus baianos. Não ia ficar bem mandando buscar só italianos, japoneses, espanhóis e etc., para se tornar a potência que é. E olhe que nem precisou mandar vir buscar gente no Nordeste. Aqui mesmo a turma se ajeitou num caminhão velho e pronto. Num deles foi até um menino, desses que comiam terra, que adiante se tornaria presidente do Brasil.
Aliás, vale aqui o registro, devemos, em muito, por isso, agradecer aos imperadores D. Pedro I  e D. Pedro II, que cuidaram de diminuir o território da então província paulista, criando a do Paraná e ampliando a do Mato Grosso, pois que os paulistas, impulsionados pela força do café e da industrialização, como irmãos ricos, sempre ensaiaram briga por autonomia. E aí, já pensou?, para a gente chegar lá seria exigido passaporte.
Fui longe. Mas tudo isso porque me lembrei de um episódio, em que se deve ter certa atenção com relação a versão dos fatos. Zeduardo, fazia tempo, não via o pessoal de um seu tio-avô conhecido por Maciel.  Ele havia se mudado para S. Paulo com a família, papagaio, gato e cachorro, isso no início dos anos setenta, até que se bateu com Elvira, uma das filhas. Tinha chegado à Bahia para uma breve visita. Sabia que o velho não estava bem, mas Zeduardo, seguindo o costume, para começar a prosa, quis saber de todos:
- E o tio, Elvira?
- Ah, o velho tá bem, uma maravilha – rasgava-se em sorrisos.
- E a tia, parou mais de ir aos médicos?
- Ah, a mãe tá bem, uma maravilha – respondia com um sorriso que fazia luzir nos olhos a enormidade do otimismo.
- E os meninos, Elvira?
- Ah, os meninos tão bem, uma maravilha. O Zezinho teve aquele problema de separação mas tá bem. O Paulinho tá bem, ajuda pai nos negócios. O Juninho tá bem, trabalha numa grande empresa, ajuda todo mundo...
- Casou?
- Não, mas tá bonito, um cara legal. Ah – mantinha estampada a alegria –, o Juninho se candidatar a deputado estadual lá no bairro é capaz de ser eleito, de tão legal que é.
- E Mira, a caçula? saiu daqui pequenininha...
- Ah, a Mira – os olhos brilhavam –, a Mira tá linda que só vendo, uma maravilha.
Dias depois, Zeduardo encontrou com Lourinho, que de vez em quando ia a S. Paulo ver os pais que resolveram por lá ficar.
- Ah, Lourinho, encontrei com Elvira, rapaz. Me falou que tio Maciel tá até bem lá em S. Paulo.
- Bem como assim, hein, Zé? – estranhou Lourinho, mas com tranquilidade, retirando os óculos, como que pronto para dizer algo sério.
- Sei lá, ela falou que o pai tá bem...
Lourinho, terminando de limpar as lentes dos óculos com a fralda da camisa, ergueu o queixo:
- Quieta, Zé, meus pais moram lá perto. Como é que um homem que vive na cama e não conhece mais ninguém tá bem?
- É, pode ser por causa desse lado de ser tudo pra frente que eles têm, mas ela me falou que a tia parou mais de ir aos médicos e que tá bem.
Lourinho, no mesmo ritual:
- Bem como assim, Zé? A tia quebra qualquer plano de saúde com essa mania que ela tem de fazer exame.
- Disse que o Zezinho só teve o problema da separação mas que tá bem.
- Bem como assim, Zé? Qual a mulher que ia aguentar aquela cachaça de Zezinho?
Restavam os outros meninos. Mas Lourinho, pelo visto, enxergava um outro lado. Ainda sim, preferiu dar prosseguimento:
- E Paulinho, Louro?
- Que qui tem o Paulinho? – se aprontava para um resposta.
- Ajuda o velho nas cobranças dos aluguéis e tá bem, foi o que ela falou.
- Bem como assim, Zé? Paulinho ficou inutilizado no jogo e é só com isso que mexe.
- Ela falou também que o Juninho tá bem colocado na empresa, que é um cara legal e que se candidata a deputado estadual é capaz de ser eleito.
- Aí ela falou a verdade: Juninho é um cara gente boa, ajuda muita gente no bairro e, cá pra nós,  se ele candidatar, eu não digo a deputado, mas a vereador pode até ser eleito com tranquilidade.
- Ah, Louro, até que enfim...
- É, mas você tá sabendo, não é?
- De quê?
- Quieta, Zé, nada contra, mas Juninho é gay, pombas.
Ainda bem que, conforme ele havia dito, tio Maciel já não conhecia mais as pessoas.
- Falta Mira, que ela me disse que está muito bonita.
- Bonita não: linda – falou Lourinho sempre.  Mas você está sabendo, não é?
- Que porra é essa agora, Lourinho?
- Quieta, Zé, Mira virou garota de programa, cara.
Como se pode ver, bom que se tenha parente morando em S. Paulo, desde que não seja próximo a casa dos pais de Lourinho, que de vez em quando ele vai até lá em passeio.
                                                                       01.01.2013