Ela, após a aula, chegou até a
sala dos professores, a propósito de tirar alguma dúvida. Mas não havia dúvida;
havia certeza, desde quando fizera chamada nominal, quando a tinha visto num
entrecruzar de olhos. Que olhos os dela! Era só confirmação. Tanto que a
questão exposta ambos sabiam mero pretexto. Energia. Pura química. A
jovialidade latente e a busca da experiência de quem fala fácil e de coisas por
descobrir.
Apenas uma garota. E era a vida em
raios de ouro. Um encontro do que se iria completar em realização - um braço
que o retiraria em redescoberta da floresta dos homens.
Prontificara-se a escrever no
quadro o que o professor ditava, com letra bonita, que o professor confessava
não ter caligrafia. Os olhos, primeiro plano. A voz: “Professor”. O resto
nem se fala. Era um primeiro dia de aula. Um primeiro dia do que se tornaria
para sempre.
Fosse cinema, haveria um fundo musical. A
canção falaria por si só. Imagine agora somada à imagem. E ela: “Professor”.
E o professor, conforme preparação, tendo que manter aquele controle de classe.
À saída do colégio identificou-a
em meio a muitas outras garotas a caminho de casa com o caderninho junto ao
peito, e não era uma qualquer, se destacava - a menina dos olhos, e então
parou num bar, pediu uma bebida e, vendo-a passar ao longe, na outra margem da
rua, nesse momento, chorou. E choraria tempos depois.